Elad Dror detido na operação Babel. O empresário, o edifício mais alto do país e alguns limões

Detido esta terça-feira, no âmbito da operação Babel, o empresário israelita Elad Dror era quase um desconhecido fora dos círculos do ramo imobiliário. Fundador do grupo de investimento Fortera, Dror é também detentor do franchising para Portugal de marca como Miniso e Huawei. Uma história que começa com limões e acaba em milhões.

16 mai, 2023 - 22:27 • Fábio Monteiro



Projeto Skyline Vila Nova de Gaia edifício prédio mais alto de Portugal hotel. Foto: Fortera Properties
Projeto Skyline Vila Nova de Gaia edifício prédio mais alto de Portugal hotel. Foto: Fortera Properties

Há menos de uma semana, Elad Dror, fundador e CEO do grupo Fortera - fundo de investimento israelita que atua no setor imobiliário de luxo na região do Porto -, era notícia. Melhor: dava uma notícia. Em entrevista à publicação “Vida Imobiliária”, garantia: nos próximos cinco anos, o grupo Fortera vai investir 700 milhões de euros em Portugal.

Tendo em conta os projetos que já estavam na calha e já eram públicos, não havia motivos para duvidar. A título de exemplo, bastava referir o Skyline; edifício com 28 andares, no centro de Vila Nova de Gaia, projetado pelo arquiteto Souto Moura, anunciado ainda em julho do ano passado, que quando (ou se) for construído, será o mais alto do país.

Chegado a Portugal em 2010 pela primeira vez, com o intuito de vender carrinhos telecomandados em centros comerciais, já há alguns anos que o empresário israelita (e judeu sefardita), crítico vocal do fim dos vistos gold (“Fim custará milhares de empregos”), entrou em força no setor imobiliário.

Em 2014, em parceria com o compatriota Nir Shalom, fundou o grupo Fortera, empresa portuguesa que conta “com mais de 300 colaboradores” e que está a “desenvolver e a gerir vários projetos com mais de 1.000 apartamentos, 818 quartos de hotéis e 235.000 m² de uso misto”.

Só na região do grande Porto e Gaia, pelo que a Renascença conseguiu apurar, há 14 grandes projetos imobiliários – em diferentes fases de execução. (O website do grupo Fortera está, de momento, em baixo.) Desde o ano passado, a empresa tem como embaixadora a apresentadora da RTP Sónia Araújo.


“Gosto disto. Vivo na Foz, faço o meu surf e a minha família também gosta de viver na cidade do Porto. É um dos melhores sítios que conheço para viver. Conto ficar por cá muitos anos”, disse o empresário, em declarações à “Forbes Portugal”, em dezembro de 2019.

Depois do que aconteceu esta terça-feira, todavia, o Skyline pode demorar mais um pouco a arranhar os céus. Elad Dror, que até hoje era um desconhecido para quase todos aqueles que não circulam no setor imobiliário, foi um dos detidos pela Polícia Judiciária no âmbito da operação Babel.

No centro da operação da PJ, de acordo com o comunicado enviado às redações, está a “viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”.

O que é que isto tem a ver com Dror? Fonte judicial disse à “Visão” que o Skyline e outros projetos imobiliários do grupo Fortera estão sob investigação.

Os sete detidos, todos homens, serão presentes a primeiro interrogatório judicial, a partir de quarta-feira, no Tribunal de Instrução Criminal do Porto, para aplicação de medidas de coação. Patrocínio Azevedo, vice-presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, é outros dos detidos.

Num comunicado, o grupo Fortera já garantiu que o empresário está a “colaborar com a Justiça para o esclarecimento de qualquer facto que lhe possa ser imputado”.


Elad Dror, empresário israelita detido na operação Babel. Foto: Fortera Properties
Elad Dror, empresário israelita detido na operação Babel. Foto: Fortera Properties

Quem é Elad Dror?

Elad Dror nasceu em Israel e foi aí que fez grande parte da sua formação académica. Aos oito anos, montou o seu primeiro negócio: vender limonadas, contou à revista “Sábado”, ainda no início deste ano. Após o período de serviço militar obrigatório, emigrou. “O ambiente em Israel é muito competitivo. É normal sair do país em busca de oportunidades”, disse à “Forbes Portugal”, há quatro anos.

