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Prémios Nobel. A espera para ser laureado nunca foi tão grande

01 out, 2023 - 15:19 • Diogo Camilo

Distinções mais importantes das ciências começam a ser anunciadas esta segunda-feira. Análise mostra que o tempo médio entre a publicação de um trabalho e a atribuição do Nobel duplicou nos últimos 60 anos.

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A temporada de atribuição dos Nobel, a mais alta distinção científica, começa esta segunda-feira com o anúncio dos laureados do prémio de Medicina e Fisiologia, mas a espera pelo reconhecimento pode durar décadas - e está a aumentar.

Quando mostrou a vontade de criar os prémios, Alfred Nobel, o inventor da dinamite, indicou no seu testamento que os prémios deverão ser atribuídos “àqueles que, durante o ano anterior, terão conferido o maior benefício à humanidade”.

Mas, segundo uma análise publicada na revista científica Humanities and Social Sciences Communications, o tempo médio entre a publicação de um trabalho e a atribuição do Nobel duplicou nos últimos 60 anos e, no caso do Nobel da Química, os premiados da última década tiveram de esperar em média mais de 30 anos para receber o prémio.

O de Medicina, ou Fisiologia, foi o que teve o tempo de espera mais curto entre a descoberta e o reconhecimento no mesmo período: “apenas” 26 anos de média.

O Nobel da Economia, o último prémio a ser criado, é também o que tem o maior tempo de espera para que um vencedor seja reconhecido. Em média, os laureados tiveram que esperar 31 anos para receber o prémio.

Nas outras ciências - Física, Química e Medicina - a espera fica pouco abaixo dos 20 anos.

O que explica tanto tempo para dar um Nobel?

Quando o Nobel foi criado, era habitual os vencedores terem menos de 40 anos e o seu trabalho ser reconhecido poucos anos depois de publicado. No entanto, o tempo entre a investigação e o reconhecimento tem vindo a alargar-se ao longo dos anos.

O que explica isto? Talvez o número crescente de avanços científicos a cada ano, que faz com que o prémio não acompanhe as pessoas que merecem ser reconhecidas, ou o caso de trabalhos que apenas são reconhecidos décadas depois de terem sido publicados.

No entanto, este pode ser também um sinal de que existe cada vez menos “ciência disruptiva”, alerta a Nature, o que leva a Real Academia Sueca a olhar mais para o passado.

O número de descobertas que mudam o paradigma de um campo da ciência são cada vez menos, mas quando existem, são reconhecidas rapidamente.

Em 2020, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna foram laureadas com o Nobel da Química apenas oito anos depois do desenvolvimento do sistema CRISPR–Cas9, uma técnica revolucionária de edição genética, e que dá esperança aos inventores das vacinas mRNA usadas durante a pandemia da Covid-19.

No entanto, se esta diferença de tempo entre descoberta e reconhecimento continuar a aumentar, cientistas podem ver-se privados do prémio devido à regra do Comité do Nobel de banir reconhecimentos póstumos.

O primeiro prémio a ser atribuído será o da Medicina e Fisiologia, na segunda-feira. Ao longo da semana serão ainda divulgados os laureados com o Nobel da Física (na terça), da Química (na quarta-feira), da Literatura (na quinta-feira) e da Paz (na sexta-feira). O último prémio, das Ciências Económicas, é divulgada para 9 de outubro.

Todas as categorias serão anunciadas em Estocolmo, Suécia, exceto o Nobel da Paz que, como habitualmente, será atribuído pelo Comité Nobel Norueguês e terá como cenário o Instituto Nobel Norueguês, em Oslo, e pelo segundo ano com a Europa em guerra.

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