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Natal debaixo de fogo na Guiné. A memória do médico Fernando Maymone Martins

23 dez, 2011 • Sofia Vieira

O médico Fernando Maymone Martins é fecha a semana que a Renascença dedicou a testemunhos de quem viveu o Natal em situações difíceis, mas com lugar para a esperança.

O Natal vivido no essencial, no meio do mato, durante a guerra colonial na Guiné, em 1968 é o testemunho deixado por Fernando Maymone Martins. Na altura, era um jovem médico militar, delegado de saúde, numa povoação que julgava segura.

Poucos meses antes, decidiu vir a Lisboa, em Outubro, e casou com Madalena. Em Novembro, levou-a para a Guiné, para viverem numa povoação que se chamava Teixeira Pinto.

Só que, em vésperas de Natal, foram alvo de ataque. Fernando Maymone Martins teve de deixar a mulher sozinha, porque teve de ir fazer uma revista de saúde a militares portugueses. “Durante essa semana, Teixeira Pinto foi alvo de ataque e a Madalena passou uma noite inteira debaixo de fogo”.

“A coluna em que eu fui também foi atacada, portanto, tivemos muito vivamente, e isto nas vésperas do Natal de 68, a percepção da vulnerabilidade da situação em que nos encontrávamos e do risco de nos acontecer alguma coisa, inclusive, de morrermos!”, recorda.

Fernando Maymone Martins lembra ainda que nessa época os sogros tinham enviado para a Guiné um pequeno presépio, com “figuras muito bonitas” que ainda hoje guardam “e que foi verdadeiramente o que nos ajudou a criar o ambiente de Natal na Guiné. Sem dúvida, com a percepção de que no meio do mato na Guiné, com a vulnerabilidade inerente aos ataques, estávamos verdadeiramente a ser reconduzidos àquilo que o Natal tem de mais importante – comemorar o nascimento de Jesus”.

O médico recorda também que, um ano depois, já com um filho, comemoraram o segundo Natal na Guiné. Dois momentos que o marcaram e à sua mulher Madalena para o resto da vida.