18 jan, 2018 - 16:27
O bispo de Little Rock, no Arkansas, recusou participar na marcha pró-vida que vai decorrer na sua diocese, em protesto contra o facto de a oradora principal do evento, a procuradora-geral do Estado, ser defensora da pena de morte.
Todos os anos decorrem marchas pró-vida durante a segunda quinzena de Janeiro, em vários pontos dos Estados Unidos, para assinalar a decisão do Supremo Tribunal no caso Roe vs. Wade, que levou a legalização do aborto a nível nacional, em 1973. O evento principal ocorre em Washington, onde centenas de milhares de pessoas caminham em defesa da vida e contra o aborto. Este ano Donald Trump, que se define agora como sendo pró-vida, apesar de há vários anos se ter assumido como “fortemente pró-escolha”, vai dirigir-se aos manifestantes na capital.
A hierarquia católica americana associa-se frequentemente a estas caminhadas, mas este ano em Little Rock vai ser diferente. Numa carta enviada aos seus fiéis, o bispo Anthony B. Taylor disse que a escolha de uma oradora pró-pena de morte não é compatível com uma ética pró-vida.
“Este ano não participarei na Marcha pela Vida, como tenho feito em anos anteriores. A razão é que a Arkansas Right to Life escolheu como oradora principal uma pessoa que tem boas credenciais anti-aborto, mas que noutros sentidos não é uma escolha apropriada”, explicou o bispo.
Segundo o bispo, a procuradora-geral Leslie Rutledge “trabalhou incansavelmente ao longo do ano passado para garantir que seriam executados quatro criminosos que já não apresentavam qualquer risco à sociedade”.
A diocese, explica Anthony Taylor, participou activamente nesse debate, apelando a que a pena de morte fosse comutada, mas Rutledge opôs-se sempre a esses pedidos.
O bispo diz que pediu aos organizadores para procurarem outra oradora, mas estes recusaram. Taylor deixa claro aos católicos da sua diocese, contudo, que têm toda a liberdade de participar na caminhada se assim desejarem, dizendo que compreende que alguns optem por marchar e sair antes dos discursos.
“Como sabem, a Igreja ensina uma ética de vida consistente, em que a vida e a dignidade humana devem ser protegidos desde o primeiro momento da concepção até à morte natural e em cada fase intermediária. Isto significa, entre outras coisas, que toda a vida goza de dignidade inerente, concedida por Deus. Mesmo os condenados à morte gozam desta dignidade e é por isso que a pena capital deve ser abolida”, afirma o bispo na sua carta.
Apesar de o bispo não participar na caminhada, a diocese promove uma série de outros eventos pró-vida, incluindo uma missa especial na catedral. “Obrigado por compreenderem, e espero ver tantos quanto possível na catedral, no domingo, para rezarmos pelo fim do aborto nesta nação e para que toda a vida humana seja protegida, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural”, diz Taylor na sua carta.