O "delfim" de Albuquerque, o sr. Madeira e o sócio. Quem são os três detidos pela PJ?

Pedro Calado, autarca do Funchal, é visto como o “delfim” de Miguel Albuquerque. Conhecido por ter um feitio complicado, foi acusado de misoginia ainda há alguns meses. Avelino Farinha, fundador do grupo AFA, gere um pequeno império no setor imobiliário. E detém participações em muitos órgãos de comunicação da Madeira. Custódio Correia, fundador do grupo Socicorreia, está ainda a ser investigado num processo relacionado com fundos europeus.

25 jan, 2024 - 19:45 • Fábio Monteiro



Pedro Calado, presidente da Câmara Municipal do Funchal, no XII Congresso dos Juízes Portugueses no Funchal. Foto: Homem De Gouveia/Lusa
Pedro Calado, presidente da Câmara Municipal do Funchal, no XII Congresso dos Juízes Portugueses no Funchal. Foto: Homem De Gouveia/Lusa

A megaoperação da Polícia Judiciária (PJ) na passada quarta-feira, na Madeira, levou à detenção de três pessoas: um político e dois empresários.

Quem são Pedro Calado, Avelino Farinha e Custódio Correia, que estão a ser investigados por corrupção?

Pedro Calado. O copiloto político

Pedro Calado é presidente da Câmara do Funchal desde outubro 2021, mas há muito que percorre os corredores da política insular. Há 19 anos, mais precisamente. Dos três detidos da megaoperação da Polícia Judiciária na Madeira, que decorreu na quarta-feira, é o único político.

Em mais do que uma ocasião, o autarca social-democrata já foi descrito, por pessoas próximas, como o “braço direito” e “delfim” de Miguel Albuquerque (que também foi constituído arguido). No ano passado, apesar de não desempenhar, a título oficial, nenhum cargo no Governo Regional, Albuquerque chamou-o para estar presente nas negociações com o PAN.

Dentro e fora do PSD, Calado é conhecido por ter um feitio complicado. Há alguns meses, foi acusado de misoginia por deputadas do PS, mas também do PSD. (O social-democrata rejeitou todas as acusações.) É desportista, pratica várias modalidades, e tem um histórico de prémios enquanto copiloto de rali.

O autarca – licenciado em Gestão de Empresas, responsável pela abertura dos escritórios da consultora KPMG na Madeira, tendo ainda passado pelo Banco Espírito Santo e a Caixa Geral de Depósitos - entrou para a vida política, enquanto vereador, em 2005, pela mão de Miguel Albuquerque, então presidente da autarquia do Funchal. E aí continuou até outubro de 2013, chegando à posição de vice-presidente (2012-2013).

Quando, em outubro de 2013, Miguel Albuquerque saiu da autarquia, Pedro Calado seguiu-o. No mesmo ano, os dois amigos criaram a Malpec, empresa de consultoria e investimentos imobiliários – que acabaria extinta, em 2015, antes de Albuquerque voltar à vida política ativa.

Calado não acompanhou (logo) Albuquerque para o Governo Regional.

Entre 2013 e 2017, além da Malpec, entrou no grupo de construção AFA – um dos três maiores da Madeira -, que detém os hotéis Savoy. Uma das suspeitas do Ministério Público que recai sobre o político é a de favorecimento do grupo AFA.

Em 2017, numa remodelação, Albuquerque voltou a convocar Pedro Calado, que abandonou o setor privado e assumiu funções enquanto vice-presidente do Governo Regional. Depois, em 2021, catapultou-o para reconquistar a Câmara do Funchal.

Ainda na quarta-feira, Albuquerque, que também foi constituído arguido no mesmo processo, acorreu em defesa de Pedro Calado. Disse que o autarca “é um político com grande qualidade” e que “esclarecerá todas as questões que tem de esclarecer”.

Estas palavras foram proferidas, no entanto, ainda antes de ser conhecida a notícia de que a Polícia Judiciária encontrou meio milhão de euros no cofre de um empresário com ligações ao autarca social-democrata.


Avelino Farinha fundou o grupo AFA aos 20 anos. Foto: Grupo AFA
Avelino Farinha fundou o grupo AFA aos 20 anos. Foto: Grupo AFA

Avelino Farinha. O sr. Madeira

O nome de Avelino Farinha é sinónimo de negócios na Madeira. O empresário (e antigo patrão de Pedro Calado) fundou o grupo de construção AFA (acrónimo de “Avelino Farinha & Agrela, Lda”) quando ainda tinha apenas 20 anos, em 1981.

