19 jan, 2024 - 19:21 • Diogo Camilo
O ano de 2024 tem pouco mais de duas semanas, e já tem dois recordes negativos. O número de dias em que morreram mais pessoas do que seria esperado - o chamado excesso de mortalidade - é maior do que em todo o ano de 2023 e, quando se olha para o número de mortos, também há mais óbitos em excesso do que no ano anterior (1.858 contra 1.400). Além disso, até à data, em todos os dias de 2024 houve excesso de mortalidade.
Nos primeiros 18 dias de janeiro morreram mais de 8.600 pessoas, mais 1.858 do que o esperado, a um ritmo sempre superior a 400 óbitos por dia.
De acordo com números do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), Portugal está desde o Natal com número de mortes acima do esperado: são 26 dias consecutivos, no qual morreram 12.421 pessoas, mais 2.679 que em anos anteriores.
Nos últimos 30 dias foi registado um excesso de mortalidade superior a 2.800 mortes, tal como o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) estimou ao Expresso.
Este pico de mortalidade em excesso já tinha sido registado na última semana de 2023. Entre o Natal e o fim do ano foram contabilizadas quase 3.800 mortes, 821 acima do esperado em relação à média de anos anteriores.
O ano de 2024 começou com números ainda mais altos: nos quatro primeiros dias foram registados mais de 500 óbitos diários, com o pior registo a 2 de janeiro - 551 mortes. Para encontrar um dia com tantas mortes em Portugal é preciso recuar ao último grande pico da Covid-19, em fevereiro de 2021.
Regressando a janeiro, na primeira semana do mês foram registados mais de 3.500 óbitos e mais de 940 mortes acima do esperado em relação a anos anteriores.
A semana seguinte manteve a mortalidade alta, com cerca de 3.200 mortes e mais de 600 mortes em excesso. E nos últimos quatro dias, entre 15 a 18 de janeiro, foram registadas 300 mortes acima do esperado.
Assim, todos os dias de 2024 tiveram excesso de mortalidade. Já o ano de 2023 teve 17 dias com mortes acima do esperado, tendo-se registado, ao longo de todo o ano, 1.400 óbitos em excesso. A 12 de janeiro deste ano, 2024 já registava um número maior: nos últimos 18 dias foram contadas 1.858 mortes acima do esperado, mais do que em todo o ano passado.
Em comparação com os mesmos dias de 2023, em que morreram cerca de sete mil pessoas nos primeiros 18 dias do mês, foram registadas mais 1.600 mortes.
Olhando ao detalhe para as faixas etárias dos óbitos registados, observamos que, das mais de 8.600 mortes, quase metade tinha mais de 85 anos - cerca de 4.100 (47,7%).
São mais mil mortes registadas em relação ao ano passado, para um aumento de quase 30%. A subida na mortalidade é transversal a todas as faixas etárias, mas mais notória nos maiores de 85 anos, na de 75 a 84 anos (aumento de 24% na mortalidade) e na de 55 a 64 anos (subida também de 24%).
Ao mesmo tempo, das mortes registadas este ano, pouco mais de mil (11,7%) pertenciam à faixa etária dos menos de 65 anos.
Das mais de 1.800 mortes em excesso de 2024, a estimativa do SICO atribui 28 mortes acima do esperado para a faixa etária abaixo dos 70 anos e revela ainda um saldo natural negativo nos primeiros 18 dias de janeiro, ou seja, morreram menos 153 pessoas que a média de outros anos neste período.
São 19 dias consecutivos com mortalidade acima do (...)
Com a alta mortalidade registada nas últimas quatro semanas, Portugal é o país da União Europeia que apresenta maior número de óbitos em excesso, em relação à sua população, nas últimas três semanas.
Segundo a EuroMOMO, plataforma do instituto dinamarquês de prevenção de doenças contagiosas Statens Serum Institut, que recolhe dados sobre mortalidade a nível europeu, Portugal apresentou “alto excesso” de mortalidade na última semana e “muito alto excesso” de mortalidade na última semana de dezembro do ano passado e na primeira semana de janeiro deste ano.
O Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe e Outros Vírus Respiratórios, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), revelou “atividade gripal com tendência decrescente” no último boletim, com dados até 14 de janeiro, com o número de casos do vírus da gripe A a caírem em janeiro, assim como os internamentos por gripe em unidades de cuidados intensivos e em enfermaria.
Na passada semana, a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, tinha avisado que o excesso de mortalidade iria continuar nas faixa etárias a partir dos 45 anos devido à grande atividade gripal. "É previsível que esta semana ainda não tenhamos a descida de que estamos à espera e iremos manter um excesso de mortalidade nos 65 mais e também nos 45-64 anos", afirmou, na altura, em entrevista ao programa da Renascença Hora da Verdade.