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Análise

Ronaldo e a linha de 5, o derradeiro teste para o Euro

12 jun, 2024 • Opinião de Afonso Cabral


O treinador e comentador Afonso Cabral avalia as camadas do último jogo de Portugal antes do Europeu.

O terceiro jogo de preparação para o Europeu trouxe duas novidades face aos anteriores. Uma linha de 5 defesas a tentar mascarar os problemas defensivos sentidos nos dois primeiros jogos e Cristiano Ronaldo a ‘extremo-direito.

A primeira resultou numa exibição tranquila sem golos sofridos, mesmo não estando Rúben Dias presente. A segunda brindou-nos com uma das melhores exibições de Cristiano ao serviço da seleção nos últimos tempos.

Ocupando terrenos interiores, Ronaldo posicionou-se entrelinhas para servir os colegas. Algo novo no seu jogo. Altruísta qb colocou colegas perto de marcar várias vezes. Quando pôde, procurou a baliza, porque essa sagacidade não esmorece, tenha ele 20 ou 39 anos.

Beneficiou o próprio do novo posicionamento, beneficiou o selecionador porque o desamarra da posição de número 9, em que passa grande parte do tempo de costas para a baliza chateado com a falta de bola que teimosamente insiste em não lhe chegar, e beneficiam os colegas, porque um Ronaldo feliz é sinónimo de uma seleção feliz e desafogada.

De frente para o jogo pode armar o seu potente remate de longe, consegue ver coisas que de costas são impossíveis, e não sente a necessidade de sair muito do seu espaço, respeitando o dos outros, porque aqui efetivamente a bola chega-lhe. Esse equilíbrio pode ser decisivo para o sucesso da seleção.

Quanto à defesa a 5, Inácio pôde ser ele próprio no momento com bola, envolvendo-se pelo corredor lateral. O próprio António Silva pareceu mais solto e desinibido, tendo sido visto a recuperar bolas perto da área adversária, não se escondendo no momento de encurtar a equipa no momento de perda de bola. Secundados por Pepe, que em qualquer emergência estava a equilibrar a equipa de forma astuta, fazendo uso da sua velocidade, caso necessário.

O espaçamento entre defesas que tanto prejuízo causou no primeiro jogo – visível nos dois golos sofridos – e a dificuldade na transição defensiva dos defesas laterais, sentida no segundo jogo frente à Croácia, desvaneceu neste jogo. Porque não é credível ter dois defesas a ajudar no ataque e esperar tê-los depois a proteger a baliza. A exibição não foi perfeita, mas foi mais sólida do que as duas primeiras. Roberto Martínez apresentou uma equipa mais capaz a enfrentar adversidades sem bola.

Como nem tudo é perfeito, termino com uma nota de alarme: a Irlanda não é a Croácia, nem as seleções com quem vamos competir no Europeu. A ideia de que estava tudo mal e agora está tudo bem não é verdadeira, e o nível vai ter de aumentar para Portugal chegar às fases que se lhe apontam.

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