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Relíquia cerimonial? Não. Herói canadiano

23 out, 2014 • Filipe d’Avillez

Todos os dias, Kevin Vickers abre a sessão do Parlamento vestindo roupa antiquada e armado com uma maça de armas enorme. Mas, quando chegou a altura, o sargento de armas mostrou saber como lidar com terroristas.

Relíquia cerimonial? Não. Herói canadiano
Para quem visitava o parlamento canadiano, Kevin Vickers poderia parecer uma mera relíquia do passado, um adereço simpático que recorda a herança britânica do país e do facto de se tratar de uma monarquia, que partilha a rainha com mais de uma dúzia de outros Estados.

Todos os dias, na abertura do parlamento, Vickers processa pelo centro do plenário, carregando uma enorme maça de armas cerimonial e envergando uma toga preta antiquada. É esse o cargo mais visível, para o grande público, do sargento de armas da Câmara dos Comuns, em Otava.

Mas, na quarta-feira, o grande público tomou conhecimento de uma outra faceta de Vickers, um veterano da famosa polícia montada do Canadá, os “mounties”, como são conhecidos. Quando um terrorista se refugiou no edifício, depois de ter morto a tiro um soldado que estava de guarda ao memorial de guerra, foi Vickers que o encontrou e matou, depois de ter ido ao seu gabinete buscar uma pistola.

Na verdade, apesar de incluir o detalhe diário da cerimónia de abertura, o trabalho de Kevin Vickers passa essencialmente por garantir a segurança do parlamento. Deputados contactados pelo jornal “Globa and Mail” falam de um funcionário público extraordinariamente dedicado, constantemente em alerta.

“O seu cargo pode parecer cerimonial, até anacrónico”, explica Elizabeth May, líder do Partido Verde, “Mas está sempre alerta. Tem uma visão da segurança de 360 graus. Se há alguém que queremos ter por perto quando há problemas, é o Kevin Vickers”.

Mas as histórias comprovam tratar-se também de um homem muito zeloso da responsabilidade pública da instituição que serve. Quando um alto representante político solicitou a Câmara de Honra do Parlamento para uma cerimónia, Vickers recusou, uma vez que isso impediria uma visita guiada de alunos de Saskatchewan, escreve o jornal canadiano. “É fundamental para a democracia que os cidadãos tenham acesso ao seu lugar, ao seu edifício. Esta é a câmara dos comuns e é para as pessoas comuns”, defendia Vickers.

Foi com o mesmo sentido de serviço e de defesa dos direitos das minorias, que Vickers se bateu para permitir que os fiéis da religião Sikh pudessem entrar no Parlamento envergando as suas adagas cerimoniais, que os devem acompanhar sempre e que representam a sua prontidão para lutar pelo bem.