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Um ano de guerra na Ucrânia explicado em gráficos e mapas

24 fev, 2023 - 06:10 • Diogo Camilo

Forças russas conquistaram várias cidades ucranianas e ameaçaram cercar Kiev no primeiro mês de guerra, mas a Ucrânia resistiu nos meses seguintes e recuperou territórios. Veja os mapas que explicam a história do primeiro ano de guerra na Ucrânia.

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A 21 de fevereiro de 2022, três dias antes do início da invasão russa ao território ucraniano, Vladimir Putin anunciava o início daquilo a que chamava de “missão de manutenção de paz”, com o reconhecimento da independência de duas regiões que pertenciam à Ucrânia - Donetsk e Lugansk.

No discurso, a partir do Kremlin, o Presidente russo afirmou que a Ucrânia moderna foi "criada" pela Rússia e que tinha sido “roubada” durante a queda da União Soviética, em 1991, atribuindo culpas à NATO e aos EUA. Como justificação para a invasão do país vizinho, disse que o objetivo é "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, naquilo a que dá o nome de “operação militar especial”.

O primeiro impacto da guerra foi visto no número de ucranianos que fugiram das suas casas, das suas vidas e do seu país, rumo a outros países da Europa.

Desde 24 de fevereiro do ano passado, o dia em que a Rússia invadiu a região de Donbass, mais de 18 milhões de ucranianos atravessaram a fronteira do país para fugir da guerra - quase metade da população da Ucrânia.

Dados do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) revelam que, nos últimos meses, apenas 10 milhões de ucranianos regressaram ao país, enquanto mais de oito milhões continuam refugiados pela Europa. Destes, só cerca de 4,8 milhões integram programas de proteção temporária para refugiados da Ucrânia.

No primeiro mês de guerra, as forças russas dominaram parte do norte e nordeste da Ucrânia, controlando as periferias de cidades como Kharkiv, Sumy e Chernihiv e cercando a capital Kiev.

Para surpresa de muitos, incluindo Putin, Kiev resistiu e as tropas russas foram obrigadas a retirar do local, virando forças para Mariupol e o sul da Ucrânia.

A partir de abril e maio, a Ucrânia começou a receber armamento de países aliados, como os EUA e a União Europeia, enquanto o número de jovens ucranianos a voluntariar-se para a guerra disparou.

Em junho, a Ucrânia recebeu luz verde da União Europeia e tornou-se um país candidato ao bloco europeu e, um mês depois, assinou com a Turquia e a ONU os acordos de Istambul, para retomar a exportação de cereais bloqueados nos portos ucranianos.

No total, desde o início da guerra, foram disponibilizados mais de 130 mil milhões de euros em ajudas humanitárias, financeiras e militares à Ucrânia. Os EUA foram o país que mais contribuiu, com mais de 73 mil milhões de euros, enquanto os pacotes de apoio da União Europeia totalizaram mais de 35 mil milhões de euros em ajudas.

Portugal, que disponibilizou mais de 800 milhões de euros a Kiev desde o início da guerra, é o 15.º país que contribuiu com mais dinheiro: 500 milhões de euros em ajudas através da União Europeia, 20 milhões através do Banco Europeu de Investimento, cerca de 80 milhões em ajuda militar e 170 milhões em ajuda humanitária, de acordo com o mais recente relatório do Instituto para a Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.

Os 250 milhões de euros em ajuda financeira, anunciados por Costa em Kiev no mês de maio do ano passado, já não serão pagos, com Portugal a comprometer-se apenas a uma garantia de 55 milhões de euros, avançou esta sexta-feira o "Jornal de Negócios".

Em julho, a Rússia anunciou uma pausa para reestruturação do exército, aproveitando o verão para recrutar mais soldados, mas é traída pela denominação que usou para a invasão à Ucrânia.

Ao chamar a manobra de “operação militar especial”, a Rússia não requer o serviço militar obrigatório e é obrigada a recrutar militares junto de mercenários, libertando presidiários e aliviando leis para que militares com mais de 40 anos possam combater.

Embora em maior número que as forças russas que estavam nas linhas da frente em fevereiro e março, estes homens têm menos experiência militar que aqueles que substituíram - e a Ucrânia aproveita isso. Também ficaram patentes falhas na cadeia de abastecimento da máquina de guerra de Moscovo.

A resposta chegou na forma de armadilha. No final de agosto, a Ucrânia anuncia contra-ataques às forças russas junto a Kherson, a cidade-chave para controlar o sul do país.

