18 dez, 2018 - 16:59 • Tiago Palma
Shaima Swileh não está com o filho Abdulla desde outubro. Não esteve no último sábado, quando Abdulla passou o segundo aniversário internado num hospital universitário da Califórnia, nos EUA, onde a saúde vai sucumbindo a uma doença degenerativa. Os médicos do UCSF Benioff Children's Hospital garantem que o pequeno Abdulla não resistirá por muitos dias mais.
Está na Califórnia com o pai, Ali Hassan, que tal como Abdulla tem nacionalidade americana. Mas Shaima não tem. Vive no Cairo – onde se refugiou logo após o início da Guerra Civil no Iémen, em 2015 –, mas tem nacionalidade iemenita. E desde que Donald Trump chegou à presidência americana, as portas de entrada nos EUA fecharam-se (através da Ordem Executiva 13769 ou “Travel Ban”) para cidadãos de sete países de maioria muçulmana, entre os quais o Iémen.
O pai, Ali, ainda pensou regressar ao Cairo, para que Shaima se pudesse despedir de Abdulla, mas foi desaconselhado pelos médicos, que o avisaram que o filho dificilmente resistiria à viagem.
Para que Shaima viajasse até à Califórnia, seria necessário atribuir-lhe um “visto de exceção”, que é concedido pelo Departamento do Estado. Prontamente, o Conselho para as Relações entre a América e o Mundo árabe (CAIR) avançou com o pedido. Isto há um ano. Mas não obteve resposta. “Pedimos ao Departamento de Estado que conceda esta exceção, para permitir que Shaima, a mulher de um cidadão norte-americano, a mãe de um cidadão norte-americano, possa estar com o seu filho, fazer o luto com dignidade”, disse Basim Elkarra, do CAIR, citado pela Al Jazeera.
De acordo com o Departamento de Estado, os funcionários consulares podem conceder exceções à restrição de entrada em território americano quando “a emissão do visto é de interesse nacional”, o solicitante “não representa uma ameaça à segurança nacional”, ou, por último, “quando negação do visto causaria dificuldades indevidas".
Contactado na segunda-feira pela CNN, o Departamento de Estado, não comentando diretamente a situação de Shaima Swileh, prometeu “fazer todos os esforços para facilitar a viagem legitima de visitantes internacionais”.
Esta terça-feira, avança também aquela cadeia de televisão, o visto foi mesmo concedido a Shaima e esta pode já viajar do Cairo para a Califórnia, uma viagem de mais de 20 horas, para se despedir de Abdulla.
Na segunda-feira, e mesmo sem antecipar que o visto seria concedido, Ali Hassan fez, na CNN, um pedido emotivo a Donald Trump: “Todas as famílias devem estar reunidas. O meu filho está a morrer. Vou perdê-lo. E isto é muito duro. O tempo está a esgotar-se para ele [Abdulla]. Tudo o que Shaima pede é para ver o filho. Apenas queremos estar juntos.”