05 mai, 2014 • Olímpia Mairos
Oficina móvel
José Loureiro desloca-se pelas aldeias, vilas e cidades, na sua velha bicicleta, carregada com todo o tipo de ferramentas essenciais às tarefas.
Com um tripé fixa a roda traseira ao chão e depois ata-lhe uma correia, que une o pneu à mesa de afinação. E, conforme vai pedalando, as pedras de afiacção começam a girar na “bancada” da sua "oficina móvel".
“Ela é que é o meu ganha-pão. Ela é a oficina e é com ela que eu faço o meu trabalho, a montagem, o descanso – que é o que o alentejano gosta mais. Tenho aqui todo o meu material. Tudo o que é preciso está aqui, na bicicleta”, atesta.
Para chamar os clientes, José serve-se de uma gaita-de-beiços, de cor verde, que produz um som que se faz ouvir longe.
“As pessoas já conhecem o som e, se precisam, vêm. Aqui até tenho tido muito trabalho” diz, enquanto afia a primeira de três facas que uma senhora lhe acabara de entregar.
O preço que pratica varia de peça para peça. Afiar uma tesoura de costura, por exemplo, pode ficar entre dois e quatro euros, “tudo depende do estado”.
Segundo José Loureiro, a profissão de amolador ambulante tem os “dias contados”, porque “os mais novos têm vergonha de andar pelas ruas, numa bicicleta, a apitar”.
É em Almada que José Loureiro tem a mulher, filhas e netas. A vida itinerante que leva obriga-o a “dormir numa velha carrinha, onde também guarda a sua bicicleta”, e a longos períodos longe do convívio familiar. Por norma, só vai a casa de mês a mês e confessa que, por vezes, “as saudades apertam”.
“Custa estar fora da família, mas tem que ser”, declara José Loureiro, para concluir que “a vida é dura e, às vezes, custa um bocado a mastigá-la”, mas “tem que ser, para ganhar algum”.