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Évora acolhe primeiro Centro de Transição para Refugiados em Portugal

04 jun, 2019 - 12:59 • Rosário Silva

A passagem pelo centro com capacidade para 30 pessoas, “por um período que pode ir até aos três meses”, vai permitir-lhes “a aprendizagem da nossa cultura”, diz André Costa Jorge, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados.

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Com capacidade para três dezenas de pessoas, já está a funcionar aquele que é o primeiro Centro de Transição de Refugiados em Portugal. Fica em Évora, cidade com “as condições ideais para o acolhimento” e a “dimensão certa para que se sintam num espaço urbano com vida, com um ritmo calmo e onde não há a sensação de caos urbanístico”.

Quem o diz é André Costa Jorge, em declarações enviadas à Renascença pela arquidiocese de Évora. O novo Centro de Transição de Refugiados é um projeto do Serviço Jesuíta aos Refugiados – Portugal, (JRS – Jesuit Refugee Service), no âmbito da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados.

De acordo com o diretor-geral do JRS – Portugal, a passagem por esta estrutura de transição, “por um período que pode ir até aos três meses”, vai permitir aos refugiados “a aprendizagem da nossa cultura”, por um lado e, por outro, “ficamos com um perfil mais exato das pessoas”, antes de serem enviadas para uma instituição, em Portugal, onde permanecerão cerca de 18 meses.

“Tivemos aqui uma família durante um mês que depois foi reencaminhada para uma resposta de acolhimento no Porto. Aqui, aprenderam o básico do português e tiveram algum enquadramento no que toca à documentação, no fundo a parte burocrática, tendo seguido a sua vida”, exemplifica André Costa Jorge. “Esta solução é a que melhor se adequa e possibilita uma preparação do acolhimento e acreditamos que uma melhor integração na sociedade portuguesa. Não basta fazer o bem, é preciso fazer o bem, bem-feito”, acrescenta.

A Évora chegam refugiados provenientes dos campos de refugiados do Egito e da Turquia. Para os acolher neste novo centro foi criada uma equipa “composta por um quadro técnico, com dois professores de português, um técnico social, coordenação administrativa e logística, um psicólogo, para além de uma componente de segurança para que haja acompanhamento de proximidade”, destaca o diretor-geral do JRS – Portugal.

"Este acolhimento coloca Évora no mapa de uma das grandes questões da agenda internacional"

O também coordenador da PAR-Plataforma de Apoio aos Refugiados revela, ainda, que desde outubro de 2018 e através deste organismo, Portugal já acolheu “144 famílias em 92 instituições, o que representa perto de 700 pessoas, entre as quais quase 400 crianças”.

Um “desafio” à cidade e um apelo ao voluntariado

A criação deste centro de transição é, segundo André Costa Jorge, “um desafio para nós”, mas também para a própria cidade. “Évora tem um grau de cosmopolitismo e creio que este acolhimento também coloca a cidade no mapa de uma das grandes questões da agenda internacional”, adita.

“Gostaríamos que os eborenses, as entidades e forças locais, pudessem participar fazendo de Évora uma cidade aberta ao mundo e sensível aos que procuram o acolhimento, estando do lado dos direitos humanos e dos que mais sofrem”, apela o responsável.

Um apelo que convida ao voluntariado, numa cidade que tem “uma Igreja ativa”, convocando “desde leigos às pessoas interessadas em praticar o bem, independentemente da sua religião”.

“É normal que as pessoas, perante o desconhecido, tenham dúvidas e receios, medos de segurança, mas isso é muitas vezes alimentado por aquilo que nos chega da comunicação social. É um medo exacerbado e até tendencioso e alarmista. Tudo isso se esbate no contacto pessoal, percebendo que são pessoas como nós”, sublinha o coordenador da PAR.

“Penso que é possível combater essa hostilidade através da hospitalidade que tem uma expressão cristã. Creio que este encontro com o estranho é uma obrigação da Igreja, também ela migrante, peregrina. E a nossa prática começa aqui, mas está além”, frisa André Costa Jorge.

Igreja de Évora de “braços abertos” ao projeto dos Jesuítas

“A Arquidiocese de Évora saúda de braços abertos e coração fraterno esta decisão de implantar na nossa cidade um Serviço de Apoio aos Refugiados dos Jesuítas”, refere o arcebispo de Évora, D. Francisco José Senra Coelho.

“Gostava de dizer a toda a comunidade e sociedade eborense, que este Centro é um sinal que marca a nossa evolução civilizacional porque, não há dúvida, que a abertura às culturas diferentes, às outras religiões é um sinal de maturidade na tolerância e no respeito. E, muito mais, quando fazemos a defesa da vida humana, da família e da criança”, assegura o prelado.

Numa mensagem de boas vindas ao projeto, D. Francisco espera que “todos o saibamos merecer como sinal profético da Igreja, estando à altura dos desafios que nos serão colocados".
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