11 mar, 2023 - 08:23 • João Malheiro
Depois de quase três meses de galas de prémios, a derradeira cerimónia realiza-se já na madrugada de domingo para segunda-feira.
A cerimónia dos Óscares é a última e mais importante paragem da "award season". Até aqui, os principais nomeados tentam aumentar as suas probabilidades de vitórias, vencendo outros prémios que podem refletir a tendência de voto da Academia de Cinema norte-americana.
A Renascença faz as contas dos principais prémios que já foram atribuídos e quem é que parte para a noite dourada de Hollywood em maior vantagem.
Cinema
Num ano com uma oferta muito rica, esta categoria (...)
Os nomeados:
Os candidatos à vitória:
Pode ser esta categoria a marcar o começo de uma noite de sonho para "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo". O improvável candidato tem nesta categoria a vitória mais improvável da cerimónia.
A força recente tem estado no guião de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, vencendo nesta categoria nos Spirit Awards (prémios do Cinema independente) e nos Writer's Guild Awards (prémios dos argumentistas norte-americanos).
No entanto, esta sequência de vitórias não é um xeque-mate, porque o outro grande candidato, "Os Espíritos de Inisherin", não era elegível para os Writer's. O argumento de Martin McDonagh tem a seu favor uma vitória nesta categoria nos BAFTA e nos Globos de Ouro. Apesar disso, estes dois prémios são menos favoráveis à vitória do que os colecionados pelos The Daniels.
Os nomeados:
Os candidatos à vitória:
O peso pesado dos BAFTA, "A Oeste Nada de Novo", pode ter nesta categoria uma barómetro da influência dos prémios britânicos nos resultados dos Óscares.
É a vitória nos BAFTA que dá a esta produção da Netflix alguma esperança para tentar disputar as principais estatuetas, num trabalho excecional de adaptação de um dos romances de guerra mais famosos do século XX.
Do outro lado, está Sarah Polley, já vencedora da mesma categoria, em 2006. "A Voz das Mulheres" é o filme que tem mais hipóteses de vencer, tendo já colecionado o prémio equivalente dos Writer's Guild Awards.
É, ainda, importante referir que os prémios de Melhor Argumento nos Óscares costumam ser uma cábula para a categoria de Melhor Filme: Nos últimos dez anos, quem venceu o grande prémio da noite também venceu nas categorias respetivas de guionismo.
Os nomeados:
Os candidatos à vitória:
Aqui não há lugar para dúvidas. Será, à partida, a categoria mais óbvia da noite, porque Ke Huy Quan demonstrou ser um favorito imparável nas principais galas de prémios, com a exceção dos BAFTA.
Venceu Globos de Ouro e os importantes SAG (prémios dos atores norte-americanos) na categoria equivalente e também levou o prémio Spirit para casa, numa categoria sem divisão de género e em que havia outros nove nomeados.
A performance de Ke Huy Quan é das bases emocionais de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" e a narrativa mediática à volta de uma carreira que parecia acabada, ainda na infância, e que agora renasceu deverá ser irresistível para os eleitores da Academia norte-americana.
As nomeadas:
As candidatas à vitória:
Angela Bassett partiu para a época de prémios com algum favoritismo, mas apenas conseguiu conquistar as galas dos críticos (Critic's Choice e Globos de Ouro) - as que não têm eleitores da Academia. À partida, não estará na corrida.
Mais provável será a vitória de Jamie Lee Curtis, por ter conseguido o tão importante SAG na categoria equivalente, numa atribuição que serviria para celebrar a carreira da veterana que deu os primeiros passos no Cinema em 1978, com o primeiro "Halloween".
No entanto, é possível que Jamie Lee Curtis perca alguns votos para Stephanie Hsu, que também é das grandes revelações de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo". Se as colegas de elenco dividirem o voto entre si, isso poderá beneficiar Kerry Condon.
A atriz irlandesa é mesmo quem tem a maior probabilidade de receber um Óscar por "Os Espíritos de Inisherin" e a vitória nos BAFTA dá-lhe hipóteses de sonhar na gala deste fim de semana.
Os nomeados:
Os candidatos à vitória:
Tem havido uma tendência de atribuir favoritismo a Steven Spielberg, nem que fosse pelo típico Óscar de carreira. Mas, tal como Angela Bassett, Spielberg é mais candidato na teoria do que tem sido na prática. E o Óscar é um prémio que já ganhou.
