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A "grande liberdade" que é ser freira

27 abr, 2015 • Matilde Torres Pereira

São oito entrevistas com sete freiras portuguesas e uma albanesa a viver em Portugal. No livro "Que fazes aí fechada?", o jornalista da Renascença Filipe d'Avillez quer desmistificar os conceitos em torno da vida de freira.

A "grande liberdade" que é ser freira

"Que faz uma rapariga como tu num sítio como este?". A pergunta serve de título para um livro espanhol que reúne um conjunto de entrevistas com freiras, mulheres que decidiram dedicar-se a Jesus. O jornalista da Renascença Filipe d'Avillez pegou na ideia e transformou-a, adaptando-a para a situação portuguesa, e o resultado é um livro chamado "Que fazes aí fechada?", da Aletheia Editores, lançado esta segunda-feira, no Convento dos Cardaes, em Lisboa.

Filipe d'Avillez conta como surgiu o projecto. "Foi uma proposta. Recebi um telefonema da Zita Seabra, que me falou de um livro que existe já no mercado espanhol. E o conceito é muito engraçado. Um livro de entrevistas não é a coisa mais original do mundo, mas este tem por objectivo o desmistificar uma série de preconceitos que existem à volta da vida consagrada feminina", conta o autor.

"Aceitei e, a partir daí, foi cerca de um ano de trabalho de campo, a tentar conciliar entre a família e o trabalho. Decidimos fazer com freiras, com sete freiras portuguesas e com uma albanesa a viver em Portugal", acrescenta.

Sobre as entrevistas que o marcaram mais, Filipe d'Avillez conta que "todas tiveram, pelo menos, um ou outro momento. Nós entramos sempre nestas entrevistas em que não conhecemos a pessoa a pensar, 'bem, se calhar isto vai ser uma monumental chatice e esta pessoa não tem história nenhuma para contar'. Mas todas elas acabaram por ter momentos em que nós percebemos que toda a entrevista vale a pena".

Houve, claro, algumas mais fortes que outras. Um caso muito procurado pelo autor prendia-se com o trabalho que a Congregação das Irmãs Adoradoras faz em Coimbra, a Irmã Martinha. "Não procurei especificamente a irmã Martinha. Escrevi para a superiora e disse que estava à procura de uma freira relativamente nova, para fazer um livro para desmistificar. Disse: ‘Eu sei que vocês fazem um trabalho no terreno com prostitutas e é uma área que gostava muito de explorar'”.

"Responderam-me logo: 'Quem você quer é a irmã Martinha'. Foi uma entrevista fortíssima, porque é um trabalho extraordinariamente difícil que elas fazem", acrescenta.

"Se há secção da sociedade que é quase 'legitimamente' desprezada", continua Filipe d'Avillez, "que as pessoas não têm qualquer medo em desprezar e de ter preconceitos, são as prostitutas. São as periferias de que o Papa Francisco tanto fala, e estas mulheres estão lá no meio delas a tentar resgatá-las".

Liberdade
Da conversa com freiras Filipe d'Avillez destaca a "grande liberdade" que emana delas, "que é uma coisa que faz confusão às pessoas".

"O nome do livro vem daí, embora, de todas as freiras com quem falei, só duas estão em clausura. As outras estão muito no mundo. E eu perguntei às que estavam fechadas: 'Sente-se livre?'. Houve uma, a irmã Lúcia, na entrevista que abre o livro, que disse de forma muito engraçada 'Ah, eu estou perfeitamente livre. As chaves estão do lado de dentro'".

A dedicatória do livro é feita para as duas filhas do autor e para as suas duas afilhadas. Uma sugestão para forma como gostava que encarassem a vida vocacional? "O que eu quero, para todos os meus filhos, neste caso para as raparigas, porque é um livro sobre vocações femininas, é que sintam que esta é uma possibilidade", explica.

"Mas, mais importante que isto, é que sejam amigas de Jesus. Numa linguagem mais infantil, falamos da amizade, mas que nós queremos que se transforme numa paixão, numa relação de amor com Jesus", descreve Filipe d'Avillez.

"E o que digo, depois, na minha introdução, também é isso, que todas estas histórias são histórias de amor", continua. "Eu noto imensos paralelos com a relação com a minha história pessoal de amor com a minha mulher. Senti-me privilegiadíssimo por poder ter conhecimento destas histórias e por elas as terem partilhado comigo."