12 abr, 2023 - 19:06 • Sandra Afonso , Fátima Casanova
Metade dos quatro milhões de trabalhadores portugueses com informações transmitidas por empresas a Autoridade Tributária recebeu 1.050 euros brutos mensais ou menos em 2021.
A informação foi publicada esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, a partir de informação da Autoridade Tributária sobre a remuneração dos trabalhadores.
Segundo os dados, há uma “elevada concentração de trabalhadores em rendimentos baixos.” Em 2021, o último ano com informação disponível, metade das pessoas recebia 1.050 euros brutos por mês, ou menos.
Só em 2020 metade dos trabalhadores passaram a ganhar mais de mil euros brutos por mês. Um ano antes, em 2019, a chamada mediana, que divide os trabalhadores ao meio, estava em 972 euros brutos.
No entanto, a média salarial em 2021 já chegava aos 1.445 euros. Porquê? Porque os altos salários acabam por atenuar os picos positivos e negativos neste indicador.
Se tivermos em conta a mediana, percebemos "uma persistência na concentração em torno de remunerações muito baixas e uma pequena deslocação da mancha de valores para a direita, o que é consistente com o aumento médio das remunerações de 7,3% entre 2019 e 2021", explica o INE.
Destaque para as mulheres, que ainda não alcançaram os mil euros na mediana. Ou seja, Em 2021, último ano com dados, metade das trabalhadoras recebia 987 euros ou menos por mês.
No mesmo ano, a mediana para os homens era de 1.168 euros, mais 18%.
Estes dados referem-se aos anos de 2019 a 2021. Em qualquer dos anos em análise, a remuneração é assimétrica positiva, isto é, há uma elevada concentração de trabalhadores em rendimentos baixos.
Em declarações à Renascença, João Duque considera que estes dados sobre salários em Portugal são “chocantes” e mostram também, que os aumentos são mais significativos nas remunerações mais baixas, devido "a uma política muito orientada para a remuneração mais baixa".
Para o economista, relacionam-se com o facto de as empresas criarem pouco valor acrescentado.
“É um panorama de pouco valor acrescentado da nossa atividade económica em geral. As empresas queixam-se que não podem pagar muito, porque não podem vender muito caro. Entramos num ciclo vicioso em que sem marcas, sem valor acrescentado por unidade de posto de trabalho é impossível distribuir muito aquilo que não se consegue ganhar, mas é chocante temos praticamente metade da população a ganhar menos de mil euros por mês”, sublinha João Duque.