O Papa Francisco quer que os bispos e os restantes participantes no sínodo sobre a família falem "sem cerimónias e sem timidez" durante os trabalhos que arrancam esta segunda-feira.
Francisco falou no início do dia e vai marcar presença durante todo o
sínodo, podendo intervir quando considerar conveniente.
Depois de agradecer o trabalho de todos os que estão a trabalhar para tornar o sínodo possível, o Papa pediu coragem aos presentes, mesmo que pensem que as suas opiniões não são as mesmas de Francisco.
"Uma condição geral de base é esta: falar claro. Que ninguém diga: 'Isto não se pode dizer, vão pensar isto ou aquilo de mim…' Devem dizer tudo aquilo que sentem com confiança", afirmou.
"Depois do último consistório, no qual se falou da família, um cardeal escreveu-me a dizer: é pena que alguns cardeais não tenham tido coragem de dizer algumas coisas, por respeito ao Papa, acreditando, talvez, que o Papa pensasse de forma diferente", referiu.
“Isto não está certo, isto não é sinodalidade, porque é preciso dizer tudo o que sentem que devem dizer: sem cerimónias, sem timidez. E ao mesmo tempo, deve-se escutar com humildade e acolher com o coração aberto o que os irmãos disserem. Com estas duas atitudes se faz a sinodalidade", insiste.
Os temas "quentes" O sínodo abriu no domingo, com uma missa, mas esta segunda-feira começaram os trabalhos de facto, com um discurso de abertura do relator-geral, Cardeal Peter Erdö, arcebispo de Budapeste.
O cardeal recordou que os fiéis nem sempre conhecem a doutrina da Igreja, nem fazem ideia da real dimensão dos sacramentos.
Embora o sínodo aborde vários aspectos sobre a família nos tempos modernos, a questão que tem dominado a atenção tanto da imprensa como de muitos dos participantes, é a situação das pessoas em uniões consideradas irregulares aos olhos da Igreja, como os
divorciados recasados civilmente e as pessoas a viver em união de facto. Mais especificamente, procura-se saber se essas pessoas devem ou não ser admitidas aos sacramentos da Igreja.
O cardeal dedicou parte do seu longo discurso a esta problemática. Recordou que a indissolubilidade do matrimónio é um valor irreversível. Mas, disse, é urgente uma pastoral para acompanhar e curar as feridas de tantas situações irregulares. "A misericórdia necessária não cancela as exigências do vínculo matrimonial".
Contudo, o cardeal recordou que é preciso ter em conta que esta problemática diz respeito apenas a certas regiões do mundo e que a questão não põe em causa a verdade do sacramento.
Por fim, o cardeal foi ainda ao encontro das expectativas de muitos dos que acompanham este sínodo, afirmando que existe a necessidade de agilizar os processos de nulidade, que avaliam se o casamento pela Igreja reuniu ou não todas as condições para ser válido, mas alertou para o perigo de se instalar um processo burocrático mecânico semelhante ao dos divórcios civis.
Comunicações limitadas Este primeiro dia do sínodo para a família, que termina a 19 de Outubro, foi marcado ainda por uma conferência de imprensa do cardeal Baldisseri, que é secretário-geral do sínodo.
Baldisseri explicou que os participantes do sínodo estão proibidos de mandar informação, incluindo para o Twitter, do interior da sala, e que os mesmos poderão falar com a comunicação social sobre o conteúdo das suas intervenções, e só as suas, mas apenas fora do recinto do sínodo, também.
Enquanto duram os trabalhos a sala de imprensa da Santa Sé organizará conferências de imprensa diárias com a presença de padres sinodais sobre o que se passou naquele dia.
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