O homem de 43 anos, que mora em Unhais da Serra, concelho da Covilhã, já anda às turras com os CTT há algum tempo. “Liguei para o apoio ao cliente mais de 50 vezes.” A 29 de setembro de 2021, uma amiga, que mora no Luxemburgo, enviou-lhe um IPhone 11 Pro Max, que deveria ser a sua “prenda de aniversário antecipada”. Um ano depois, a encomenda ainda não chegou ao destinatário.
Segundo uma declaração dos serviços postais do Luxemburgo, a que a Renascença teve acesso, o volume chegou a Portugal a 3 de outubro. Os CTT, contudo, dizem que nunca cá aterrou. Por email, a 11 de março de 2022, a operadora disse a Bruno que “não tem evento de receção” em solo passado.
No ano passado, a amiga de Bruno submeteu pelo menos duas reclamações nos serviços postais do Luxemburgo, que foram depois reencaminhadas para os CTT. “Fizeram queixas de lá, mas nunca obtiveram resposta”, acusa.
Exasperado, com medo de que a encomenda tivesse ficado “enfiada num buraco, sem nunca ter sido scanneada”, devido à confusão provocada pela Covid-19, Bruno chegou a ligar para a linha de apoio dos CTT a pedir o número do centro de “recolha de encomendas internacionais” da operadora. “A gente houve aquelas histórias de encomendas cujos donos não aparecem e que a certo ponto são vendidas em leilão. Os números ou a morada podem ter ficado desgastados”, explica.
Bruno queria procurar, estava disposto a revirar caixas num “contentor” algures esquecido. Uma pesquisa na internet levou-o até uma morada, um edifício em Lisboa que nunca pode visitar.
Máquinas a disparar e triar
O principal motor de processamento de correspondência dos CTT em Portugal fica em Cabo Ruivo, nos arredores de Lisboa, num edifício plantado não muito longe do Parque das Nações. Se a encomenda de Bruno Lopes chegou algum dia a solo nacional, conforme garantem os correios do Luxemburgo, é 100% certo dizer que passou por ali.
Dos cerca de 2.2 milhões de objetos que os CTT movem por dia, o Centro de Produção e Logística do Sul (CPLS) processa perto de 1.8 milhões, cerca de 85% do total. Neste número, está incluído todo o correio internacional que entra no país. O Centro de Produção e Logística do Norte (CPLN) fica com os restantes 15%.
António Guilhoto é diretor de Operações de Correio em Cabo Ruivo, e há 30 anos que trabalha para os CTT. Numa visita ao centro, de forma demorada e detalhada, explica à Renascença como funcionam todas as engrenagens: quem, como, que máquina e a que horas. Se há problemas ao nível da distribuição, não tem origem naquelas instalações, garante. “Tomara eu ter mais correio até.”
O edifício do CPLS tem três pisos. No superior, conta com um pequeno museu sobre a história do serviço postal em Portugal, uma cantina aberta em permanência para os trabalhadores, e várias salas de reunião. No intermédio, há um posto dos CTT aberto ao público. Já no inferior, o mais resguardado dos olhos de quem passa, é onde acontece toda a ação – e onde fica a entrada e saída dos muitos camiões distribuem o correio para todo país.
Num dos cantos, há quatro máquinas, que se parecem um pouco com caixas de supermercado megalómanas, que dividem o correio em formato regular (envelopes) consoante os centros de distribuição para onde deve ser remetido. Em teoria, cada uma pode “tratar 800 mil cartas por dia, portanto temos muita capacidade”, faz questão de frisar o responsável.