Europa atravessa a pior seca dos últimos 500 anos?
A situação atual de escassez de água bate recordes de décadas e até de séculos em vários pontos do continente.
A situação atual de escassez de água bate recordes de décadas e até de séculos em vários pontos do continente.
A Europa está a caminho da pior seca dos últimos 500 anos. A previsão do Centro Comum de Investigação da União Europeia não é animadora e aponta que a atual situação de seca ainda deverá piorar, devido às ondas de calor e ao défice de precipitação por todo o continente. As barragens e rios esvaziados são uma constante no cenário europeu.
Segundo Andrea Toreti, investigador do Observatório Europeu da Seca, "este ano é realmente excecional" e prepara-se para registar uma seca "mais extrema" do que em 2018.
Em Portugal, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), não choveu o suficiente em 14 dos últimos 20 anos. Neste momento, o instituto coloca 55% do território continental em seca severa e os restantes 45% em seca extrema. O ano de 2022 já fica marcado pela terceira pior seca em Portugal desde 1931.
Infelizmente, em Espanha o cenário é bastante familiar. O país está a viver a pior seca desde 1981 e as reservas de água estão a menos de metade da capacidade total das albufeiras e barragens. No início de agosto, a bacia do rio Guadiana encontrava-se apenas a um quarto da sua capacidade habitual em território espanhol.
Outro dos episódios recentes de seca passa pela fronteira entre a Suíça e a França. Depois de meses com pouca chuva, o rio Doubs está praticamente seco, reduzido a escassos canais de água.
Neste momento, mais de cem municípios franceses não têm capacidade para fornecer água potável canalizada e 62 regiões têm acesso restrito a este bem precioso. Em comunicado, a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, anunciou a criação de uma task force para fazer frente à "pior seca de sempre" registada em França.
Nas cidades e principais centros urbanos da Europa, rios e canais dão lugar a paisagens áridas. Na Alemanha, o baixo nível das águas do Reno ameaça o transporte de bens essenciais, como o carvão e gasolina. O rio costuma ser uma das principais vias utilizadas, mas a redução do caudal poderá obrigar as empresas a recorrerem a embarcações de menores dimensões ou até a optar por outras alternativas mais caras, como o caminho de ferro.
A sul, 2022 será o ano mais quente e seco de que há registo em Itália, segundo o Instituto de Atmosfera e Ciência Climática do Conselho Nacional de Investigação italiano. A escassez de água faz-se sentir de tal forma que o rio Pó, o maior rio do país, está 90% abaixo da sua habitual capacidade. Com vários segmentos do seu percurso secos, foi até possível desvendar uma bomba da II Guerra Mundial.
Nos Países Baixos, a seca encalhou várias casas-barco no leito do rio Waal, perto de Nijmegen. O governo neerlandês já declarou a oficial escassez de água no país, que, abaixo do nível do mar, poderá ser um dos mais afetados pelos efeitos do aquecimento global.