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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Os liberais em Portugal

28 out, 2022 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A defesa do mercado é importante numa sociedade que tão pouco o valoriza. Mas defender o mercado também implica uma clara consciência dos seus limites.

A Iniciativa Liberal (IL), partido nascido em 2017, vai mudar pela terceira vez o seu líder. Habitualmente não comento a política partidária portuguesa, mas abro uma exceção para a IL.

Acontece que Portugal é, provavelmente, o país menos liberal da Europa. Afirmo-o há muitos anos. Daí as dificuldades e a importância de um partido assumidamente liberal.

A história política do nosso país mostra-nos uma sucessão de grupos políticos, de esquerda e de direita, que visaram ocupar o Estado para beneficiarem pessoas e empresas, desprezando o mercado. A secular tendência nacional para viver à sombra do Estado é uma demissão que deve ser combatida.

O regime de direita radical derrubado pelo 25 de Abril destacou-se, na área económica, pelo chamado condicionamento industrial, segundo o qual importava travar a concorrência que poderia resultar de mais uma empresa entrar no mercado do sector da indústria.

Lutar contra o receio do mercado e da concorrência é, segundo creio, uma justa bandeira da IL. O que implica toda uma pedagogia, a partir de casos concretos.

Ora as palavras de Cotrim de Figueiredo, o ainda líder da IL, dizendo que o partido precisa de uma postura mais combativa e mais popular suscitaram-me alguma preocupação.

Julgo não ser ideia de Cotrim de Figueiredo tornar o seu partido mais populista, aproximando-o do Chega. Nem fazer da IL um partido dos ricos, dos que “vencem na vida”.

Mas na luta partidária é fácil cair na tentação do populismo, que rende mais em termos de popularidade.

Ora, a IL já tem um grupo parlamentar com oito deputados, o que lhe permite uma razoável intervenção no debate político nacional. Deve aspirar a aumentar o seu número de deputados sem recurso ao populismo.

A defesa do mercado é importante numa sociedade que tão pouco o valoriza. Mas defender o mercado também implica uma clara consciência dos seus limites.

É algo em que o professor Adriano Moreira, por exemplo, sempre insistiu; daí, talvez, as reservas que encontrou na direita. Os limites do mercado são também um ponto importante na doutrina social da Igreja, tão pouco cultivada por muitos católicos.

Não pretendo converter a IL à doutrina social da Igreja.

Apenas espero da sua intervenção política uma defesa séria do papel do mercado, sem esquecer os seus limites e imperativos sociais como o combate à pobreza.

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