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Sínodo sobre os jovens

Um sínodo para dar à Igreja um “rosto mais jovem”, diz D. António Augusto Azevedo

02 out, 2018 - 17:05 • Henrique Cunha

“Tornar a Igreja mais jovem não acontece de outra forma que não seja com a presença dos jovens”, diz o bispo auxiliar do Porto, que estará na reunião que começa na quarta-feira, em Roma.

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O bispo D. António Augusto Azevedo, auxiliar no Porto, é um dos bispos portugueses que estará presente no Sínodo sobre os jovens, que começa na quarta-feira, em Roma.

Nesta entrevista à Renascença, D. António Augusto Azevedo fala de algumas das questões prementes que preocupam a Igreja Católica nesta área.

O que espera deste sínodo?

O sínodo, que vai entrar na sua fase propriamente de realização, vai ser trabalhar e refletir a realidade que os jovens manifestaram e que, nos vários países, os responsáveis pelo seu acompanhamento refletiram para que a partir dessa realidade a Igreja pense, de forma ponderada e aprofundada, sobre o modo de a Igreja ajudar e acompanhar esta geração de jovens do nosso tempo. E dessa forma também, dando-lhes esse protagonismo, a Igreja poder ter um rosto mais jovem. Porque o rosto mais jovem da Igreja não se faz, não acontece, não é possível, de outra forma, que não seja com a presença dos jovens que são uma parte significativa da Igreja.

O tema do sínodo incorpora uma preocupação com as vocações?

Pois de facto a formulação, o modo como o Papa Francisco propôs a temática deste sínodo é muito sugestiva, porque coloca a questão dos jovens no centro, mas os jovens na dimensão da fé.

Quer dizer: a questão fundamental é como é que esta geração de hoje vive, descobre, e testemunha a fé. Evidentemente com uma ligação umbilical com a questão da vocação. É uma questão de grande preocupação para a Igreja que, no entanto, não se pode desligar dos dois elementos primeiros, isto é: a vocação é uma questão que se coloca fortemente na idade jovem, a idade das decisões e a vocação no sentido cristão que não está desligada da questão da fé.

Um dos grandes problemas dos nossos dias é o do abandono da Igreja no final do percurso catequético. O sínodo também irá tentar responder a esta questão?

Os jovens são um quarto da humanidade. Há países com uma população fortemente jovem, eu diria numa proporção de 30%. E há países, como o nosso, com população muito mais envelhecida em que a percentagem dos jovens não chega aos 20%.

E de facto, na nossa situação em concreto, sendo menos jovens também há de algum modo, um certo – não direi afastamento – mas direi, genericamente alguma desafeição pela prática cristã. Concretamente, naqueles que fizeram uma iniciação cristã, nomeadamente no percurso catequético que a Igreja propõe, de facto há algumas dificuldades na continuidade. Assim como há hoje um problema mais vasto que é a dificuldade da transmissão da fé aos mais jovens.

O Sínodo vai-se debruçar sobre isso, ou seja, vai ser necessário rever alguns dos nossos métodos, alguns dos nossos processos para que de facto correspondam mais a esta geração de jovens que importa não esquecer é uma geração que já nasceu neste milénio. É a geração dos chamados nativos digitais. É a geração que já nasceu e que vive muita ligada às redes sociais, com outra linguagem. De facto, terá que haver uma adaptação, um esforço de corresponder a esta geração para que essa transmissão da fé se processe, mas necessariamente também contando com a participação deles. Isto é, o papel deles será certamente indispensável para que isso aconteça.

As redes sociais são um desafio, uma oportunidade e ao mesmo tempo um problema. Concorda?

Sim, sem dúvida. Estamos num mundo que evolui muito depressa. Há aqui desde logo uma inversão: noutros tempos um jovem desejava rapidamente ser adulto; hoje os adultos desejam ser jovens. Há aqui uma inversão de lógicas culturais que têm imensas consequências. Agora, de facto, quanto a esta cultura digital representa muitas oportunidades, tem muito conhecimento ao seu dispor.

É um grande apoio, é um grande instrumento, é uma grande ferramenta. Porém tem também os seus riscos de isolamento, de relações humanas mais frágeis e mais marcadas pela aparência. Portanto, há aqui uma grande oportunidade, alguns riscos com certeza, mas em termos pastorais a Igreja não pode passar ao lado disto. Há que ponderar os valores, os contravalores e pensar no que fazer para passar a mensagem do evangelho nestes meios e com esta geração.

Mas o ruído, ou mesmo o barulho que agride os nossos ouvidos de forma continua, é fator perturbador?

Sim, as redes sociais, e este mundo digital, merecem de facto alguma reflexão. E uma reflexão e perspetiva feita pelos jovens pode dar-nos um grande apoio.

