Análise

Villas-Boas. Romper com o passado, olhar o futuro

03 mai, 2024 - 14:05

O treinador e comentador Afonso Cabral analisa o futuro do FC Porto com André Villas-Boas, o novo presidente. Que tipo de treinador quererá? E o tom da comunicação, qual será?

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A estrondosa vitória de Villas-Boas nas eleições do FC Porto marca o virar de uma página vincada ao longo de 42 anos na história do futebol português. Pinto da Costa sai, sem a pompa e circunstância que talvez esperasse, e dá lugar a um dos treinadores que durante o seu legado abrilhantou o palmarés portista com a conquista, entre outros títulos, da Liga Europa.

Numa campanha eleitoral difamatória, em que se ultrapassaram os limites da sensatez mais vezes que o expectável, tudo foi sarado com um abraço no jogo de voleibol feminino entre os dois candidatos. Findo o jogo político, a normalidade instaurou-se e agora é tempo de apontar agulhas para o futuro.

Para Villas-Boas não fará sentido outra coisa que não romper com o passado. Pelo que prometeu aos sócios, mas sobretudo pela necessidade de devolver ao FC Porto a estabilidade financeira, comercial e desportiva que lhe é merecida.

Zubizarreta pode ser um primeiro passo nesse sentido. O espanhol, pouco habituado às intrigas do nosso futebol, pode revelar-se importante para os primeiros passos do novo presidente do FC Porto. E também no banco. Até agora foram apontados Gian Piero Gasperini e Ernesto Valverde. Ambos sem história e ligação a clubes portugueses.

Estilos diferentes, sobretudo na forma de defender, mas uma única missão: dominar o adversário. E essa é talvez a principal mensagem que o novo presidente do FC Porto queira passar: dominância. Porque a história recente do clube da invicta fez-se de grandes treinadores, grandes jogadores e grandes equipas, capazes de vergar o mais feroz dos adversários, mesmo nas provas europeias.

O perfil traçado neste momento parece bem claro: treinadores estrangeiros com tarimba de grandes clubes, com um futebol virado para o ataque e que tragam ideias novas ao futebol português. A exceção, lanço eu, dá pelo nome de José Mourinho. Voltar a uma casa em que já venceu, num contexto absolutamente diferente, podia também ser uma forma especial de voltar ao ativo.

A escolha do treinador será determinante na missão de André Villas-Boas em devolver os títulos ao futebol do FC Porto. Há que aproximar o clube do presente e a introdução de uma equipa feminina (e quiçá de sub-23) pode ser uma das formas importantes de o fazer.

Quanto à gestão, ou redefine o clube à sua imagem, sobretudo a nível comunicacional, como fez Frederico Varandas no Sporting, rejeitando o passado de Bruno de Carvalho, ou segue uma continuidade face à anterior administração, como fez Rui Costa no Benfica após suceder a Luís Filipe Vieira.

Para já os sinais apontam para ruptura com o passado, com os despedimentos de Francisco J. Marques, Luís Gonçalves e a cada vez menos provável continuidade de Sérgio Conceição, três dos agentes com voz mais ativa nos últimos anos da presidência de Pinto da Costa.

Porque nem só o Porto precisa de estabilidade, mas também o futebol português.

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