Vaidoso e ambicioso, segundo o próprio, o empresário “todos os anos” escreve “10 coisas” que deseja alcançar no ano seguinte. Já ganhou milhões e perdeu outros tantos. Criou dezenas de empresas. Segundo as suas contas, até 2019, fundou 77 empresas. Desde que descobriu “o segredo de ganhar dinheiro”, passou a pensar “em somas de milhares, para pensar em milhões e daí para pensar em biliões”, contou à “Sábado”.

O sucesso foi tal que, há quatro anos, Elad Dror escreveu um livro - "De um limão a um Milhão", edição exclusivamente em hebraico – que é um guia sobre como criar “riqueza e sucesso”. “Vendi quase tudo e em vários idiomas: vinho da Moldávia, parcerias na indústria farmacêutica, canábis medicinal... e a lista continua”, lê-se num excerto citado pela revista “Sábado”.

O empresário viveu nos Estados Unidos da América, Bélgica, Reino Unido, Espanha e, desde 2010, começou a criar raízes em Portugal – momento em que o país vivia uma profunda crise financeira. O que o trouxe até solo nacional foram umas pequenas férias, e a ideia de expandir o negócio a que se dedicava: carros telecomandados. Por outras palavras: brinquedos.

Logo no Natal de 2010, assinou contrato com dez lojas dos centros comerciais Dolce Vita. No ano seguinte, foram mais 25 lojas. O mercado imobiliário nacional, contudo, atraiu-o e levou-o para outros voos.

Em 2014, “comprei o primeiro terreno e, em conjunto com os meus parceiros, comecei a fazer mais investimentos e a atrair investidores”, contou. Hoje, o projeto emblema da Fortera é, sem dúvida, o edifício Skyline – que terá um custo estimado de 150 milhões de euros. No telhado, existirá uma “surpresa”, um “piscar de olhos ao mercado dos vistos gold”, prometeu, quando falou com a “Sábado”, no início deste ano.

Fora o setor imobiliário, Elad Dror detém o franchising para Portugal das marcas Miniso, Huawei, assim como possui uma participação minoritária na cadeia de retalho Xiaomi Store.


Operação Vórtex

No início de 2023, Elad Dror foi implicado – erroneamente – na Operação Vórtex, ação da PJ que culminou na detenção do presidente da Câmara Municipal de Espinho, de um funcionário e de três empresários.

Em declarações ao “Jornal de Notícias”, dias depois do sucedido, o empresário disse que a notícia falsa gerou “dias maus” e obrigou-o a dar explicações a parceiros. “Nunca se sabe quantas pessoas viram a notícia e não a retificação”, explicou. Garantiu também que nunca lhe pediram “luvas”. “Nunca pensei que, em Portugal, um país da União Europeia, isso [as luvas] acontecesse. Talvez tenha sido muito ingénuo", afirmou.

Dror não se coibiu de comentar, ainda assim, as suspeitas do Ministério Público relativamente ao alegado esquema de corrupção em Espinho que envolve a Câmara local e o Grupo Pessegueiro. A serem verdade, "ajudam a ligar muitos pontos", disse. Em particular, explicava os entraves a um empreendimento imobiliário do grupo Fortera, que esperava aval para loteamento desde setembro de 2021.

"É um projeto que deveria ser abraçado por qualquer cidade, mas não foi isso que aconteceu depois de Miguel Reis assumir o cargo, em setembro de 2021. Pinto Moreira foi empático e alguém que queria que investíssemos na cidade. De Miguel Reis nunca vi isso. Nunca nos apoiou. Não foi uma experiência muito boa. Havia sempre mais obstáculos, mais atrasos", disse.

A Operação Vórtex tem um elo de ligação com a Operação Babel. Mas não é Elad Dror. Segundo a PJ, um dos sete detidos de hoje, um empresário, - não Elad – já havia sido detido, em janeiro, no âmbito do caso de Espinho.


Atualizado a 17 de maio de 2023, às 19h59, com o número de empreendimentos na zona de Porto e Gaia.


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