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​Russos acusados de ciberataque a organismo que investiga uso de armas químicas

04 out, 2018 - 15:56 • Tiago Palma

Governos holandês e britânico dizem que serviço de informações militares russo estará por detrás de ataques cibernéticos em todo o mundo. Departamento da Justiça dos Estados Unidos junta-se ao rol de críticas e acusa sete espiões russos.

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Foi o próprio ministro holandês da Defesa, Ank Bijleveld, que o anunciou esta quinta-feira. Os serviços de inteligência do país conseguiram evitar um ciberataque à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), com sede em Haia, acusando Bijleveld a Rússia - e, nomeadamente, os serviços de informações militares russos - de estar por detrás do ataque.

Quatro agentes russos acabaram entretanto por ser expulsos da Holanda, anunciou Bijleveld, depois de terem sido intercetados, no estacionamento de um hotel junto à sede da OPAQ, no interior de uma veículo repleto de equipamentos eletrónicos com que realizaram o ataque informático.

Os quatro suspeitos tinham consigo passaportes diplomáticos.

“Habitualmente não divulgamos este tipo de operação de contraespionagem. Mas o Governo holandês considera extremamente preocupante o envolvimento destes agentes de inteligência [russos]”, afirmou o ministro holandês.

Está a cargo da Organização para a Proibição de Armas Químicas a investigação ao envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e da filha, Yulia, no dia 4 de março, em Salisbury, Inglaterra, com recurso a um poderoso agente neurotóxico: o Novitchok. É também esta organização que investiga a utilização de armas químicas em Douma, na Síria, num ataque a 7 de abril levado a cabo pelas forças de Bashar al-Assad e os seus aliados russos.

Também esta quinta-feira, em comunicado, o Governo britânico veio afirmar que os serviços de informações militares russos orquestraram uma campanha indiscriminada e imprudente de ataques cibernéticos contra instituições políticas, desportivas e empresas de comunicação social em todo o mundo.

Em Bruxelas, antes de entrar para uma cimeira da NATO, o ministro britânico da Defesa, Gavin Williamson, classificou mesmo a Rússia de "Estado pária".

"O que estamos a fazer, agindo com os nossos aliados, é expor o facto de que essas são ações de um Estado que está a agir de maneira imprudente e indiscriminada. Essas não são as ações de uma grande potência; são as ações de um estado pária. Vamos continuar a trabalhar com os nossos aliados para isolá-los e fazê-los entender que não podem continuar a comportar-se desta maneira", afirmou Williamson.

O Kremlin já reagiu às várias acusações. Num comunicado, o Governo de Vladimir Putin refutou-as.

Trump-Putin. Lua de Mel… Lua de Fel?

Apesar da aproximação dos últimos meses entre a Casa Branca e o Kremlin – Donald Trump e Vladimir Putin encontraram-se a 16 de julho em Helsínquia –, parece haver agora um novo foco de tensão (ou dois) na agenda diplomática destes dois países.

O secretário da Defesa norte-americano, Jim Mattis, considerou esta quinta-feira ser "insustentável" o desenvolvimento pela Rússia de mísseis que violam o tratado nuclear de 1987. Mattis afirmou que, se isso não mudar, os Estados Unidos terão de igualar essa capacidade.

Na última quarta-feira, a NATO acusou a Rússia de desenvolver mísseis compatíveis com ogivas nucleares, o que viola o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio.

Mattis, que falava à imprensa à saída de uma reunião de ministros da Defesa da NATO, em Bruxelas, disse que os Estados Unidos estão a avaliar as suas opções diplomáticas e militares.

"A Rússia tem de regressar ao cumprimento do tratado ou os Estados Unidos vão igualar a sua capacidade para proteger os seus interesses e da NATO. A situação atual, com a Rússia em flagrante violação deste tratado, é insustentável", alertou o secretário da Defesa norte-americano.

Os Estados Unidos afirmam desde há dois anos que o sistema de mísseis russo 9M729 viola o o tratado nuclear assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, tratado que proíbe todos os mísseis de alcance intermédio.

Moscovo sempre negou que o sistema viole o pacto.

Entretanto, o Departamento da Justiça dos Estados Unidos também acusou sete espiões russos de um ciberataque a empresas de controlo anti-dopagem, com a intenção de anular a divulgação do escândalo de doping na Rússia.

"Entre os objectivos da conspiração estava a divulgação de informação roubada, como parte de uma campanha de influência desenhada para anular e deslegitimar os esforços das organizações internacionais antidoping", aponta o Departamento da Justiça, em comunicado publicado esta quinta-feira.

Recorde-se que equipa olímpica da Rússia não participou nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, na Coreia do Sul, depois de um escândalo (que abrangeu centenas de atletas russos) revelar que análises antidopagem eram manipuladas em cerca de 30 desportos diferentes.

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