Parceiros sociais "perplexos" com a "troika"

03 set, 2012 • Ana Carrilho

Financiadores internacionais terão dito que a responsabilidade do programa de ajustamento é exclusivamente do Governo português e que a lei laboral ainda é excessivamente rígida.

Parceiros sociais "perplexos" com a "troika"
O encontro dos parceiros sociais com a "troika" terminou num ambiente de alguma perplexidade.

Os representantes de sindicatos e confederações patronais foram pedir à "troika" maior flexibilidade nos prazos, mas receberam todos a mesma resposta dos financiadores internacionais: a responsabilidade do programa de ajustamento é exclusivamente do Governo português. 

Alguns dos parceiros sociais presentes entenderam esta resposta como um descartar, ou pelo menos um partilhar, de responsabilidade.

Segundo os parceiros sociais que falaram à imprensa, a "troika" não pretenderá fazer quaisquer alterações ao programa de ajustamento, quer no financiamento, juros ou prazos. "Não vimos grande abertura  nesse sentido por parte da 'troika', que curiosamente considerou que este programa de ajustamento era o programa do Governo português e não da 'troika'", explicou João Vieira Lopes, da Confederação do Comércio e Serviços.

O representante da CGTP, Arménio Carlos, foi cáustico nas suas afirmações, considerando que se está a assistir a uma novela: "Estamos perante uma novela, porque ninguém acredita que o FMI, o BCE e a Comissão Europeia se tenham enganado nas previsões. Eles quando vieram para cá tinham como objectivo claro implementar o programa tal como estão a fazer. O Governo português é enganou o povo ao dizer que havia previsões que não resultaram por qualquer motivo."

Sobre a "troika", o sindicalista lamentou a falta de abertura para ouvir falar de problemas reais: "Estes senhores comportam-se como autênticos robots, a quem se mete uma disquete na cabeça. Independentemente de estarem a ouvir questões concretas como por exemplo a degradação dos salários em Portugal quando se oferece 485 euros a um engenheiro para trabalhar, ou 500 euros a um arquitecto, passam ao lado como se por ventura fossem surdos. Não falam, não reagem."

Os representantes do Banco Central Europeu, União Europeia e Fundo Monetário Internacional afirmaram também que a legislação laboral ainda é excessivamente rígida em Portugal, o que foi refutado imediatamente pelas centrais sindicais. 
 
Ao contrário do que acontece frequentemente, os representantes de trabalhadores e patrões mostraram-se unidos no final desta reunião, pedindo que o Governo não avance para novos sacrifícios. João Proença diz que há margem para reduzir o défice, mas tem de ser pelo corte nas despesas: "A posição comum de todos os parceiros é que não há margem para mais sacrifícios. Há margem para continuar a redução do défice, mas referimos que a redução do défice terá de vir da redução de despesas que não ponham em causa o Estado social ou a melhoria do funcionamento da administração pública, mas por outro lado têm de vir do lado de mais receitas para mais crescimento", disse o líder da UGT.

[Notícia actualizada às 16h16]