28 mai, 2024 - 00:30 • Susana Madureira Martins
"O PSD sempre que governou em Portugal governou para a minoria". Pedro Nuno Santos ensaiou assim em Almada, no distrito de Setúbal, na única ação em que apareceu no primeiro dia oficial de campanha para as europeias, a estratégia de distinção entre a direita, representada pelo Governo AD, e os socialistas.
Num discurso profundamente ideológico, que já tinha sido a marca das intervenções na campanha das legislativas, em março, o líder do PS desfiou as diferenças entre esquerda e direita, entre a AD e o PS.
Acusando o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de "governar para a minoria", Pedro Nuno Santos defendeu a herança de António Costa e dos anteriores governos socialistas: "Nós não governamos para a minoria, governamos para a grande maioria do povo".
Governar para a "minoria" é, por exemplo, segundo o líder socialista, aprovar em Conselho de Ministros "uma nova redução fiscal" de 348 milhões de euros. Mas, ressalva o líder socialista, "mais de metade" eram dirigidos aos "10% que mais ganham em Portugal.
É daí que surge a conclusão de Pedro Nuno Santos: "A AD nunca nos enganou, eles querem o voto do povo, da maioria do povo para governarem para a minoria". Deste "nós" e "eles" resulta, para o líder socialista, que "a direita sempre que governou em Portugal governou para a minoria".
Em Almada, houve ainda tempo para ironizar sobre a iniciativa política do Governo das últimas semanas. Pedro Nuno nota que são convocados "vários" Conselhos de Ministros por semana. "Nunca sabemos se de manhã se à tarde, se é na segunda-feira, se na quarta-feira", acusa o líder socialista.
"Normalmente, fazem Conselhos de Ministros para apresentarem medidas, ora quando são criticados por não estarem a controlar a agenda e por estarem a ser ultrapassados pelos partidos da oposição, ora quando sai uma sondagem que não lhes é agradável sai mais um Conselho de Ministros. Ou quando o cabeça de lista da AD às europeias tem uma má performance nas televisões, sai um Conselho de Ministros", desfia ainda o líder do PS.
Tudo isto para concluir que, "na realidade, o que nós temos não é um Governo a governar, temos um Governo em campanha permanente, sem estratégia, sem visão". A estratégia para a economia, por exemplo. Pedro Nuno regista que o "atual primeiro-ministro, até agora, não disse o que quer para a economia portuguesa", lançando a farpa: "Sabemos que não querem baixar o IRC e pára aí".
Numa altura em que se disputam as europeias "não podemos fugir desse debate", avisa Pedro Nuno, que elogia toda a herança socialista: "Não há um Governo do PSD que se aproxima de um Governo do PS nesta matéria", acusando ainda "toda a direita" de ter "preconceito com o Estado".
Para a corrida às europeias, Pedro Nuno Santos lança a discussão: "Queremos Estado industrial para lá do Estado social, lembrando que o país se tornou "dependente" dos semi-condutores. "Também queremos ser campeões", afirma o líder do PS, que quer a União Europeia a discutir "política industrial", porque não quer que "os campeões europeus se limitem à Alemanha".
Pedro Nuno Santos quer mesmo "rever" as regras orçamentais da UE para que "não sejam os países mais ricos a terem essa produção" industrial . "Temos reservas de lítio que são das maiores na Europa", reforça o dirigente do PS.
No fundo, conclui o líder socialista, "são duas visões da sociedade", uma do centro-direita e outra socialista, "duas formas diferentes de olhar para os europeus".
Antes, em Almada, tinha falado Marta Temido, que o líder socialista classificou como a "a maior e a mais alta das candidatas", provocando risos na sala da Incrível Almadense. Puxando pela sua cabeça de lista às europeias, Pedro Nuno elogiou a ex-ministra da Saúde que "tem representado tão bem" o partido.
Pedro Nuno referiu Temido como "muito boa e temível em campanha", sendo esse "fruto do trabalho dela em contexto difícil", lembrando os tempos do combate à pandemia: "Foi testada como poucos foram testados", atirou o líder socialista.
Ao contrário de todos os outros candidatos a estas europeias, Pedro Nuno Santos nota que Temido "é alguém que conhece a UE como mais nenhum candidato sabe e mais nenhum candidato sabe o que é um Conselho de Ministros".
Na intervenção em Almada, a ex-ministra da Saúde definiu a habitação, a juventude e o emprego como prioridades no debate europeu, ao contrário da direita que, "pelos vistos, prefere gastar dinheiro em muros de ódio". A cabeça de lista diz que "não é aí" que os socialistas querem "gastar o dinheiro europeu".
"Acho que sim, acho que as pessoas nos têm recebido com muito carinho, com interesse". Depois de cinco arruadas no distrito de Setúbal, Marta Temido assumiu, esta segunda-feira, que está cansada. "Estou como estamos todos, mas tem de ser", disse a candidata aos jornalistas em plena Praça do Bocage, em Setúbal-cidade.
Europeias 2024
Socialistas arrancam campanha esta segunda-feira, (...)
Numa segunda-feira frenética, com oito ações de campanha, a cabeça de lista do PS às eleições europeias testa a sua própria popularidade na rua. "Naturalmente, também há uma ou outra reação que nós não podemos deixar de ouvir e também há, por vezes, uma reação ainda de insatisfação, de necessidade de maior esclarecimento", admite Temido.
Foi exatamente o que aconteceu nos minutos a seguir a esta conversa com os jornalistas. Uma setubalense de gema abordou Marta Temido para lhe dizer que está desempregada, não tem casa, alega que o tribunal lhe tirou a filha, que está numa instituição.
"Os portugueses aqui não têm nada, você quer uma casa e temos dez brasileiros a alugar um apartamento de mil euros a dar 100 euros", atira a senhora a Temido.
A cabeça de lista do PS foi ouvindo, acompanhada da número três da lista de candidatos, Ana Catarina Mendes, e a setubalense a queixar-se dos políticos, que "são todos interesseiros, são todos hipócritas, são todos uns cínicos".
"Por que ninguém ouve ninguém?", questionou ainda a mulher ao que Temido foi dizendo que "estamos cá para ouvir", sendo depois salva por dois elementos da caravana socialista que prometeram ajudar esta senhora, levando-a para fora de cena.
A candidata do PS assume que a "democracia é isto, a campanha eleitoral é isto, é esclarecermos, ouvirmos, debatermos". Com uma pré-campanha em cima e ao primeiro dia oficial da caravana socialista, Temido já sabe que tem de ouvir "umas coisas mais simpáticas, outras menos".