Entretanto, o empresário, que no início da sua carreira profissional ainda foi topógrafo na autarquia da Calheta, construiu o que se pode chamar de um pequeno império.

O grupo AFA conta hoje com cerca de quatro mil trabalhadores, e, além Madeira, tem negócios em países como Angola, Senegal, Mauritânia, Guiné Equatorial e Colômbia. Segundo o jornal “ECO”, fatura cerca de 300 milhões de euros por ano.

Farinha é, há 14 anos, o presidente da Associação dos Industriais de Construção do Arquipélago da Madeira. E, assim como Pedro Calado, é um aficionado por desporto: criou e dirigiu o Clube de Ténis, o Clube Naval e o Estrela da Calheta Futebol Clube.

Em 2012, “foi agraciado com o "Cordão Autonómico de Bons Serviços", pela importância para a Região Autónoma da Madeira da sua ação como empresário de diversos setores de atividade económica, em particular na construção civil e obras públicas”.

De acordo com informação oficial, disponível do site do grupo AFA, que detém oito empresas, Avelino Farinha tem negócios no setor da construção civil, hotelaria, tratamento de resíduos, aviação executiva e até comunicação social.

Os negócios do grupo – que em 2015 comprou três hotéis Savoy ao empresário Joe Berardo, por 115 milhões de euros - estão no centro da megaoperação da Polícia Judiciária, que decorreu na quarta-feira.

De acordo com um comunicado do DCIAP, há suspeitas de condicionamento de “publicação de notícias prejudiciais à imagem do Governo Regional em jornais da região, em moldes que são suscetíveis de consubstanciar violação da liberdade de imprensa”.

Ora, em 2017, o grupo AFA “adquiriu 50,5% do capital social da EJM, detentora da Rádio JM e do Jornal da Madeira”. Três anos depois, “adquiriu 36,8866% do capital da EDN, passando a ter participação direta no Diário de Notícias da Madeira e indireta nas restantes empresas participadas, nomeadamente, a Publifunchal, a Imprinews, a Rameventos, a SDIM e a TSF”.

Esta não é primeira vez que o empresário madeirense se vê a braços com a justiça. Há sete anos, noutro processo, Farinha foi julgado e absolvido do crime de fraude fiscal.

Já em março do ano passado, foi chamado pelo Parlamento Regional para depor numa comissão de inquérito com foco no "favorecimento dos grupos económicos pelo Governo Regional”.


Custódio Correia nasceu em Braga, mas radicou-se na Madeira. Tem muitos negócios em parceria com Avelino Farinha. Foto: Grupo Custódio Correia
Custódio Correia nasceu em Braga, mas radicou-se na Madeira. Tem muitos negócios em parceria com Avelino Farinha. Foto: Grupo Custódio Correia

Custódio Correia. O sócio

Custódio Correia, fundador do grupo Socicorreia, circula pelos mesmos círculos que Avelino Farinha, os dois são parceiros de negócios, e já apareceu, na capa de uma revista, ao lado de Pedro Calado e outros ilustres conhecidos social-democratas.

Na quarta-feira, os três foram detidos pela Polícia Judiciária.

Esta não é a primeira vez que Custódio Correia é investigado. O empresário, natural de Braga mas radicado na Madeira, é um dos 126 acusados da mega fraude com fundos europeus centrada na Associação Industrial do Minho, cujo julgamento ainda decorre, lembra esta quinta-feira o “Público”.

Há quase 20 anos, Custódio Correia fundou o grupo Socicorreia, que se dedica ao investimento imobiliário e à construção de luxo. Do foro pessoal, são conhecidos poucos detalhes.

Ao lado de Avelino Farinha, Custódio Correia é um dos investidores do projeto Dubai na Madeira – um megaprojeto imobiliário residencial com 35 mil metros quadrados.

“O empreendimento ‘Dubai’ Madeira é um desafio à arquitetura portuguesa, com a construção de 400 apartamentos de luxo na zona oeste do Funchal. Este será o maior investimento privado feito na região autónoma da Madeira”, lê-se no site oficial do projeto.

Os dois empresários têm também empreendimentos em Lisboa e noutros locais no Continente. Em 2019, o “Jornal Económico” noticiou um pacote de investimento de 300 milhões de euros dos grupo AFA e Socicorreia nos Açores.


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