16 jan, 2022 - 18:05 • Joana Gonçalves
Pouco mais de um mês após a assinatura do decreto que dissolveu a Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas para dia 30 de janeiro, "muito pouca coisa mudou", com exceção de uma "surpresa".
A 5 de dezembro, data do anúncio do Presidente da República, o PS somava, de acordo com a estimativa da sondagem das sondagens da Renascença, 39% das intenções de voto e o PSD 28%. Este domingo, no dia de arranque da campanha, o partido liderado por António Costa mantém os 38% e os sociais-democratas fixam-se nos 29,6%, uma subida de quase 2 pontos percentuais.
Apesar do aumento, Luís Aguiar-Conraria, professor da escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, adianta que a tendência de crescimento parece ter "estabilizado nas últimas semanas e não há uma dinâmica que nos permita dizer que [o PSD] vai continuar a subir até dia 30".
O investigador, que colaborou com a Renascença na produção da Sondagem das Sondagens, adianta que a principal mudança diz respeito ao Livre. "Penso que por efeito dos debates, o Livre está, de novo, no radar e com uma votação mais relevante do que a que teve nas últimas eleições, a aproximar-se até do CDS-PP", defende.
No início de dezembro, o partido liderado por Rui Tavares ficou de fora da maioria das sondagens e somava 0,24% das intenções de voto no agregador da Renascença. Concluídos os debates, o Livro está agora com 1,36%, o que representa uma diferença de apenas 0,1% face ao partido de Francisco Rodrigues dos Santos.
Se, por um lado, o efeito positivo da prestação de Rui Tavares nos frente-a-frente parece ser consensual, há ainda um outro fator que pode explicar esta subida. "O eleitorado à esquerda do PS, que nas últimas legislativas votou no BE ou CDU, mas que quer que o PS governe, neste momento não tem grandes alternativas, a não ser o Livre e o PAN. Ora, o PAN já se assumiu como um partido que está entre o PS e o PSD, portanto a esse eleitorado o que lhe resta é votar no Livre", explica o investigador.
Quanto aos dois principais partidos, "quaisquer variações visíveis já estavam incorporadas nas margens de erro e pode ser simplesmente mero ruído das sondagens que limpamos com este filtro [da sondagem das sondagens]". Importa referir que o debate entre Rui Rio e António Costa ainda está "quase totalmente" por refletir nas sondagens. Apenas uma delas realizou trabalho de campo no dia seguinte ao debate.
"A haver algum efeito do debate Rio-Costa, ainda está por apurar", salienta.
Neste momento, com base nas sondagens, "não é, de forma alguma, claro qual será o partido que ficará em terceiro lugar". A luta parece ser entre Chega (7,4%) e Bloco de Esquerda (6,9%), com o partido de André Ventura a segurar a posição ao dia de hoje. Mas Conraria alerta para a importância da CDU.
"Muitas vezes, ela [CDU] é subestimada nas sondagens. Não tanto no sentido de estarem erradas em relação à coligação, mas no sentido em que a CDU tipicamente está na margem superior da sondagem. Portanto, quando falamos de uma intenção de voto de 5,1% é perfeitamente possível que seja 6%", esclarece.
A cinco de janeiro o BE superava o Chega, por 0,62%. Este domingo a posição inverteu-se e o Chega supera em extamente o mesmo valor o partido de Catarina Martins.
Há, porém, um fenómeno que merece atenção e que pode determinar o resultado final. "É um fenómeno que acontece noutros países, onde os eleitores têm vergonha de dizer que votam em partidos populistas. Portanto, nas sondagens estes partidos são muitas vezes subestimados", alerta Luís Aguiar Conraria.
Na prática, a confirmar-se este efeito, "é possível que o Chega esteja mais próximo dos 10%". Por enquanto, são mera suposições, "não conseguimos saber se o efeito existe ou não, até ao dias das eleições".