Confrontado com a escolha entre defender Kherson ou Kharkiv, Moscovo deslocou tropas para o sul da Ucrânia, deixando o nordeste do país vulnerável e sem os seus melhores soldados. Quando os ataques ucranianos começaram, no início de setembro, a resistência foi quase nenhuma.

A 6 de setembro, as forças ucranianas avançaram sobre a cidade de Balakliya, na região de Kharkiv, que se encontrava sob o controlo russo há mais de seis meses. Dois dias depois, o território foi recapturado.

Em Kherson também foram feitos progressos, com ataques ucranianos a recuperarem cerca de 500 quilómetros quadrados de território. No espaço de uma semana, foram reconquistados cerca de oito mil quilómetros quadrados - o equivalente a quase três distritos de Lisboa.

Como resposta à perda de território, a Rússia anunciou a mobilização de 300 mil reservistas e ameaçou cortar o fornecimento de gás à Europa. Uma semana depois, a 30 de setembro, a Ucrânia entregou a sua candidatura formal de adesão à NATO.

Outubro fica marcado pela explosão na Ponte da Crimeia, a principal rota de abastecimento para as forças russas a combater na Ucrânia. Autoridades russas acusaram de imediato os serviços de informações ucranianos de envolvimento no ataque, mas a autoria do ataque nunca foi confirmada. A ponte viria a ser reaberta ao tráfego dois meses depois.

Na infografia seguinte, veja o território reconquistado pelas forças ucranianas desde o dia 24 de março, quando a guerra decorria há um mês, e o cenário de guerra no final de dezembro.

Por essa altura, a Ucrânia divulgou a sua última estimativa de mortes de militares ucranianos até ao momento. Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky, anunciou que cerca de 13 mil soldados teriam morrido desde o início da invasão russa, mas os números reais não são conhecidos.

No seu relatório semanal sobre as baixas civis da guerra, a Organização das Nações Unidas (ONU) dá conta de pelo menos 8.006 vítimas mortais ucranianas, incluindo 487 crianças, a que se somam 13.287 feridos. No território da Rússia a ONU conseguiu confirmar a morte de 30 pessoas, incluindo duas crianças.

No entanto, estimativas da Reuters apontam para pelo menos 42 mil mortes de civis enquanto números do Ministério da Defesa da Noruega avançam que pelo menos 30 mil civis ucranianos morreram na guerra, além de mais de 100 mil militares.

Desde junho, a Ucrânia só atualizou por três vezes o número de soldados ucranianos mortos na guerra. Zelensky apontou na altura serem cerca de 10 mil, enquanto o comandante de Kiev, Valeriy Zaluzhniy, disse em agosto serem cerca de 9 mil.

No entanto, todos os dias o Ministério da Defesa da Ucrânia avança com novos números de soldados russos mortos na guerra. Esta quarta-feira, o número tinha ultrapassado os 145 mil mortos, mas estimativas dos EUA e Reino Unido indicam que o número seja mais baixo.

A 21 de dezembro, e pela primeira vez desde o início da guerra, Volodymyr Zelensky fez a sua primeira deslocação ao estrangeiro para visitar os EUA. Em Washington, o Presidente ucraniano garantiu que o dinheiro entregue a Kiev "não é caridade", mas "um investimento na liberdade" e na "segurança global".

“A Ucrânia está viva e luta. A tirania russa não tem qualquer controlo sobre nós. Não temos medo. Nem ninguém no mundo o deveria ter”, disse, num discurso em inglês.

Já em 2023, na véspera de um ano de guerra, Zelensky voltou a sair do país, em visita ao Reino Unido, onde discursou no Parlamento britânico e se reuniu com o homólogo Rishi Sunak e o Rei Carlos III, a França, onde esteve reunido com o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.

No final dessa semana, a 9 de fevereiro, Zelensky participou na cimeira do Conselho Europeu, em Bruxelas, e discursou perante um Parlamento Europeu que o aplaudiu de pé, vestiu as cores da bandeira ucraniana e gritou “Glória à Ucrânia” depois do hino nacional ecoar no hemiciclo.

Um ano depois, as forças ucranianas continuam a resistir à ofensiva russa em Donetsk e Melitopol, recuperaram o território perdido no norte e este do país e impediram que a Rússia tomasse a capital Kiev.

[notícia atualizada às 16h51 com os números dos apoios financeiros à Ucrânia]

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