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“Autor do quarto Evangelho é definido pelo amor que recebe de Jesus”

23 nov, 2012 • Filipe d’Avillez

Frei Bernardo Correia d’Almeida fala do Evangelho de São João e do seu livro, no qual descasca e interpreta esta obra para benefício do leitor comum.  

Está à venda nas livrarias “A Vida Numa Palavra”, que é essencialmente uma leitura acompanhada e explicada do Evangelho de São João.

Ao longo da obra o franciscano Bernardo Correia d’Almeida ajuda o leitor a compreender o que significam as passagens e histórias do quarto Evangelho. Por exemplo, não é por acaso que nessa obra a vida pública de Jesus começa com um casamento.

“Não é por acaso. Por um lado importa dizer que o Quarto Evangelho nasce da morte e ressurreição de Jesus, desse momento principal, em que o autor é gerado. O Evangelho nasce do fim, começa com um “happy end” que é um casamento, que é consumado nesse momento da morte e ressurreição de Jesus na cruz.”

Outro exemplo, a história do paralítico junto à piscina de Siloé, que estava há 38 anos à espera que alguém o ajudasse a entrar nas águas. Um número com grande simbolismo: “De facto há uma tradição em Deuteronómio 2,14 que diz que o Povo de Deus andou 38 anos no Deserto às aranhas. Imagina-se ir a pé de Lisboa a Fátima e que isso demorava 38 anos. Foi o que lhes aconteceu, andaram 38 anos completamente perdidos, desorientados, sem referência, no deserto, sem terra, sem nada. É o que representa esse paralítico, mais profundamente falando.”

E há ainda o caso da Samaritana a quem Jesus acusa de já ter tido cinco maridos e do actual não ser legítimo. O Frei Bernardo encontra aqui uma crítica a modos de vida desconformes com a vontade de Deus, mas também uma alusão ao facto de os samaritanos terem tido vários falsos ídolos a par do Deus verdadeiro, mais precisamente cinco. “Por detrás da Samaritana há a história desse povo e está também um dado interessante, Jesus acaba por ser o sétimo marido. A plenitude, a aliança, a verdadeira água vida que encontra em Jesus, que vem estabelecer a aliança do povo, da mulher, da esposa, com Deus, que é o Esposo e o Senhor.”

A autoria do Evangelho é disputada. Apesar de se dizer de São João é quase certo que não tenha sido o apóstolo a escrevê-lo. Durante o texto só se faz referência ao discípulo amado e este, explica o frei Bernardo, independentemente de quem seja, tem uma função específica

“Seguramente terá sido uma comunidade que terá tido influência do apóstolo, e por isso dedicada a essa origem. Mas creio que mais importante do que entrarmos neste tipo de reflexão, que nos afasta do texto, é talvez de nos dedicarmos ao texto e ao que nos diz. Esta ideia do discípulo amado é genial, porque ele é definido pelo amor que recebe de Jesus, não sabemos quem ele é, o que é muito interessante.”

De resto, acrescenta o sacerdote especialista em estudos bíblicos, a função do “discípulo amado” passa sempre por apontar a Jesus, algo que faz consistentemente mesmo com São Pedro. “Quando vão ao sepulcro o discípulo amado corre mais depressa, mas não entra. Atrás dele vem o Pedro, mas quem entra primeiro é Pedro, porque o discípulo amado não entra, quer guiar Pedro. No capítulo XXI Jesus aparece, só o discípulo amado é que o vê, diz que é o senhor, e Pedro atira-se ao mar para nadar em direcção a ele”.

A Vida Numa Palavra é uma edição da Universidade Católica do Porto