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​Parada de Gonta rendida à internet. “Quem inventou isto e a máquina de lavar fez muitas coisas”

07 nov, 2018 - 20:13 • Liliana Carona

A aldeia do concelho de Tondela, com pouco mais de 700 habitantes, está a mais de 300 quilómetros da Web summit, mas nem por isso passa ao lado das oportunidades do novo mundo tecnológico.

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Reportagem de Liliana Carona em Parada de Gonta

Ao mesmo tempo que decorre em Lisboa mais uma edição da Web Summit, na aldeia de Parada de Gonta em pleno Interior do país, há quem esteja bem a par do que significam as novas tecnologias no dia-a-dia.

A aldeia do concelho de Tondela, distrito de Viseu, com pouco mais de 700 habitantes, está a mais de 300 quilómetros da maior conferência de tecnologia e inovação da Europa, mas nem por isso passa ao lado das oportunidades do novo mundo tecnológico.

“Vamos lá ver se a minha irmã está em casa, ela vive em França”, diz Maria Almeida, de 65 anos, enquanto pega no telemóvel, ainda agarrado à corrente.

Lídia Silva, 58 anos, está em Paris, foi avó há poucos dias e Maria vai conhecer o sobrinho-neto pela primeira vez através de uma videochamada por WhatsApp.

“Vira o menino para a câmara, mais para cima”, orienta Maria para a irmã do outro lado da chamada. Quando finalmente vê o bebé: “olha é tão bonito o menino, que lindos olhos tem. Tenho que comprar uma tablet para ver melhor as pessoas”, desabafa Maria, corrigindo a irmã para falar em português ao bebé: “fala-lhe em português, para não ser como a tua filha que só fala francês”.

Maria Almeida conheceu o sobrinho-neto pelo WhatsApp. Mas não é só por chamadas em vídeo nesta aplicação que Maria Almeida fala com quem está distante. O marido e o filho Daniel são camionistas nas rotas internacionais.

Maria vai sabendo do filho pelo mural do Facebook. “Olá filho”, digita, numa das muitas publicações de Daniel que, como resposta fez like, “neste boneco que eu coloquei com o dedo”.

Maria admite estar deslumbrada com as novas tecnologias. “Quem inventou isto e a máquina de lavar roupa fez muitas coisas. Passo a vida a responder-lhe e isto para mim foi um espetáculo, a melhor coisa que apareceu, em qualquer lado chamo socorro, encontrei amigas que não via há 50 anos, foi a melhor coisa que aprendi depois de velha, não sou especialista, mas desenrasco-me, está sempre a carregar toda a noite, para poder utilizar de dia”, comenta sobre a rotina que apelida de “catar piolhos”, estar sempre no ecrã a teclar.

Enquanto o telemóvel de Maria Almeida fica a carregar, encontramos num café em Parada de Gonta Fernando Marques, 72 anos, a jogar às cartas num tablet.

“O Solitário, o Spider… estou viciado. Em vez de vir para o café gastar dinheiro, fico em casa com a minha mulher”, conta à Renascença.

Entre um jogo e outro, há mais um email para ler e responder. “São mensagens privadas para a família, e recebo e-mails de coisas a que aderi como peças para automóveis”.

Regressamos à casa de Maria Almeida, que prepara um café também ele tecnológico. Coloca uma cápsula numa máquina e sai o café ao seu gosto. “Já não tem borras, não dá trabalho a escoar o café, sozinho faz-se, mais fácil e rápido, é como o telemóvel, cada vez estamos melhor”, considera.

Parada de Gonta pertence ao concelho de Tondela onde todos os anos o município promove um curso de iniciação à internet para os seniores.

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