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Rangel acusa Chega de ter "dupla voz" em Portugal e na Europa

08 mai, 2024 - 16:49 • Lusa

"É o prestígio de Portugal que está em causa", adverte o Ministro dos Negócios Estrangeiros.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros acusou esta quarta-feira o Chega de ter "uma dupla voz" em Portugal e na Europa e de ameaçar "o prestígio" português, depois de deputados do partido se afirmarem como europeístas e críticos do Presidente russo.

"Os senhores têm uma voz em Bruxelas e têm outra aqui em Portugal porque têm vergonha de dizer o que defendem lá fora", afirmou Paulo Rangel, dirigindo-se aos deputados do Chega durante uma audição na comissão parlamentar de Assuntos Europeus que hoje decorreu na Assembleia da República.

O Chega, que desde 2020 está filiado no grupo de extrema-direita europeu Identidade e Democracia (ID), coloca-se "ao lado de pessoas que condenam a Ucrânia, que são a favor de [Vladimir] Putin".

Depois de nomear o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), a política francesa Marine Le Pen e o seu partido União Nacional ou o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini (Liga), todos membros do ID, Paulo Rangel disse: "Vejo o vosso líder [André Ventura] ao lado deles todo contente, nunca denunciou isso, e depois aqui, como sabem que a opinião pública portuguesa nunca aceitará isso, procuram dizer que têm outra posição".

Na sua intervenção durante a comissão, o deputado do Chega António Pinto Pereira referiu-se à "guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia" e ao Presidente russo, Vladimir Putin, como "esse ditador megalómano que tem o desígnio militar de conquistar a Europa por força das armas".

Já o seu colega de bancada Pedro Correia afirmou: "Para que conste, o Chega é um partido europeísta (...) e defende maior identidade dos seus Estados".

O mesmo deputado garantiu que o partido não é contra a imigração nem os imigrantes, "reconhece a importância dos imigrantes em alguns setores", mas "defende a dignidade humana" e opõe-se a uma "imigração sem controlo".

"Estou a chamar a atenção para a contradição insanável, porque não pode estar aqui a dizer isto e, depois, no Parlamento Europeu, estar ao lado daqueles que defendem o regime de Putin, e que até defendem o fim da União Europeia (UE). Portanto, não venha dizer que é europeísta, porque senão "diz-me com quem andas dir-te-ei quem és", é um velho ditado português, já que gosta tanto da identidade portuguesa", respondeu Rangel.

"Os senhores têm de se credibilizar, esse discurso não é credível", disse o ministro, para quem Portugal fica "numa posição muito difícil, quando há um partido que tem 50 deputados e que está ao lado da Rússia".

"Isto é visto por toda a União Europeia. Não tenho dúvidas sobre isso. Os senhores estão preocupados com as traições à pátria, cuidado. É o prestígio de Portugal que está em causa", advertiu.

A posição do ministro foi secundada pela Iniciativa Liberal, com o deputado Bernardo Blanco a afirmar-se "surpreendido com esta mudança de posição em relação ao regime russo", enquanto Rui Tavares, do Livre, recordou que o cabeça de lista do Chega às eleições europeias de 9 de junho, António Tânger Corrêa, "considerava que a atitude firme de [Presidente ucraniano, Volodymyr] Zelensky na defesa da integralidade da soberania ucraniana era reflexo de decisões, cito, irrefletidas, idiotas e perigosas".

Na "defesa da honra do partido", o deputado Pinto Pereira acusou o ministro de "demagogia" e "deselegância".

"Ainda não temos deputados no Parlamento Europeu, imagino que vamos ter tantos quanto o PSD [atualmente seis] ou eventualmente mais. Não temos qualquer posição de subserviência perante qualquer família política", disse o deputado do Chega.

"Somos um Estado soberano e democrático. Portugal não é refém da Europa. Este parlamento é um órgão de soberania popular e representamos aqui os portugueses, em Lisboa e não em Bruxelas", afirmou ainda.

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