08 ago, 2022 - 19:03 • Redação
A descida abrupta dos níveis das águas tem vindo a desvendar alguns dos segredos submersos no fundo do Rio Pó, em Itália, como o surgimento de uma bomba americana da II Guerra Mundial, no final do mês passado, perto da aldeia de Borgo Virgilio, na região de Lombardia.
De acordo com o Exército italiano, o artefacto pesava um total de 450 quilos, e continha no seu interior 240 quilos de explosivos.
“A bomba foi encontrada por pescadores na margem do Rio Pó devido à diminuição do nível das águas causada pela seca”, adianta o coronel Marco Nasi.
Os três mil habitantes das populações mais próximas, Borgoforte e Motteggiana, foram retirados. Francesco Aporti, autarca de Borgo Virgilio, admite que existiu alguma resistência por parte de alguns habitantes, mas que nos últimos dias terão conseguido “convencer toda a gente”.
No domingo, assim que a segurança estava garantida, especialistas do Exército italiano procederam à remoção do fusível da bomba americana. Depois, o dispositivo foi transportado para uma pedreira a cerca de 45 quilómetros para que fosse detonado, de forma controlada.
O Rio Pó sempre foi conhecido como o maior rio italiano, mas a seca intensa que o país atravessa está a torná-lo irreconhecível, chegando a ter grandes partes do seu leito completamente expostas.
Estende-se por cerca de 650 quilómetros, os seus cinco braços atravessam o país de oeste a leste, e encontram-se novamente no mar Adriático, em Veneza. Para as comunidades agrícolas do norte de Itália, as águas do Rio Pó são cruciais para a sua sobrevivência.
Segundo a Associação Nacional de Descontaminação e Irrigação (ANBI) italiana, o Rio Pó está a debitar 113,7 metros cúbicos por segundo. Estes valores representam 75% a menos do necessário para evitar a entrada da água salgada do mar Adriático no leito do rio, uma realidade preocupante para aquele que é o maior reservatório de água doce de Itália.
Giampaolo Bassi, agricultor local, sofre as consequências da seca nas suas plantações de amendoins devido à questão da água salgada, que “está a matar as plantas porque elas não suportam uma concentração tão alta de sal”, admite.
Outro agricultor da região de Ferrara, Giuliano Rolfini, lamenta os prejuízos que a falta de chuva trouxe às suas plantações, também de amendoins. “Moro aqui desde que nasci. Este é o pior ano de todos”, confessa.
O país está a viver uma das piores secas dos últimos 70 anos, e tem assistido a temperaturas diárias que ultrapassam os 40ºC. O governo italiano já decretou estado de emergência em cinco regiões do norte do país, por onde atravessa o Rio Pó, e outras cidades anunciaram novas restrições ao consumo de água.
O local que costuma ser a escolha de eleição para muitos turistas, apresenta agora um cenário de seca extrema: pequenos barcos atracados em bancos de areia, poças e charcos que ainda sobrevivem, mas que não são suficientes para as atividades económicas fluviais.