A crise dos migrantes: o pior ano desde 2018
Com a guerra na Ucrânia, o conflito Israel-Hamas, a crise dos migrantes do Mediterrâneo foi um pouco relegada ao esquecimento este ano. Mas isso não quer dizer que o drama no mar que banha o sul da Europa tenha cessado ou abrandado. Muito pelo contrário.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), até ao final de novembro, pelo menos 2.480 pessoas morreram ou desapareceram a tentar chegar à Europa; 2023 foi mesmo o ano mais mortal de que há registo desde 2018.
Este verão, de visita a Marselha, o Papa Francisco alertou para “uma cultura de globalização da indiferença” que “vai ensanguentando o Mediterrâneo”. “Perante uma tragédia destas, não servem as palavras, mas sim as ações”, sublinhou o líder da Igreja Católica.
Mas como é possível reagir quando o problema está lá tão longe? Pedro Pedrosa, ativista e membro do coletivo Humans Before Borders, (HuBB), recusa visões maniqueístas. “Temos um país que faz bastante voluntariado”, em que “não há indiferença para os problemas comunitários”, entende.
Mas também comenta: “Se as pessoas têm de trabalhar até às oito, nove, dez da noite, será que têm tempo para pensar noutras atividades, será que têm tempo para pensar nos direitos dos outros, quando os seus próprios direitos não estão assegurados?”
Existe uma dificuldade em chamar a atenção dos portugueses para temas fora da sua bolha social. “Exige um ativismo de quase remar contra a maré. De querer chamar à atenção para a comunidade que está completamente a leste destes problemas.”
“No Mediterrâneo, temos pessoas a morrer todos os dias e nós continuamos indiferentes. Quando foi aquele caso do miúdo [Aylan Kurdi] na Turquia, em que vimos um agente a pegar nele, já morto, na praia, todos ficámos chocados. Mas a questão é que temos 10, 20, 30 miúdos desses, todas as semanas, em todas as praias no Mediterrâneo. Isso é uma imagem constante”, atira.
Para o ativista, a indiferença (em relação a todo o tipo de temas) “depende sempre, em parte, da comunicação que as pessoas recebem”: função que compete aos “líderes políticos”, mas, acima de tudo, “às televisões, às rádios, aos jornais”.
Acontece que colocar o ónus nos meios de comunicação pode também, em parte, ser ambicioso, tendo em conta o contexto nacional.