07 jul, 2014 • Filipe d’Avillez
O Papa Francisco voltou a comparar os abusos sexuais de menores, praticados por membros do clero, a sacrilégio, dizendo que representam uma verdadeira “profanação” da imagem de Deus.
“É como um culto sacrílego, porque estes meninos e meninas foram confiados ao carisma sacerdotal para serem conduzidos a Deus. E aquelas pessoas sacrificaram-nas ao ídolo da sua própria concupiscência. Profanam a própria imagem de Deus, na qual fomos criados", disse Francisco às seis vítimas de abusos sexuais praticados no seio da Igreja, que esta segunda-feira de manhã se encontraram no Vaticano.
O Papa celebrou uma missa privada para os três homens e três mulheres e, depois, encontrou-se durante 30 minutos com cada um em privado.
Durante a sua homilia, referiu várias vezes a necessidade de a Igreja se deixar prender pelo olhar de Jesus e chorar os seus pecados, partindo da passagem dos Evangelhos em que São Pedro vê Cristo, maltratado pelos romanos, e chora, depois de o ter negado.
"Esta cena vem-me à mente quando olho para vós e penso em tantos homens e mulheres, rapazes e raparigas. Sinto o olhar de Jesus e peço a graça das lágrima, a graça de a Igreja poder chorar e fazer reparação pelos seus filhos e filhas que traíram a sua missão, que abusaram de pessoas inocentes", disse logo no começo da homilia.
O Papa pediu perdão várias vezes em nome da Igreja, pelos actos em si, mas também pela forma como, em muitas situações, foram encobertos, “camuflados com uma cumplicidade que não tem explicação”.
“Diante de Deus e do seu povo, expresso o meu pesar pelos pecados e graves crimes de abuso sexual cometido por clérigos contra vós. Humildemente peço perdão. Peço perdão ainda pelo pecado de omissão por parte de líderes da Igreja que não responderam de forma adequada a relatos de abusos apresentados por familiares e pelas próprias vítimas. Isto conduziu a um sofrimento ainda maior por parte dos que foram abusados e colocou em perigo outros jovens que estavam em situação de risco.”
A coragem das vítimas
O Papa também dissipou qualquer dúvida sobre o facto de algumas vítimas terem denunciado publicamente os crimes sofridos: “A coragem que vós, e outros, revelaram ao falar publicamente e contar a verdade, foi um serviço de amor, uma vez que lançou luz sobre uma escuridão terrível na vida da Igreja”.
Elencando as muitas consequências dos abusos, incluindo a dependência de substâncias, o desespero, as dificuldades em manter relações de proximidade e mesmo o suicídio, Francisco foi claro: “A morte destes filhos tão amados de Deus pesam no coração e na consciência do Papa e de toda a Igreja”.
Por fim, comprometeu-se, novamente, a fazer os possíveis para eliminar da Igreja a cultura dos abusos sexuais: “Não há lugar no ministério da Igreja para quem comete estes abusos e comprometo-me a não tolerar os males cometidos contra menores por qualquer pessoa, seja padre ou não.”
Mas esta é uma responsabilidade que se estende aos bispos também, disse. “Todos os bispos devem desempenhar o seu ministério pastoral com o maior cuidado, de forma a ajudar a fomentar a protecção dos menores. E eles serão responsabilizados”.
Este foi o primeiro encontro do género entre o Papa e vítimas de abusos sexuais. Segundo o padre Federico Lombardi, director da Sala de Imprensa da Santa Sé, as vítimas ficaram muito comovidas com a missa e o encontro pessoal com Francisco.