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Tsipras assume responsabilidade política pelos fogos na Grécia

27 jul, 2018 - 18:26

A pressão política pelo incêndio que matou pelo menos 87 pessoas nos arredores de Atenas está a aumentar.

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O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, assumiu a responsabilidade política esta sexta-feira pelo incêndio que matou pelo menos 87 pessoas e do qual ainda há muitos desaparecidos. O Governo está a ser acusado pela oposição de não ter protegido a vida dos gregos.

Os oponentes de Tsipras começaram a ofensiva política esta sexta-feira, quando os três dias de luto terminaram, acusando o Governo de não pedir desculpas pelo desastre.

"Assumo total responsabilidade política por esta tragédia em frente à minha equipa e ao povo grego", disse o primeiro-ministro numa declaração ao país.

"Não vou esconder que estou assolado por sentimentos mistos como a dor e devastação pelas vidas humanas inesperadamente e injustamente perdidas. Mas também pela angústia de saber se agimos corretamente em tudo o que fizemos."

Em declarações à Renascença, o jornalista grego Nicolau Hidiroglou fala da contradição entre as declarações de Tsipras e as do ministro do Interior, que ontem disse que tudo tinha corrido bem no ataque aos fogos e na proteção às pessoas.

Nicolau Hidiroglou acredita, no entanto, que esta atitude não indicia que Tsipras se vá demitir. “Não tem intenção nenhuma de fazer isso”, relata. “A opinião pública está muito zangada e o núcleo político dele está a fazer a proteção da sua imagem. Ele ainda não visitou o local da tragédia”, defendeu, acusando o primeiro-ministro de estar apenas preocupado com a imagem pessoal.

A contrição de Tsipras vem depois de o principal partido da oposição, a Nova Democracia, criticar o Governo por não ter pedido de desculpas.

O ministro da Administração Interna, Nikos Toskas, disse quinta-feira que existem "indícios sérios" de fogo posto.

Os sobreviventes de uma das piores tragédias gregas de que há memória, que atingiu a cidade de Mati, a cerca de 30 quilómetros a leste de Atenas na segunda-feira, confrontaram o Governo de Tsipras, dizendo que foram deixados sozinhos para se defenderem.

A pressão está a aumentar no Governo de coligação, que está atrás da Nova Democracia nas sondagens, numa altura em que esperava finalmente tirar a Grécia dos anos de resgates causados pela crise e colher os benefícios políticos.

Tsipras enfrenta agora questões sobre como tantos ficaram presos no fogo, já que o número de mortos pode aumentar ainda mais.

O primeiro-ministro não tinha sido visto em público desde terça-feira, quando declarou os três dias de luto nacional pelos mortos.

A crítica política está a refletir a raiva entre os sobreviventes. "Deixaram-nos sozinhos para arder como ratos", disse Chryssa, uma das sobreviventes em Mati, à televisão Skai.

"Ninguém veio aqui para pedir desculpas, para apresentar a demissão, ninguém", disse a mesma fonte

O ministro da Administração Interna anunciou ter apresentado a sua demissão, mas Tsipras rejeitou-a.

Fofi Gennimata, que lidera o Partido Socialista do PASOK, na oposição, considera que o Governo tem uma enorme responsabilidade política.

"Eles não protegeram as pessoas implementando a tempo o plano disponível para uma evacuação organizada e coordenada nas áreas que foram ameaçadas" argumentou.

Dez mil euros para as famílias

O Governo anunciou uma longa lista de medidas de apoio, incluindo um pagamento único de 10 mil euros para famílias das vítimas. Aos familiares directos e parentes próximos também foram oferecidos empregos no setor público.

No entanto, muitos sentiram que isso não foi suficiente para aliviar a dor e queriam que as autoridades assumissem a responsabilidade pela escala da devastação.

Cerca de 300 bombeiros e voluntários ainda estão a fazer buscas na área esta sexta-feira procurando os que ainda estão desaparecidos. Mais de 500 casas foram destruídas pelo incêndio.

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  • Helena Matos
    28 jul, 2018 Coimbra 13:27
    Ó homem, o tiro foi ao lado. Tsipras é líder do Syrisa, um partido congénere do BE cá do burgo e por isso se arroga de esquerda (embora como governante tenha encetado uma políitica mais centrista ou quase de direita). O q acontece é que ainda tem vergonha na cara e, por isso, ao contrário de Costa e dos seus amigalhaços e apoiantes perante as tragédias de Junho e Outubro de 2017, percebeu q tinha de assumir a responsabilidade política pelas falhas no controlo dos acontecimentos recentes na Grécia. Uma "pequena" diferença que define o caráter de um e de outros. Uns assumem os erros e as falhas, outros sacodem a água do capote.
  • Anónimo
    27 jul, 2018 20:06
    É a primeira vez que vejo alguém da direita radical a admitir responsabilidade por uma tragédia. Cá em Portugal ninguém o faz, quer na direita radical (PSD e CDS) quer na direita moderada (PS).

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