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Fogos. Especialistas chilenos acreditam que Portugal tem de melhorar no combate estratégico

20 set, 2018 - 14:36 • João Carlos Malta

Uso de ferramentas e abertura de faixas, num ataque seco ao fogo, pode ser alternativa mais frequente ao uso de água no primeiro combate às chamas.

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A avaliação do combate aos fogos em Portugal é muito boa, mas a missão de sete especialistas chilenos que esteve em território nacional durante um mês acredita que o combate estratégico, aquele que ocorre depois do primeiro ataque às chamas, tem espaço para melhorar.

“O esquema de trabalho e os meios e as técnicas que se usam são apropriados. O que Força Especial de Bombeiros faz é o que nós fazemos no Chile. Não há grande diferença”, afirma Juan Barrientos, que percorreu o país de norte a sul.

É já a terceira vez que está em trabalho, em Portugal, e é o chefe da missão chilena que trabalhou com a brigada da GNR que mais trabalho de sapadores florestais realiza − os GIPS − e com a Força Especial de Bombeiros.

“O que temos de analisar e projetar no futuro é a estratégia do ataque ampliado”, argumenta.

A vinda deste grupo de especialistas latino-americanos ocorreu ao abrigo de um plano elaborado pelo Governo para o combate aos fogos, que passa pela partilha de experiências com elementos de corporações de outros países.

Juan, engenheiro na Corporação Florestal Nacional do Chile, afirma que um dos pontos mais abordado na interação com os homólogos portugueses, foi o recurso mais efetivo das ferramentas.

“No Chile, o combate é feito em primeira instância com a construção de corta fogos e faixas com a ajuda de ferramentas, mas também de motosserras, mais do que com a água”, identifica o líder do grupo que esteve em Portugal entre 10 de agosto e 10 de setembro.

Para Barrientos, esta prática podia ser “replicada por Portugal em alguns sectores, sobretudo nos fogos florestais”.

As diferenças

A experiência em Portugal deu para perceber diferenças no ataque aos fogos entre Portugal e o Chile.

Juan Barrientos, com 27 anos de experiência no terreno, afirma que não vieram para ensinar, mas para partilhar saber.

“Há uma diferença muito importante, o primeiro ataque às chamas em Portugal é feito com viaturas com água, porque têm uma rede viária muito boa. Nós fazemos o trabalho sobretudo com ferramentas manuais e construção de faixas”, diferencia.

Mas o engenheiro florestal diz que as condições são muito distintas nos dois países.

“O sistema português é muito bom quando há água e quando há caminhos. Em geral isso acontece sempre. Mas nós quisemos mostrar outra forma de atuar, porque há zonas mais florestais e mais longe da estrada em que o nosso método pode ajudar”, defende.

Uso de químicos

Em Monchique, no último grande incêndio em território nacional, o uso de químicos no ataque ao fogo causou polémica. A Autoridade Nacional da Proteção Civil confirmou que os helicópteros não usaram químicos retardantes contra as chamas.

Mas Juan Barrientos acredita que o uso deste material pode fazer a diferença.

“Há duas linhas de produtos químicos, uma de espuma que faz com que a água aumente o volume e que ajuda a que haja mais eficiência. Mas o que gostamos são os químicos retardantes, um produto que se lança das viaturas terrestres ou das aeronaves. Quando o fogo lá chega, há o retardar da ignição e serve para atrasar o incêndio”, identifica.

Para o chefe de missão chilena em Portugal, o combate aos fogos em Portugal é muito bom. São as estatísticas que o revelam, quando os números dizem que 97% dos incêndios são dominados antes de atingirem um hectare.

Mas quando existe um conjunto de fatores favoráveis à propagação das chamas, o controlo torna-se muito difícil. O especialista diz que mesmo com todos os meios técnicos e humanos do mundo torna-se difícil evitar que durem uma semana, como o que aconteceu no Algarve.

“Sim, isso pode acontecer. Aconteceu no Chile em 2017, e tivemos muitos meios, foi um incêndio gigante, em que contámos com o apoio de Portugal inclusivamente. Tínhamos muitos homens no combate e o fogo durou bastante”, identifica.

Como mudar?

O especialista acredita que os recursos técnicos e humanos no combate aos fogos em Portugal estão ajustados, mas que nada se pode fazer se o número de ocorrências continuar a aumentar (em média 20 mil por ano).

A solução que Juan Barrientos apresenta pode ser de aplicação lenta, mas garante que é eficaz.

“No Chile conseguimos regular as queimas e as queimadas florestais. Temos um sistema legal muito restrito, e que funcionou, os tribunais aplicam penas pesadas aos prevaricadores”, sublinha.

No Chile, a educação ambiental é muito boa, e como resultado há uma boa consciência ecológica.

“Os que antes queimavam o lixo e os ramos, agora não o fazem. A população censura quem usa mal o fogo”, remata.

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