O museu e memorial do Holocausto em Jerusalém, Yad Vashem, anunciou que vai nomear mais um português para a sua lista dos “justos entre as nações”, que designa pessoas não judaicas que tenham contribuído para salvar judeus durante a perseguição nazi.
O padre Joaquim Carreira, que à época era vice-reitor e depois reitor do Colégio Português em Roma, vai tornar-se assim o quarto português a merecer esta distinção. A informação é veiculada em primeira mão
pelo blogue Religionline, do jornalista António Marujo, que teve acesso à decisão do Yad Vashem.
Durante a ocupação de Roma pelos nazis o padre Joaquim Carreira escondeu várias pessoas no edifício do colégio, correndo para isso graves riscos. Entre os fugitivos encontravam-se pessoas procuradas pelo regime nazi da Alemanha e fascista de Itália, mas também pelo menos três judeus que assim conseguiram evitar serem deportados para campos de concentração.
O padre Carreira deixou muito clara, na altura, a sua motivação, ao ter escrito no relatório de actividade do colégio: “Concedi asilo e hospitalidade no colégio a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas”.
O museu Yad Vashem. Foto: DR
Como edifício pertencente à Santa Sé, o Colégio Português não podia ser invadido nem revistado pelos nazis, mas isso não impediu os soldados de o tentar fazer pelo menos numa ocasião, precisamente à procura de refugiados. A tentativa saiu frustrada, uma vez que todos se conseguiram esconder, mas o susto foi o suficiente para que os três judeus, Elio, Roberto e Isacco Cittone, todos da mesma família, procurassem outro local para se refugiar.
Anos mais tarde, o mais novo deles, Elio, não deixou de referir que devia a sua vida à acção do padre Carreira: “Estou-lhe muito grato e recordo sempre o facto de ele me ter salvo a vida”, afirmou, em declarações reproduzidas no Religionline.
O padre Carreira junta-se assim a Aristides Sousa Mendes, o mais famoso português da lista dos “justos entre as nações” distinguidos pelo Yad Vashem. Os outros dois são Carlos Sampayo Garrido, embaixador na Hungria, que ajudou a salvar mil judeus e José Brito Mendes, um operário residente em França, e que salvou uma menina judia.
A decisão do Yad Vashem foi tomada com base em documentação surgida recentemente incluindo um trabalho de investigação levado a cabo pelo jornalista António Marujo, que na altura trabalhava no "Público", e que agora publicou a notícia no Religionline, com o qual colabora.
O jornalista mostra-se assim duplamente satisfeito: "Obviamente há um lado pessoal de contentamento, por ter, com a ajuda de outras pessoas, ajudada à divulgação desta história e à pesquisa do facto de ele ter acolhido refugiados e concretamente judeus no Colégio Pontifício Português. Mas é sobretudo importante pelo reconheicmento de uma figura que pelos testemunhos que existem, era alguém de coração muito bondoso, capaz de acolher pessoas, como ele dizia, que eram perseguidas com base em leis injustas e desumanas."
Para António Marujo a história do padre Joaquim Carreira tem lições para os dias de hoje: "Essa dimensão de alguém que independentemente da circunstância política ou religiosa das pessoas foi capaz de acolher os outros em nome da dignidade humana, tão menosprezada nesses tempos, ainda hoje me parece um excelente exemplo para tantas situações que vemos hoje em dia, de pessoas espezinhadas em nome da grande finança, de situações políticas menos claras, como por exemplo se passa com os cristãos perseguidos em tantos países", considera.
[Notícia actualizada às 17h19]