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Nazaré

É aqui a maior onda do mundo?

12 nov, 2018 - 17:27 • José Carlos Silva

A pergunta preenche o dia-a-dia dos comerciantes da Nazaré há sete anos, sobretudo dos que estão mais perto da Praia do Norte.

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Sete anos depois de Garrett McNamara ter surfado a maior onda do mundo, disparada pelo canhão da Nazaré, os turistas, nacionais e internacionais, não arredam pé da vila.

A pergunta que todos disparam faz rir os comerciantes. "Julgam que a onda está lá sempre. Pensam que é logo ali ao pé da estátua", conta à Renascença Lurdes Matos, funcionária de uma loja de lembranças.

Para encontrar a onda é preciso fazer bem as contas e ter sorte para que as contas batam certo.

Foi uma boa ajuda Garrett McNamara ter aceitado o convite para ver o mar bravo da zona. António Nunes, comerciante nado e criado na Nazaré, sublinha que maior ajuda foi do Dino Casimiro. "A maior ajuda foi do jovem que comunicou por internet ao McNamara, na América, que havia esta onda e que ele a devia surfar."

Foi uma odisseia. Durante cinco anos, Dino, um bodyboarder, insistiu com o surfista McNamara para vir ver a onda. McNamara conta que viu a fotografia, mas que se não fosse a sua mulher a ver um dos e-mails, ele não estaria aqui. Garante por isso que "ela é 100% responsável" pelo momento registado há sete anos. "Ela viu um dos e-mails e perguntou-me se eu queria ir a Portugal. E eu disse que sim. Um mês depois tínhamos os bilhetes."

McNamara acha que as mulheres têm uma grande responsabilidade no seu destino. Confessa que isto é obra "das mulheres da Nazaré, tão fortes, tão bonitas por dentro e por fora".

Assim se explica parcialmente por que vai ficando por cá. Está apaixonado.

"Há aqui demasiado amor. Muito apoio. Eu volto para a minha casa no Hawai, eu vivo na praia, e tenho tudo, água quente no mar, e tenho os meus amigos... mas não há nada comparável com o amor e apoio que tenho por este país e o que sinto pelas pessoas. O amor que as pessoas me transmitem é muito grande. E isso é muito especial... é o melhor sentimento do mundo."

McNamara considera-se uma pessoa cheia de sorte. Todos os seus sonhos se concretizaram por cá. "Tive muita sorte por estar no sítio certo à hora certa. Foi estranho nunca ninguém ter descoberto isto. É mesmo muito estranho. E é estranho que outros grandes surfistas tenham vindo e olhado se tenham ido embora! Eles não viram o que eu vi, e não gastaram tempo nisto, e eu tive sorte por ter visto que havia ali qualquer coisa, e investi tempo nisso. O resto é história... é um sonho tornado realidade."

A estranheza de McNamara sustenta-se no facto de outros famosos surfistas não terem adivinhado o mar da Nazaré. Ele, pelo contrário, lembra-se bem do primeiro dia em que o olhou.

"No primeiro dia, o vento não estava bom, as ondas não eram boas, mas eram grandes... e eu... Tcharaaaam... e toda gente olhou para mim e disse... Nããããã... Kelly Slater, Ross Clarke-Jones, Mike Stewart... e a lista continua... os melhores do mundo nas ondas estiveram aqui 10 anos antes de mim, olharam e foram-se embora. Eu não percebo por que não ficaram. Mas estou muito feliz que não tenham ficado."

McNamara perdeu o recorde este ano, no mesmo mês em que nasceu a sua filha. Chama-se Theia... Theia Nazaré. O recorde, esse, foi para o brasileiro Rodrigo Coxa.

McNamara está pronto a voltar ao mar, não com o objetivo de recuperar o recorde mas para fazer o que mais gosta, surfar. E como é surfar uma onda com mais de 20 metros?

"Todas as ondas são diferentes... se é turbulenta é muito intensa, se é suave é linda e maravilhosa e tudo é perfeito... Mas se é turbulenta... A melhor maneira de visualizar é: imagine que está num carro de corridas, no fundo de uma montanha, e há uma avalanche de neve a vir na sua direção e desata a fugir da avalanche a toda a velocidade numa estrada cheia de buracos e suja, com o carro a fazer muito barulho, a tremer, tentando avançar mas ficando debaixo dela, sem ir muito longe... Com a avalanche a cair a toda a velocidade perto de si... Se puder imagine, e consegue, porque pode conduzir numa estrada esburacada e pode imaginar uma montanha a cair sobre si.. É isso que se sente ao surfar uma onda gigante."

É o melhor que se arranja como descrição. Mas se já deixa o coração a bater forte, agora imagine como será dentro de água.

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