12 dez, 2017 - 22:16
A Comunidade Israelita de Lisboa assinala na quarta-feira, dia 13, de forma pública, a festividade do hanucá, ou a festa das luzes, com uma cerimónia pública no Parque Eduardo VII.
Durante a cerimónia, aberta a todos, acender-se-á a segunda luz da menorá, o candelabro de nove braços que se tornou um dos símbolos da resistência dos judeus à assimilação.
A data remonta à época em que Jerusalém estava ocupada por forças selêucidas, de cultura helénica, que tinham profanado o templo e proibido o culto judaico, impondo aos judeus que fizessem sacrifícios a Zeus. Os judeus revoltaram-se e expulsaram os ocupantes. O templo foi novamente purificado mas quando se procurou azeite puro para manter acesa a menorá que devia arder toda a noite, todas as noites, apenas foi encontrado azeite suficiente para manter as velas acesas uma só noite. Por milagre, contudo, o azeite acabaria por chegar para manter as velas acesas durante oito noites, até que chegou mais.
“É como ter apenas 10% de bateria no telemóvel, mas ele funcionar durante oito dias”, explica Ruben Obadia, responsável pela comunicação da CIL.
No calendário judaico o hanucá não é das festas mais importantes, mas ao longo das últimas décadas acabou por beneficiar do facto de se celebrar sempre perto da altura do Natal cristão, explica Ruben Obadia. “Não é realmente uma das festividades mais importantes do calendário judaico, existem outras como o yom kippur, o rosh hashannah e o pesach [páscoa], essas serão as festividades principais. Esta acaba por ser icónica, por se celebrar no mesmo mês do Natal e de alguma forma no mundo ocidental tem vindo a divulgar-se bastante, mas quase como resposta ao Natal, porque até ao início do século passado não tinha este simbolismo tão grande.”
Sendo o hanucá uma festa que assinala a luta dos judeus contra a assimilação cultural, tem um significado particular para uma comunidade como a portuguesa, explica Ruben Obadia. “Em Portiugal somos uma comunidade muito, muito, muito pequena e há uma grande dificuldade em manter a herança e preservar estas tradições. Isso passa pela comida, é muito difícil nós conseguirmos comer comida kosher, não há um restaurante em Lisboa, viver a vida em comunidade, ter uma escola judaica, casar no seio da sua própria comunidade… É bastante complicado”, reconhece.
Apesar das dificuldades, porém, o passado enche os judeus portugueses de esperança. “É uma luta, mas os judeus já sobreviveram a desafios bem maiores do que este e não é agora vivemos em liberdade que vamos deixar que uma coisa dessas nos aconteça.”
“O povo judaico sempre soube responder a esses desafios, por isso estou certo que a comunidade em Portugal vai continuar a florescer, até porque Portugal oferece condições fantásticas, não só a nível de segurança, como a nível da tolerância”, conclui.