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Gás em Portugal? Movimento de cidadãos defende “progresso inteligente”

12 nov, 2018 - 11:38

Há uma empresa australiana que quer averiguar a existência de gás natural na zona Centro. Governo diz que o processo ainda está numa fase “muito inicial”.

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Poços verticais, camiões e poças de água contaminadas. É este o cenário descrito por Cristina Gomes, de um dos movimentos de cidadãos que contestam a prospeção de gás em Portugal, se o processo avançar.

“A exploração de gás implica a contaminação de águas”, afirma à Renascença. Além disso, a zona Centro do país “é de rocha calcária, uma rocha extremamente maleável. O que é que irá em caso de sismos?”, questiona.

Cristina Gomes sublinha, por isso, que “não se trata de travar o progresso, trata-se de fazer progresso inteligente”.

“Hoje, quando falamos de alterações climáticas, quando temos o Acordo de Paris, quando sabemos que não podemos extrair mais, porque estamos em risco – o furacão Leslie afetou a zona Centro de uma forma extremamente grave – não faz sentido extrairmos mais combustíveis do subsolo e contribuir gravemente para as alterações climáticas”, alerta.

Cristina Gomes afirma ainda que, “no caso da zona Centro, estamos a falar de sondagem de gás que vai ser feita em pleno território – ou seja, vai estar à vista de toda a gente. E não são só as torres, são os camiões a passar, o fumo, as poças das águas contaminadas, etc”.

Os movimentos de cidadãos são uma reação às intenções de uma empresa australiana – a Australis – que pretende executar uma sondagem em Aljubarrota e em Pombal para saber da existência de gás natural.

A concessão da empresa em Portugal foi assinada a 30 de setembro de 2015 e indica que a Australis tem oito anos para fazer a prospeção na Bacia Lusitânica, nas regiões da Batalha e de Pombal.

A prospeção é feita através de poços verticais com mais de três quilómetros de profundidade, a partir dos quais será feito um desvio na horizontal, com um alcance de 300 a 700 metros de extensão.

As prospeções, segundo os estudos, serão de “carácter temporário e exploratório” e têm uma duração máxima aproximada de dez meses de trabalho de campo.

“E se houver gás? Como o vamos transportar? Vamos ter todo o nosso território escavado com gasodutos gigantes? Não me parece que alguém queira isto”, afirma Cristina Gomes.

Segundo o ministro do Ambiente, o processo está “ainda numa fase muito inicial”, sendo ainda necessário um estudo de impacto ambiental.

“Está a ser feita a consulta pública e depois dela haverá uma decisão e dessa decisão terá de haver um estudo de impacto ambiental, que voltará a ter uma consulta pública”, explica à Renascença. João Pedro Matos Fernandes considera, por isso, que só depois do último trimestre de 2019 poderá haver uma decisão sobre este assunto, pelo que é prematuro avançar qualquer ideia para já.

A Agência Portuguesa do Ambiente decidiu suspender, num primeiro momento, o processo, enquanto a empresa australiana detentora da licença não prestasse esclarecimentos sobre a localização exata dos furos, as medidas de salvaguarda ambiental e os planos de contingência previstos.

A consulta pública decorre até dia 27 de novembro.

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