12 jul, 2024 - 00:00 • Isabel Flores
Ano após ano,rankings escolares geram controvérsia, moda que vem dos anos 90 nos países anglo-saxónicos e que tem levantado muitas questões sobre a sua utilidade e propósito. Aparentemente gosta dos rankings quem fica bem classificado, e quem fica pior no filme tende a criticar e a desvalorizar. Os rankings, apesar do tratamento jornalístico ter melhorado muito desde o seu lançamento em 2002, continuam a ter fraca utilidade e exigir aperfeiçoamento por forma a oferecer uma visão mais completa e justa da qualidade do ensino.
Em Portugal este é o momento de marketing das escolas privadas, que surgem nos lugares cimeiros colocando-se aparentemente na vanguarda, mas sempre resguardados pelo falta de dados de contexto socioeconómico, o que impede reais comparações de desempenho. A ausência de dados socioeconómicos nos rankings distorce a comparação entre escolas, favorecendo as que se localizam em contextos mais privilegiados.
Estes rankings, em particular os do ensino secundário, avaliam o desempenho dos alunos que desejam ter um caminho académico, dado que desde a pandemia os exames deixaram de servir para terminar a escolaridade obrigatória, e funcionam unicamente como provas de acesso ao ensino superior. Este dado é importante pois avaliamos cerca de 50% dos alunos e unicamente nas suas melhores competências – os alunos fazem os exames nas temáticas onde irão prosseguir estudos.
Uma segunda fragilidade dos rankings prende-se com o número elevado de variáveis que não são medidas e que estão fora do controlo da escola, aliás emana destes rankings que a diferença entre escolas é baixa (o desvio padrão à média é apenas de 1 valor), sendo que a diferença dentro de cada escola é muito maior. Este facto remete para as diferenças entre alunos e não para as diferenças entre escolas, os pais não devem utilizar estes rankings como ponto de partida para a escolha de uma escola. Devem antes concentrar-se nas características dos seus educandos, muitos são os que decidem ingressar por escolas bem classificadas para depois embater no insucesso individual – mesmo nos colégios de médias elevadas surgem notas mínimas de 6.
Não quero com isto dizer que as escolas sejam todas iguais, pois existem algumas dignas de relevo – esta distinção advém do trabalho desenvolvido por escolas inseridas em meios desfavorecidos e que conseguem resultados acima do que seria expectável para o meio. O sucesso destas escolas tem três dimensões:
Estas dimensões tornam-se um bom indicador do trabalho desenvolvido no seio da escola, caso este padrão se mantenha por vários ciclos educativos. Esta visão longitudinal permite-nos anular os efeitos de alunos excecionais que podem emergir em determinado momento, permitindo isolar o efeito escola do efeito da capacidade individual.
Um pouco por todo o mundo geram-se controvérsias em torno dos rankings, pois estamos a comparar o incomparável. Muitos advogam que se deixe de publicar. Não concordo. Devemos publicar, mas melhorar a qualidade da publicação, garantindo a comparabilidade entre escolas:
Os rankings podem ser úteis se forem tratados com informação comparável. Uma lista indiferenciada é enganadora, não apoia a decisão dos pais e tem pouco interesse para as políticas públicas.
Isabel Flores, Investigadora em Educação, CIES-Iscte