Menos tempo no duche?
Agora, há meses que os alemães fazem contas à vida. Como poupar gás e eletricidade tornou-se quase uma obsessão nacional. O medo da fatura energética no final do ano é grande.
A imprensa dá várias dicas, desde reajustar a temperatura do frigorífico para 7 graus até trocar as lâmpadas normais por LED. Usar mantas e beber chá quente em vez de usar o aquecimento a gás nas casas são outras sugestões.
Em junho, o ministro alemão da Economia, Robert Habeck, disse à revista Spiegel que "reduziu consideravelmente" o tempo em que toma duche.
O Governo decidiu que, a partir de setembro, piscinas privadas deixam de poder ser aquecidas a gás e eletricidade. Nas ruas, as luzes de placards de publicidade e montras devem ser desligadas das 22h00 às 6h00.
As instituições públicas também já entraram em modo de poupança de energia. O aquecimento em edifícios públicos não pode ultrapassar os 19 graus (ao contrário dos 20 atuais), exceto em unidades de saúde e lares para idosos. E os aquecedores terão de ficar desligados em corredores e halls de entrada.
Neste inverno, a capital alemã quer reduzir o consumo de energia em pelo menos 10%. À noite, monumentos emblemáticos de Berlim, como a Porta de Brandemburgo, ficarão às escuras.
Será que chega?
Mesmo assim, o medo em relação ao futuro mantém-se. As preocupações estendem-se também às empresas. Será que algumas vão ter fechar as portas ou reduzir pessoal porque não conseguem acompanhar a subida dos custos de produção?
"Encaramos estas preocupações com bastante seriedade", garantiu este mês o chanceler Olaf Scholz. "A minha promessa é: Não deixaremos ninguém para trás".
Scholz anunciou várias medidas para tentar aliviar a situação, algumas até relativamente semelhantes às que foram anunciadas em Portugal.
Tanto em Portugal, como na Alemanha, estudantes, trabalhadores e reformados receberão um subsídio para ajudar a pagar as contas do gás e da eletricidade. Na Alemanha, os estudantes receberão 200 euros; trabalhadores e reformados recebem 300 euros, sem exceções.
No verão, o Governo alemão financiou um passe para os transportes públicos, a 9 euros por mês. Foi um sucesso. Agora, disponibilizou 1,5 mil milhões de euros para arquitetar mais passes a preços acessíveis. Em Portugal, António Costa anunciou o congelamento dos preços dos passes de transportes públicos.
O primeiro-ministro português prometeu também baixar o IVA da eletricidade de 13% para 6%. Na Alemanha, Scholz quer introduzir um desconto para o consumo básico de cada família, que será financiado com receitas extraordinárias de empresas de energia.
A Esquerda diz que as medidas anunciadas por Scholz não chegam. De acordo com o partido, "para a maioria das pessoas que sofrem com os preços exorbitantes, o alívio é muito pequeno. A Esquerda quer ajuda direcionada para pessoas com rendimentos médios e baixos" e apela a protestos.
Outras vias?
Na vizinha República Checa, 70 mil pessoas - tanto da extrema-esquerda como da extrema-direita - foram para a principal avenida de Praga, no início do mês, protestar contra o aumento do custo de vida.
Em julho, a inflação no país rondou os 17,5% e teme-se que atinja os 20% em breve.
Na Alemanha, protestos desta magnitude também podem despontar nos próximos meses, prevê o politólogo Mario Candeias.
Há uma semana, já houve um protesto em Leipzig, no leste da Alemanha, em que participaram cerca de 3.000 pessoas. Mas o número de manifestantes pode aumentar assim que os alemães receberem a "fatura do gás pelo correio", diz Mario Candeias.
"É sempre difícil dizer, mas acreditamos que haverá protestos no outono. A situação é bastante tensa e o Governo reage com hesitação e medidas insuficientes. E, infelizmente, é preciso dizer que a direita radical também tentará lucrar com a situação."