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Urgências pediátricas em Lisboa. Diretor alerta para possível falta de camas e cancelamento de cirurgias

30 out, 2023 - 21:14 • Anabela Góis , com redação

Nos próximos dias, só duas urgências pediátricas vão continuar a funcionar à noite na Grande Lisboa: Hospital de Santa Maria e no Hospital Dona Estefânia.

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Entrevista a João Estrada

O diretor da área da pediatria do Centro Hospitalar Lisboa Central mostra-se preocupado com a falta de camas e defende que é preciso repensar a triagem para que nenhum doente grave fique por atender.

Nos próximos dias, só duas urgências pediátricas vão continuar a funcionar à noite na Grande Lisboa: Hospital de Santa Maria e no Hospital Dona Estefânia.

“A nível das instalações e equipamentos, pode haver condicionantes com alguma importância, nomeadamente em termos de camas e de doentes que precisem de ser internados, o que tem como consequência que, muito provavelmente, tudo o que seja cirurgias programadas ou intervenções programadas, onde já haja listas de espera, vão agravar muito as listas de espera por ausência de camas para os doentes”, alerta João Estrada, em declarações à Renascença.

A pressão tem estado a aumentar. O Hospital Dona Estefânia está a receber, em média, mais 100 crianças por dia desde que a urgência pediátrica do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, começou a fechar de quinta-feira a domingo.

Agora, com os restantes encerramentos existe o risco de que não haja camas suficientes, alerta João Estrada, diretor da área da pediatria do Centro Hospitalar Lisboa Central.

O encerramento noturno das urgências pediátricas problema prende-se com a recusa dos médicos em fazerem mais horas extraordinárias, além das 150 anuais.

Também é mais do que certo que os tempos de espera vão aumentar. João Estrada mostra-se, sobretudo, preocupado com os doentes que são, de facto, urgentes e avisa que pode ser necessário mudar a forma de fazer a triagem.

“Estou preocupado com a triagem pré-atendimento. A Linha Saúde 24, que foi uma excelente ideia, não pode ter a capacidade nem a responsabilidade de perceber se um doente está gravemente doente ou só está doente. Se calhar, temos que arranjar um sistema em que a Saúde 24 possa informar os hospitais que ‘vai um doente a caminho com estas características’, nem que seja ativando o CODU. Há uma coisa que temos de pensar um bocadinho melhor, que é, entre a triagem e o hospital, os doentes graves não podem correr riscos.”

Nestas declarações à Renascença, o diretor da área da pediatria do Centro Hospitalar Lisboa Central garante que a urgência do Hospital Dona Estefânia não fecha, pelo menos, até ao final do ano, mas avisa que o futuro depende da resolução do problema das horas extraordinárias dos médicos.

Em caso de necessidade, adianta João Estrada, as crianças podem ser transferidas para outros hospitais que mantenham as urgências internas abertas. O problema é que o transporte necessita de dois técnicos – médicos ou enfermeiros – o que implica menos gente na urgência.

João Estrada alerta para a provável demora no atendimento nas urgências pediátricas que vão continuar abertas durante a noite.

“Quando nós passamos de 250, para 350 ou 400, as pessoas têm que perceber que não se conseguem ver 400 doentes com a mesma celeridade com que se veem 100. E o doente grave não pode, em nenhuma circunstância, deixar de ser visto”, sublinha.

“A nossa grande preocupação não é se eu tenho que ver 20 ou 30 e se demoro dez horas, o nosso grande problema é que eu tenho que ter mecanismos para que o doente alguém gravemente doente não fique perdido em triagens entre hospitais, entre Saúdes 24 e chegue em tempo útil ao sítio onde nós o podemos tratar e eu tenha pessoas disponíveis para o poder tratar”, reforça o diretor da área da pediatria do Centro Hospitalar Lisboa Central.

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