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Morreu Helena Almeida, "umas das maiores artistas portuguesas do século XX"

26 set, 2018 - 15:12

Autora de uma obra multifacetada, sobretudo na área da fotografia, Helena Almeida tornou-se uma figura destacada no panorama artístico português contemporâneo.

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A artista plástica Helena Almeida, de 84 anos, morreu esta quarta-feira, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da galeria que a representava, a Galeria Filomena Soares. O curador Pedro Lapa diz que Helena Almeida é "umas das maiores artistas portugueses do século XX", responsável por um "trabalho ímpar" nas chamadas neovanguardas.

Nascida em Lisboa, em 1934, Helena Almeida criou, a partir dos anos 1960, uma obra multifacetada, sobretudo na área da fotografia, tornando-se uma figura destacada no panorama artístico português contemporâneo.

A exposição "O Outro Casal. Helena Almeida e Artur Rosa", sobre a obra de Helena Almeida, centrada nos registos em que aparece com o marido, também artista, Artur Rosa, esteve patente desde junho ao passado dia 9, na Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva, em Lisboa.

Em Madrid foi inaugurada a mostra "Dentro de mim", de Helena Almeida, no passado dia 20, na galeria madrilena Helga de Alvear.

As fotografias de Helena Almeida, com formação em pintura, foram sempre registadas pelo marido, o arquiteto e escultor Artur Rosa, também nascido em Lisboa, em 1926.

Sobre o facto de Artur Rosa ter fotografado praticamente todos os seus trabalhos, Helena Almeida explicou, um dia, numa entrevista à curadora Isabel Carlos: "É sempre ele. Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projetei".

"E como tal, tem que ser alguém próximo de mim. Mas antes faço sempre desenhos das situações que quero fotografar. Aliás, a partir da década de 80 passo a usar o vídeo para experimentar, porque um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa. Então, ensaio primeiro com a câmara [...]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma ação", acrescenta.

O lugar físico de que fala, o ateliê, é o espaço onde cresceu, e já era o ateliê do pai, o escultor Leopoldo de Almeida, autor, entre outras obras, do conjunto escultórico do Padrão dos Descobrimentos, e uma das figuras mais proeminentes da estatuária das décadas de 1940 e 1950 em Portugal.

Helena Almeida, "mais do que criar obras especificamente para um lugar ou um sítio, parece antes afirmar que o lugar é o atelier e o atelier é o seu mundo. Daí que as fotografias tenham que ser tiradas no sítio onde o trabalho se desenvolveu e registadas por alguém do seu círculo, por alguém da sua intimidade", segundo o museu Vieira da Silva, a propósito da exposição no Museu Vieira da Silva.

O processo quase sempre se inicia pelo desenho: Helena Almeida desenhava primeiro as posições, os movimentos em que o seu corpo será registado e, depois, em sessões a dois, faz-se fotografar por Artur Rosa. Mas por vezes Artur Rosa também entrava na imagem.

Na obra de Helena Almeida, a primeira vez que surge a imagem do casal é em 1979, na obra "Ouve-me", uma sequência de oito fotografias a preto e branco, ao modo de um 'storyboard', em que o rosto dos dois artistas surge frente a frente.

A partir de 2006, o casal começa a surgir representado de um modo mais permanente.

Helena Almeida nasceu em Lisboa em 1934, cidade onde vivia e trabalhava, e estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, começando a expor individualmente em 1967, na Galeria Buchholz.

A artista representou Portugal na Bienal de Veneza por duas ocasiões: em 1982 e em 2005, e em 2004, participou na Bienal de Sidney.

Nos últimos anos, a sua obra tem sido exibida no âmbito de exposições individuais e coletivas em museus e galerias nacionais e internacionais.

Em 2015, apresentou uma exposição individual itinerante Corpus na Fundação de Serralves (2015), em Paris (2016), em Bruxelas (2016) e Valência (2017).

Em 2017, apresentou igualmente uma exposição individual "Work is never finished" no Art Institute, em Chicago.

A sua obra está presente em coleções portuguesas e internacionais como: Coleção Berardo, Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Fundação Serralves, Porto; Centro de Artes Visuales, Fundación Helga de Alvear, Cáceres; Fundación ARCO, Madrid; Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio; MEIAC - Museo Extremeno e Iberoamericano de Arte Contemporáneo, Badajoz; Museu de Arte Contemporânea de Barcelona; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid; MUDAM - Musée d'Art Moderne Grand-Duc Jean, Luxemburgo; Tate Modern, Londres.

Marcelo recorda "artista ímpar, inconfundível e profundamente original"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recorda Helena Almeida como uma "artista ímpar", "inconfundível e profundamente original", que "influenciou tantas gerações de artistas portugueses e internacionais".

Numa mensagem divulgada no site da Presidência da República, o chefe de Estado partilha ter recebido "com grande pesar" a notícia do falecimento de Helena Almeida, "uma artista justamente reconhecida em todo o mundo".

Marcelo Rebelo de Sousa lembra que a artista, "filha do escultor Leopoldo de Almeida, dedicou toda a vida à sua vocação artística, não como uma obrigação, mas como um desígnio".

"Um talento inevitável, portanto, que influenciou tantas gerações de artistas portugueses e internacionais", lê-se na mensagem.

O ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, “lamenta profundamente a morte de Helena Almeida”.

Castro Mendes diz, em comunicado, que o mundo das artes perde uma “consagrada artista plástica, nacional e internacionalmente”.

“Helena Almeida soube romper com os limites físicos da pintura, confinada à tela, emprestando-lhe uma densidade que transgredia as fronteiras rígidas desse espaço altamente simbólico”, sublinha o ministro.

Para o curador Pedro Lapa, Helena Almeida é "umas das maiores artistas portugueses do século XX".

"É sem dúvida uma das maiores artistas portuguesas do século XX", afirmou Pedro Lapa, em declarações à Lusa, destacando o "trabalho ímpar" de Helena Almeida, "num contexto da situação daquilo que hoje se designa de neovanguardas - um conjunto de artistas que nas décadas e 1960/70/80 reviram muito do legado das vanguardas artísticas das vanguardas históricas, e procuraram redefinir os caminhos dessa mesma vanguarda".

[notícia atualizada às 19h26]

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