Outra será a reflexão feita pelos adultos. É importante dialogar um pouco sobre isso. Uma questão importante e sobre o qual o sínodo, nos seus documentos, reflete é a questão da verdade. Isto é, estamos na sociedade da pós-verdade com uma visão mais superficial das coisas, ou então noticias, palavras mensagens que não correspondem exatamente à verdade. Ora, o homem por natureza, como ser relacionado, é aquele que busca a verdade.

Outra questão também é a questão das aparências. Portanto, o criar-se um mundo ideal, um mundo de ilusão, um mundo de aparências, quando de facto a verdade da pessoa, as vivências da pessoa e os sentimentos das pessoas podem estar um pouco à margem disso. Portanto é uma reflexão ainda muito no inicio.

Esses aspetos entroncam em dois apelos que o Papa Francisco tem feito repetidamente aos jovens de forma muito positiva e esperançosa que é por um lado um apelo a eles serem protagonistas, não só na Igreja, mas na própria sociedade. E, portanto, não se acomodarem. Mas também é importante que sejam capazes de perceber que nas redes sociais de facto há valores que importa não perder, como é esse da verdade. Muitas vezes com uma palavra, com um boato, com uma ligeireza atingem-se consequências nefastas. E por outro lado, também, a reunião de sensibilidades de forma muito imediata para responderem a necessidade primárias.

Tudo isto envolve uma questão importante que é a do primarismo, ou seja, é importante também criar alguma distância que permita algum juízo critico, alguma sabedoria e alguma reflexão. A fé é uma instância que ajuda a isso. Estamos de facto num tempo novo em que me parece importante este apelo do Papa em ordem ao Sínodo: os jovens são de facto exigentes e esperam sobretudo que a Igreja seja mais transparente, mais próxima, mais acolhedora, uma Igreja também mais alegre. Eu estou convencido e espero que a reflexão deste sínodo, e a reflexão proposta a estes jovens e à Igreja toda – e este é um aspeto muito importante – seja uma reflexão que redunde em ações concretas, numa conversão pastoral de estruturas e de meio, e há muitos. Mas que se direcionem mais para esta juventude, para estes objetivos que são da Igreja para estes jovens.

Será que os jovens participantes poderão trazer para a discussão alguns dos temas que mais preocupam a Igreja, como a questão dos abusos, por exemplo?

Os jovens já apontaram quer numa fase inicial na auscultação aos jovens de todo o mundo, quer na altura da Páscoa quando se realizou o encontro pré-sinodal, muitas questões práticas para se discutir no encontro e já deram as suas próprias opiniões. Agora, os participantes no sínodo irão trabalhar a partir daí e a partir dessas questões que preocupam a Igreja no seu seio e certamente que exigirão algumas respostas concretas. Mas também eu diria de forma mais alargada algumas questões que são do mundo de hoje mais globais e para as quais este Papa e a Igreja têm chamado a atenção. Vou só dar um exemplo muito concreto, quando falamos de emigração estamos a falar basicamente de jovens. Se nós virmos os barcos que chegam ao mediterrâneo com emigrantes são na sua maioria esmagadora jovens. Por outro lado, quando falamos hoje das questões do emprego, falamos em temas que dizem respeito na sua imensa maioria aos jovens e também podemos dizer que os problemas da família. Portanto, problemáticas da Igreja, mas também do mundo de hoje que certamente passarão pelo sínodo.

Ou seja, é necessário que os jovens “não olhem a vida da varanda”, como sugeriu o Papa Francisco?

Isso é um excelente resumo, um excelente apelo daquilo que deve ser a perspetiva. Para a Igreja em concreto e para o mundo em geral é muito importante que esta geração que, de facto, vive imersa nesta cultura, que tem imensos meios, instrumentos e capacidades, imensas ofertas, saiba fazer as suas escolhas, que saiba aproveitar estas oportunidades para deixar a sua marca. É importante que essa marca se verifique na vida da Igreja, e também é importante que essa marque se verifique na vida do mundo, e ela só acontecerá quando não deixarem para outros, essas mesmas escolhas.

E hoje de facto, há no mundo grupos, interesses que tentam condicionar, levar os jovens para aquilo que são os seus interesses. é importante que os jovens tenham esta capacidade de pensar, de refletir e de decidir. A igreja, como é seu papel – à imagem de Jesus – é companheira de caminho. A Igreja é família onde eles também se sentirão uma parte importante, uma parte decisiva.

Comentários
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  • Petervlg
    03 out, 2018 Trofa 11:54
    Como católico, mas cada vez mais tristes, com esta igreja, mesmo com o Papa Francisco, no inicio a cativar, mas agora... a única coisa que eu pediria, é sinceridade.

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