Óscares. A prova de que nunca é tarde para o papel de uma vida

13 mar, 2023 - 21:34 • Diogo Camilo

Uma Bond girl, um rei da selva, um Goonie e a figura de uma saga de filmes de terror. Os vencedores nas categorias de Melhor Ator, Atriz, Ator Secundário e Atriz Secundária ficaram conhecidos pelos seus papéis nos anos 80 e 90 - e desapareceram dos holofotes para vencer uma estatueta nos Óscares deste ano.

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Décadas separam estes dois abraços entre Harrison Ford e Ke Huy Quan. Foto: DR
Décadas separam estes dois abraços entre Harrison Ford e Ke Huy Quan. Foto: DR
Ke Huy Quan, vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário, Michelle Yeoh, melhor Atriz Principal, Brendan Fraser, melhor Ator Principal, e Jamie Lee Curtis, melhor Atriz Secundária. Foto: Mike Blake/Reuters
Ke Huy Quan, vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário, Michelle Yeoh, melhor Atriz Principal, Brendan Fraser, melhor Ator Principal, e Jamie Lee Curtis, melhor Atriz Secundária. Foto: Mike Blake/Reuters

“Nunca deixem que digam que já passaram o vosso auge.” Foi assim que Michelle Yeoh, com 60 anos, terminou o discurso após receber este domingo o Óscar de Melhor Atriz, com o filme “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, tornando-se a segunda atriz não-branca a vencer na categoria em todos os 95 anos de prémios da Academia.

E a edição deste ano dos Óscares foi isso mesmo: a prova de que um ator nunca está ultrapassado e que o papel da sua carreira pode estar ao virar da esquina. Os quatro vencedores nas categorias de Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Secundário e Melhor Atriz Secundária eram conhecidos, até aqui, por papéis que tinha representado há mais de 20 anos - e um deles nem era visto no grande ecrã há décadas.

Michelle Yeoh, a Bond girl que se tornou a primeira asiática a ser Melhor Atriz

Da Malásia para o mundo, com uma carreira de mais de 40 anos no cinema, Michelle Yeoh deu os primeiros passos em filmes de ação com Jackie Chan, antes de chegar a Hollywood na pele de uma espia chinesa, que recebe a mesma missão que James Bond em “007 - O Amanhã Nunca Morre”, em 1997.

É nas artes marciais que surge o seu maior papel até ao último ano, quando aparece em “O Tigre e o Dragão”, que vence quatro óscares em 2001, tendo sido nomeado para Melhor Filme nessa edição.

Vinte e dois anos depois, Michelle surge mais uma vez nos Óscares, desta vez pela porta grande. A vitória na categoria de Melhor Atriz fez com que “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” se tornasse o terceiro filme na história dos Óscares a vencer três das quatro estatuetas dedicadas a atores - os outros dois foram “Network”, em 1977, e A Streetcar Named Desire, em 1952.

A atriz tornou-se ainda na primeira mulher asiática a vencer o Óscar de Melhor Atriz e a segunda mulher não-branca a vencer a categoria, depois de Halle Berry, em 2001.

Na hora de agradecer, Michelle lembrou “todas as mães do mundo”, incluindo a sua, que viu a cerimónia a partir da Malásia, e a quem prometeu entregar o prémio. “Para todos os meninos e meninas, este é o farol das oportunidades. Esta é a prova de que, se sonharem alto, os sonhos tornam-se realidade”, disse.


Jamie Lee Curtis, a filha de atores que se tornou a cara da saga Halloween

Talvez a cara mais conhecida dos quatro atores vencedores da noite, Jamie Lee Curtis é uma verdadeira gata de Hollywood. Várias das suas vidas foram passadas nos anos 80 e 90, mas o seu primeiro filme, “Halloween - O Regresso do Mal”, eternizou-a quando tinha apenas 20 anos, em 1978.

O filme original, de John Carpenter, foi a sua estreia no cinema e Laurie tornou-se uma personagem icónica do cinema de terror. Seguiram-se outros sete filmes da saga, incluindo um lançado no último ano, meses depois de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”.

Pelo meio, Jamie Lee Curtis fica conhecida por filmes como “Os Ricos e os Pobres” ou “Um Peixe chamado Wanda”, pelo qual chegou a ser nomeada para prémios, e “A Verdade da Mentira”, com o qual venceu o Globo de Ouro, em 1994.

No entanto, os Óscares nunca chegaram - até este ano. Um enguiço de família: o pai, Tony Curtis, participou em "Spartacus" e foi nomeado para a categoria de Melhor Ator em 1958, com “Os Audaciosos”, enquanto a mãe, Janet Leigh, é mais conhecida pelo seu papel em "Psycho", de Alfred Hitchcock, pelo qual foi nomeada em 1960 para a estatueta de Melhor Atriz Secundária.

Sessenta e três anos depois, a filha supera os pais e vence na categoria onde a mãe esteve nomeada, por um dos filmes mais icónicos do cinema, com o seu papel em “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”.


Brendan Fraser, o rei da Selva que regressa à ribalta em forma de Baleia

O vencedor da categoria de Melhor Ator é mais uma das histórias que mostram que nunca é tarde para relançar a carreira. Talvez a maior. Teve o seu primeiro papel principal em “George, o Rei da Selva”, em 1997, e ficou mais conhecido por ser a estrela da trilogia de “A Múmia”, que se iniciou em 1999.

No entanto, a sua carreira em Hollywood eclipsa-se pouco depois. Em 2018, o ator vem a público denunciar que Philip Berk – na altura presidente da Hollywood Foreign Press Association e responsável pelos Globos de Ouro – o tinha assediado em 2003, altura em que terá entrado para uma espécie de “lista negra” de Hollywood.

Surge nas listas para interpretar papéis em “Quarteto Fantástico”, em 2005, e e “Super-Homem”, em 2006, mas fica de fora. O último filme de “A Múmia” é lançado em 2008 e, depois disso, está cerca de uma década longe dos grandes holofotes.

A grande oportunidade é-lhe dada por Darren Aronofsky, que entrega a Brendan o papel de uma vida com “A Baleia”.

"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" domina noite de Óscares
"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" domina noite de Óscares

Ke Huy Quan, o menino de Indiana Jones que volta 30 anos depois para vencer o Óscar

De todas as histórias, nenhuma é maior que a de Data, dos "Goonies". O norte-americano de origem vietnamita Ke Huy Quan é a cara da falta de oportunidades para atores asiáticos e vence o Óscar de Melhor Ator Secundário depois de ter estado afastado de Hollywood durante décadas.

Estrela infantil graças à presença em “Indiana Jones e o Templo Perdido”, em 1984, e em “Os Goonies”, em 1985, não conseguiu fazer da representação vida.

“Quando cheguei à casa dos 20, o telefone parou de tocar. O meu agente ligava-me e dizia: ‘Há este papel, são três falas e era tipo, um soldado vietnamita. E nem esse papel conseguia’”, contou, em entrevista ao New York Times.

Mas o sonho nunca se apagou. Do lado de fora dos ecrãs, Ke Huy Quan coreografou artes marciais em filmes como "X-Men" (2000), Jet Li “Força Explosiva” (2001) e assistiu Wong Kar-wai no filme 2046, em 2004.

A oportunidade chega com “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, o segundo papel que representa desde que decide voltar ao cinema. Depois de receber o Óscar de Melhor Ator Secundário, e na altura de subir ao palco para receber o de Melhor Filme, Ke Huy Quan abraça quem esteve lado a lado consigo no seu primeiro filme: Harrison Ford, o Indiana Jones do Templo Perdido.

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