À procura de uma vida melhor. Quem são os migrantes da caravana a caminho dos EUA?

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19 nov, 2018 - 11:00 • Joana Bourgard com agências

Ao longo da última semana, pelo menos 5.000 pessoas chegaram à fronteira. Saíram das Honduras, Guatemala e El Salvador para fugir à pobreza e à violência.

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Uma caravana de pelo menos 5.000 migrantes concentra-se em Tijuana, no México, junto à fronteira com os Estados Unidos. O Governo federal mexicano calcula que o número total pode vir a ascender às 10 mil pessoas.

Uma ordem do Governo de Trump, que entrou em vigor sábado, exige que os migrantes façam obrigatoriamente um pedido de asilo em Tijuana, para terem alguma hipótese de entrar legalmente nos Estados Unidos.

São sobretudo migrantes das Honduras, El Salvador e Guatemala, três dos países mais violentos da América Latina. Fizeram mais de 4.000 quilómetros para chegar ao México, mas querem o "sonho americano".

El Salvador é o quarto país mais violento do mundo, com 60 assassinatos por cada 100 mil habitantes, em 2017. É também um dos países com mais atos de violência contra mulheres.

De acordo com o ACNUR, entre janeiro e outubro deste ano, mais de 18.000 pessoas provenientes da Guatemala já pediram asilo noutros países. Crianças desacompanhadas são o maior grupo de chegadas à fronteira com os EUA.

Em março, 41 meninas que se encontravam numa instituição do Estado morreram num incêndio, dentro de uma sala de aulas que estava trancada. As mortes revelaram a falta de condições que crianças órfãs ou abandonadas sobre diariamente na Guatemala.

Gravidez na adolescência é um problema grande na comunidade jovem guatemalense. O Observatório para a Saúde Sexual e Reprodutiva registou 69.445 nascimentos em jovens entre os 10 e os 19 anos.

Dos migrantes que estão a caminho dos Estados Unidos, cerca de 85% são das Honduras. Com 9,1 milhões de pessoas, a pobreza atinge 60% da população e 23% das crianças são subnutridas, atingido os 40% em alguns períodos, segundo dados das Nações Unidas.

De acordo com a Amnistia Internacional, as Honduras é um dos países do mundo mais perigoso para os defensores dos direitos humanos, sobretudo os que trabalham para defender a proteção da terra e do meio ambiente.

Mais de dois terços das famílias hondurenhas (72%) vivem da agricultura, quer como pequenos proprietários ou como trabalhadores em grandes explorações agrícolas de banana, café ou açúcar.

O país é extremamente vulnerável a fenómenos climáticos extremos com zonas a registarem longos períodos de seca, enquanto outras são anualmente sujeitas aos efeitos, quase sempre, devastadores de furacões e tempestades tropicais.

Em 2015, a escassez de chuva levou à perda de metade das colheitas, levando muitos hondurenhos a deixar o país rumo aos Estados Unidos e às perspetivas de um futuro melhor.

A organização Human Rights Whatch, no seu relatório de 2017, lembra que os níveis de insegurança e violência permanecem altos no país, com a "impunidade generalizada" a "minar a confiança" da população nas autoridades e no sistema de justiça.

A este cenário soma-se a crise política gerada pelas suspeitas de fraude nas eleições gerais de novembro, com protestos massivos em todo o país, reprimidos violentamente pelas forças de segurança e que resultaram em 31 mortos, vários feridos e dezenas de detenções arbitrárias.

A 6 de novembro, Donald Trump intitulou a caravana de migrantes como uma “invasão” à segurança nacional dos Estados Unidos e enviou 6.000 elementos do exército para a fronteira com o México.

O Presidente norte-americano tem vindo a bloquear os pedidos de asilo a quem chega de forma irregular ao país e ameaçou fechar totalmente as fronteiras para bloquear a entrada de qualquer imigrante.

Segundo a agência da ONU para os refugiados, entre janeiro e outubro, 14.735 hondurenhos procuraram asilo em outros países, a maioria no México e nos Estados Unidos, mas muito estão a regressar ao país voluntariamente ou forçados.

Globalmente, o ACNUR adianta que o número de centro-americanos que pediram asilo aumentou 58% em 2017 relativamente a 2016, ultrapassando as 294 mil pessoas.

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  • Lúcia Rubin
    19 nov, 2018 Fortaleza 13:30
    A forma como essa caravana segue me parece uma coisa orquestrada, usando pessoas humilde como nada de manobra.

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