Hans Kung acusa Papa de ser cismático por causa de acordo com tradicionalistas
24 mai, 2012
O teólogo, que está proibido pelo Vaticano de ensinar teologia católica, acusa Bento XVI de se ter afastado do “Povo de Deus”.
O teólogo suíço Hans Kung, uma das principais vozes do Catolicismo progressista, disse hoje que Bento XVI corre o risco de se tornar cismático se prosseguir com o seu plano de reintegrar na Igreja os tradicionalistas da Sociedade de São Pio X.
Num texto publicado num jornal alemão, o Sudwest Press, Kung refere-se aos tradicionalistas, que recusam certas reformas do Concílio Vaticano II, de serem “ultra-conservadores, anti-democráticos e anti-semitas” e considera que uma eventual reconciliação afastará Bento XVI “ainda mais do Povo de Deus”.
Em vez de se preocupar com os tradicionalistas, Bento XVI devia “preocupar-se com a maioria de católicos reformistas”. O Papa devia ainda reconciliar-se com as “Igrejas da reforma e o movimento ecuménico”, diz Kung, referindo-se às Igrejas protestantes.
O teólogo suíço, que está proibido de ensinar teologia católica mas continua a poder exercer o sacerdócio, justifica o eventual “cisma” de Bento XVI com a lei da Igreja e cita o teólogo espanhol Francisco Suárez, do século XVII, que escreveu que: “Até o Papa se pode tornar cismático, caso não guarde a unidade e a comunhão” da Igreja.
No seu texto, Kung diz ainda que as ordens dos padres e bispos da Sociedade de São Pio X são inválidas.
O texto de Hans Kung foi escrito no seguimento de um encontro bienal de católicos na Alemanha. Hans Kung refere que o espírito vivido no encontro foi de “ressentimento e frustração pelo atraso na implementação de reformas na Igreja”.
Aos 84 anos Hans Kung continua a ser uma das vozes mais críticas da Igreja institucional e do Papa Bento XVI. Kung considera que as reformas do Concílio Vaticano II nunca chegaram a ser inteiramente implementadas.
Mais recentemente Kung apoiou a medida de algumas centenas de padres austríacos que assinaram um “Apelo à Desobediência”, reivindicando reformas como a ordenação de mulheres, o acesso livre à comunhão para qualquer baptizado e a ordenação de homens casados, entre outros.
Ao longo dos anos o teólogo suíço já recebeu diversas distinções, incluindo o “Prémio de Cultura da Maçonaria Alemã”, em 2007.