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Entrevista

“Pluralismo é um desafio também para os ismaelis”

11 jul, 2018 - 17:42

Numa altura em que milhares de seguidores do Aga Khan estão reunidos em Lisboa para celebrar os 60 anos da sua liderança da comunidade religiosa, Faranaz Keshavjee elogia a multiculturalidade portuguesa, mas diz que é preciso ir mais longe.

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Encontram-se atualmente em Lisboa milhares de membros da comunidade ismaelita, para participar nas celebrações dos 60 anos da liderança do Aga Khan, o chefe desta comunidade muçulmana, conhecido pelos seus fiéis como o “Imam do Tempo”.

Recentemente o Aga Khan chegou a um acordo com o Governo português que lhe permite implantar em Lisboa o seu Imamato, ou a sede do seu poder. Poder esse que é de primeira ordem espiritual – enquanto líder religioso de uma comunidade com mais de uma dezena de milhões de seguidores – mas que é também económico e social, uma vez que o Aga Khan é dos homens mais ricos do mundo e lidera uma rede de organizações caritativas com uma grande influência nas sociedades em que operam.

A investigadora Faranaz Keshavjee, que pertence à comunidade portuguesa, explica que as instituições geridas pela Rede Para o Desenvolvimento Aga Khan, presente em dezenas de países e representada em Portugal pela Fundação Aga Khan, investem precisamente na melhoria das condições gerais da população, e não apenas das comunidades ismaelitas. “A Rede para o Desenvolvimento não contempla necessariamente os ismaelitas, contempla as sociedades onde as comunidades ismaelitas estão integradas. Por exemplo, para a comunidade ismaeli o Imam tem orientações e tem um percurso junto da própria comunidade e da liderança que ele próprio estabelece, portanto para esse efeito ele já tem algo a operar.”

Pluralismo em Lisboa

Quanto às celebrações que atualmente decorrem em Lisboa, Keshavjee realça a sua dimensão global. “Em Portugal e na Europa os membros da comunidade são todos de características sub-asiáticas, e é muito engraçado olhar à volta e ver gente que é muito diferente de nós, que fala línguas diferentes, que faz as suas danças, que são culturalmente muito diferentes das outras. Os iranianos, os sírios, os afegãos, os tajiques, os chineses, todos muito diferentes uns dos outros mas tendo em comum a crença na liderança do Imam do Tempo, neste momento representado pelo Príncipe Shah Karim al-Hussaini Aga Khan IV.”

Os Ismaelitas são uma fação do islão xiita, já de si minoritário no mundo muçulmano, que acredita que a liderança religiosa passou de Maomé para o seu genro e daí, sucessivamente, por sucessão dinástica, até ao atual Aga Khan.

A escolha de Portugal para acolher o Imamato faz todo o sentido, explica Faranaz Keshavjee. “Portugal tem, ao contrário de muitos outros países que são laicos e seculares, uma capacidade de integrar e reconhecer as estruturas de fé. E permitir não só que elas tenham liberdade de expressão, como inclusivamente possam ter um papel interventivo e ativo para o melhoramento das condições sociais da população em geral”, diz.

A forma como Portugal acolhe e integra as diferentes comunidades religiosas e étnicas é também uma característica salientada por Faranaz Keshavjee, embora neste caso ela sinta que seja possível ir mais longe. “O pluralismo não significa ai que giro, somos todos diferentes. O pluralismo significa que temos de, em conjunto, nesta diversidade, com a diferença, construir algo”, diz.

E nesse sentido, considera a investigadora, o reforço do pluralismo é também um desafio a colocar internamente à comunidade ismaelita. “Ainda é complicado dentro da comunidade ismaelita, lidar com esta questão de pluralismo conforme ela é apresentada pelo próprio Imam. Porque a diversidade existe, mas ainda não é operacional. Não há muitas mulheres a intervir neste processo, não há pessoas de diferentes culturas a intervir no processo, portanto há algum trabalho a fazer dentro da comunidade”, conclui.

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