Minutos antes de deslocar-se à sala dos Passos Perdidos no Parlamento para comentar o Programa de Estabilidade apresentado pelo ministro das Finanças, o líder parlamentar socialista deu uma entrevista à Renascença onde afasta a ideia de dirigir uma bancada "amorfa" e sem sentido crítico. "O espírito crítico do grupo parlamentar está a cada quinta feira nas reuniões do grupo parlamentar", afirma Eurico Brilhante Dias.
Num ano de fogo para o PS e para o Governo, encharcados em casos e polémicas como a da gestão da TAP, Eurico Brilhante Dias admite que o partido chega aos 50 anos de existência a governar em "momentos difíceis", mas esse é "um tributo" que os socialistas fazem "coletivamente, aos fundadores". Quanto à guerra pela sucessão de António Costa, "não é um capítulo aberto, neste momento", assegura o líder parlamentar.
Chegados a 2023 que 50 anos são estes, com este PS?
São 50 anos de grandes concretizações de um partido, acima de tudo, em que os portugueses confiam e confiaram. E eu acho que isso é o primeiro elemento. O Partido Socialista é hoje o partido do Governo, democraticamente. Num país que, à imagem daquilo que Mário Soares e os fundadores pensaram, um país com eleições livres, sem censura, com partidos políticos livres, com os sindicatos livres. Um país integrado na União Europeia e que tem um conjunto de desafios que têm a generalidade das democracias europeias.
Os nossos desafios não são muito diferentes da generalidade das democracias europeias, que têm perigos que emergem. A extrema direita parlamentar é, evidentemente, um perigo que tem hoje uma representação institucional na Assembleia da República. Mas, apesar de tudo, é isso, um partido escolhido pelos portugueses para governar em momentos difíceis e eu acho que isso, de alguma forma, é um tributo que também coletivamente fazemos aos fundadores do partido.
O PS está a governar com o fantasma da dissolução do Parlamento. É um cenário que antevê?
Acho que isso não tem grande fundamento. Eu percebo que é uma agenda da oposição que procura acelerar o ciclo político. Mas os portugueses responderam nas urnas, dando uma maioria absoluta para que o Governo governe quatro anos e daí não nos desviamos com uma maioria que continua coesa no Parlamento.
Marcelo Rebelo de Sousa é um foco de instabilidade?
Sua Excelência, o Presidente da República tem sido um parceiro na governabilidade e na estabilidade do país desde 2016. E percebemos, todos compreendemos que há legitimidades diferentes. O Governo depende da Assembleia da República e, dependendo da Assembleia da República, continua a ter uma maioria operacional para concretizar o seu programa eleitoral sufragado pelos portugueses.
Percebemos que há sempre forças políticas que neste momento podem querer acelerar o ciclo político, mas compreenda que a nossa função é garantir a estabilidade e a governabilidade do país. E isso é assegurado pelos deputados que temos no Parlamento, que foram eleitos pelos portugueses para, durante quatro anos, o PS cumprir o seu programa. Qualquer coisa fora disto é, de facto, difícil de compreender.