O galardão deve mesmo ir para Daniel Kwan e Daniel Scheinert, sem ter em conta que, por esta altura da gala, a dupla pode já ter ganho o prémio de Melhor Argumento Original.
Os principais sinais desta vitória estão, sobretudo, no sucesso nos Director's Guild Awards (os prémios dos realizadores norte-americanos) e nos Spirit. Para além disso, é "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" que tem todo o favoritismo em relação aos restantes filmes desta categoria.
Curiosamente, o realizador de "A Oeste Nada de Novo", Edward Berger, que venceu nos BAFTA, nem sequer está nomeado para os Óscares.
As nomeadas:
As candidatas à vitória:
A par do seu parceiro de cena, Ke Huy Quan, Michelle Yeoh é a grande favorita a uma vitória histórica - seria a primeira atriz asiática a levar a estatueta para casa.
Não há maior representante do que é o carinho e a força que a indústria deu a "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" do que Yeoh, uma veterana de filmes de ação que, finalmente, tem o seu tempo na ribalta. Para ajudar as suas probabilidades, conta com uma vitória previsível nos SAG e nos Spirit, onde fez discursos muito emotivos.
Cate Blanchett surge como uma possibilidade que não pode ser descartada, graças à sua vitória nos BAFTA e à valorização que teve nas galas dos críticos de Cinema.
No entanto, entre dar o terceiro Óscar a Blanchett por um papel que não supera os melhores da sua carreira, ou premiar pela primeira vez Michelle Yeoh numa das melhores interpretações dos últimos anos, a Academia deverá optar pela segunda opção.
Os nomeados:
Os candidatos à vitória:
A categoria de Melhor Atriz é entre uma clara favorita e uma alternativa mais improvável. Não é o caso da categoria de Melhor Ator, que é uma corrida completamente equilibrada a dois.
Austin Butler deixou-se absover no papel de Elvis Presley e recebeu o BAFTA e um Globo de Ouro. Este tipo de interpretação metódica costuma ser bem recebida pela Academia, como serve de exemplo a vitória de Rami Malek no papel de Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody", nos Óscares de 2019.
Do outro lado está Brenan Fraser, que também venceu um Globo de Ouro e levou para casa o prémio nos SAG - o que poderá ser mais significativo. O papel de Fraser tem um carga dramática considerável e tem também um enorme peso em termos de próteses e maquilhagem. É, igualmente, um tipo de papel que costuma ser valorizado nos Óscares.
Brendan Fraser pode, contudo, ter uma última carta na manga: Tal como Michelle Yeoh e Ke Huy Quang, a carreira de Fraser está a ter uma nova vida, depois de anos afastados da ribalta. O apreço pelo caráter do ator norte-americano pode dar-lhe a vantagem decisiva na disputa contra Austin Butler.
Os nomeados:
O único verdadeiro sinal de disrupção deste favoritismo só se verificou nos BAFTA, em que o vencedor desta categoria foi "A Oeste Nada de Novo".
De resto, as galas de prémios têm sido sempre um espaço de celebração de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo". O filme da dupla Daniels recebeu o principal prémio das guildas dos produtores, realizadores, atores e escritores norte-americanos. É apenas o quinto filme a conseguir este feito. Os restantes foram "Beleza Americana" (1999), "Este País Não É para Velhos" (2007), "Quem Quer Ser Milionário" (2008) e "Argo" (2012) - todos estes filmes ganharam o grande prémio dos Óscares.
A história não acaba aqui. Segundo contas da "IGN", "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" é o filme mais premiado de sempre, batendo um recorde que era detido por "Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei" (2003). O filme de Peter Jackson tinha 101 vitórias, enquanto "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" já conta com 158 prémios, e ainda faltam os Óscares. É importante referir, porém, que nem todos os prémios da atualidade existiam há 20 anos.
O filme estreou internacionalmente há exatamente um ano. Em Portugal, estreou a 7 de abril de 2022, numa altura pouco comum para quem quer dominar as narrativas à volta da época de prémios. "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" conseguiu marcar os críticos, os espectadores e a indústria de tal forma que ninguém se esqueceu desta obra, apresentando-se, a poucos dias dos Óscares, como o único favorito lógico.
O filme de João Gonzalez está também na corrida pa(...)