O autarca fala já de uma integração plena na sociedade e quer desmistificar a ideia de que estas casas foram oferecidas. “Não é verdade. Pagam rendas entre 5 euros e 400 euros [consoante os rendimentos dos arrendatários]. Todas as famílias estão a pagar pontualmente, o que demonstra que elas assumiram que este processo também lhes dá novas obrigações. Não é só o direito a uma casa nova, também têm obrigação de pagar a renda”, resume.
“Éramos sinónimo de um mundo à parte, de tudo o que é ilícito. As pessoas tinham medo até de entrar no bairro. Não saíam na paragem de autocarro, preferiam sair mais à frente ou mais atrás”, Vanusa Coxi, 38 anos
Quem não faz uma avaliação tão positiva é Jannis Kühne, um alemão radicado em Portugal e investigador da Universidade Nova e do ISCTE. Desde 2017 que mantém relação com o bairro, onde chegou à boleia do Grupo Chão, que ali fazia trabalho comunitário. Na altura, a tese de mestrado que escreveu tinha por base o “movimento Caravana”, que naquele ano pretendeu dar visibilidade às condições sub-humanas em que viviam as populações de bairros degradados da Grande Lisboa, como o 6 de Maio, na Amadora, o bairro da Torre e a Quinta da Fonte, em Loures, e o Jamaica no Seixal. Queriam fazer a discussão chegar à Assembleia da República e conseguiram.
Há meses que acompanha 15 famílias daquele bairro no pós-realojamento para perceber o que aconteceu neste processo. Ainda sem conclusões definitivas, não consegue ser tão otimista como Paulo Silva. Identifica algumas coisas que não mudaram do Programa Especial de Realojamento (PER) para esta nova estratégia. Permanece uma metodologia de cima para baixo, que não dá primazia ao diálogo colaborativo.
Sentado numa cadeira no enorme descampado de terra onde antes se erguiam os toscos blocos laranja de tijolo, Jannis critica “o enorme aparato policial” e o “bairro fechado”, nos dias em que decorriam as mudanças das famílias e demolições.
Como elemento do Grupo Chão foi impedido de acompanhar as famílias a quem dava apoio. “Havia desconfiança em relação a nós”, explica.