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Entrevista à Renascença

​"Com total abertura de espírito", Medina admite alterações da oposição ao Orçamento

14 abr, 2022 - 07:01 • Sandra Afonso , Susana Madureira Martins

Ministro das Finanças abre a porta ao diálogo com a oposição, incluindo com os antigos parceiros de esquerda, mas ainda sem reuniões marcadas, e afasta a ideia de a pasta das finanças ter sido um prémio de compensação depois da derrota nas autárquicas em Lisboa: "naturalmente que não", garante.

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Cativações, aumentos de pensões, TAP e Novo Banco. O essencial da entrevista de Fernando Medina
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Em entrevista à Renascença, Fernando Medina garante que quer "manter um diálogo muito estreito" com os sindicatos e garante que leu "com atenção e respeito" o texto onde o ex-Presidente da República Cavaco Silva o acusa de ter uma "coragem média".

Este é um governo com maioria absoluta, o Primeiro-Ministro tem insistido que será uma maioria de diálogo. Há abertura para negociar com a oposição na especialidade? Admite incluir propostas da oposição nesta proposta de Orçamento do Estado?

Admito, sim. Admito incluir todas as que sejam boas propostas, boas ideias, bons contributos, no respeito do que são as linhas de fundo do Orçamento de Estado, não desvirtuando o que é o fundamental do Orçamento do Estado. Aproveitaremos toda a inteligência e criatividade que houver na formulação de propostas políticas e faremos isso com total abertura de espírito.

Com os partidos de esquerda, habituais parceiros noutros tempos do governo do Partido Socialista?

Sim, naturalmente. Também. No respeito do que são as linhas deste Orçamento de Estado, que tem, aliás, várias características particulares diferentes. Porventura, nunca deve ter havido um Orçamento de Estado tão legitimado do ponto de vista popular como este, relativamente a muitas opções. Foi alvo fundamental do debate da campanha eleitoral, que deu a maioria absoluta ao Partido Socialista.

O Governo vai promover reuniões com esses partidos laterais?

Não, não está neste momento previsto. Nós tivemos um sentido de urgência muito grande em apresentar este orçamento, para podermos pôr as medidas em vigor, quer relativamente aos preços dos combustíveis, relativamente às pensões, relativamente aos apoios à família.

Temos aqui uma ambição de rapidamente pôr o país a funcionar, devolver normalidade à administração, à vida das pessoas, poder pagar aquilo que podemos pagar, poder apoiar as empresas que podemos, pôr as medidas de mitigação dos preços dos combustíveis muito rapidamente. Por isso, não houve nenhum diálogo prévio sobre a apresentação do Orçamento.

O Parlamento agora tem o seu procedimento. Haverá tempo para o debate, para o aparecimento de propostas, e nós avaliaremos as propostas que surgirem com total abertura de espírito.

Tem sido criticado por lhe faltar caminho na área das Finanças. Palavras de Miranda Sarmento, por exemplo, ministro sombra das finanças do PSD. Como responde?

Não respondo. Cada um traz para cada função o seu trajeto, a sua experiência, a sua forma de ver. Tenho uma característica que me diferencia: por todos os locais públicos deixei sempre obra, deixei resultados. O facto de ter uma experiência grande em lugares de natureza pública deram-me também um conhecimento muito grande do país e creio que é bom para um ministro das Finanças, sempre que olha para um número, sempre que olha para uma decisão importante, que conheça a realidade sobre aquilo que está a decidir.

Isso infelizmente não aconteceu a alguns ministros das Finanças que, sendo grandes académicos ou aparentes grandes especialistas, faltou-lhes o mundo, faltou-lhes o conhecimento do país, para poderem ter terminado como bons ministros das Finanças.

E como é que viu aquele texto do ex-presidente da República, Cavaco Silva, que o descreveu como tendo uma "coragem média"?

Li com atenção o texto do professor Cavaco Silva.

Com atenção e mais alguma coisa?... Com interpretação?

Com atenção e respeito, como leio os textos do ex-Presidente Cavaco Silva.

Cativações? "Não abdicarei de nenhum instrumento", avisa Fernando Medina
Cativações? "Não abdicarei de nenhum instrumento", avisa Fernando Medina

Acha que o ministro das Finanças perdeu peso político neste Governo, por causa da orgânica e da hierarquia em que surge na estrutura do Governo?

Não, de forma alguma. O ministro das Finanças tem o papel, tem as competências que tinha no passado, tem as funções que tinha no passado e que continuará a ter. É uma função com centralidade ao nível da ação governativa.

O papel do ministro das Finanças não mudou relativamente neste Governo, face a outros governos, e por isso esse debate que foi tido sobre o número é algo que não tem nenhum significado no funcionamento quotidiano do governo.

Perdeu a Câmara de Lisboa para o Carlos Moedas, há uns meses, e é agora Ministro das Finanças. Há males que vêm por bem? As Finanças são uma segunda oportunidade para a sua vida política?

O "mal que vem por bem" é uma palavra sua. Agradeço já o elogio mas ainda tenho pouco tempo como Ministro.

Não foi assim que viu a chamada de Costa depois da derrota eleitoral, e logo para a pasta das Finanças? Foi um prémio de compensação?

Naturalmente que não, não é assim que o Primeiro-Ministro organiza o seu Governo, organiza com as pessoas que ele acha em cada momento que podem corresponder melhor às necessidades. Creio que o perfil que trago a esta função é um perfil de alguém com uma experiência política significativa, para um lugar que é eminentemente político, no sentido que interfere com as escolhas que se fazem em múltiplos setores.

Tenho ouvido, aliás, colegas seus dizerem que isto é tudo muito difícil, que vai ser tudo muito duro, ficou com uma parte ingrata. Contraria essa ideia de prémio.

Os sindicatos já vieram dizer que não ficam agradados com este Orçamento. Está preparado para contestações? Tem respostas para estas pessoas?

Tentaremos nestes momentos, de exigência e de dificuldade, manter um diálogo muito estreito com as estruturas sindicais, com uma grande valorização da concertação social.

Quem desenvolve as políticas por convicção tem sempre uma vantagem, face àqueles que não o fazem dessa maneira. Acredito que desta forma com que encaramos, com seriedade e com atenção, evitar uma espiral de natureza inflacionista interna no nosso país, é aquela que melhor protege os rendimentos de todos. E fazemo-lo por convicção.

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