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Saúde Mental no Ensino Superior

Ensino Superior. 15% das universidades não tem serviço de Saúde Mental

24 out, 2023 - 07:00 • Beatriz Pereira

No dia em que é apresentado o Programa para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, são revelados os resultados de um levantamento de todos os serviços atualmente em funcionamento nas instituições de Ensino Superior públicas e privadas. Uma das conclusões é presença de um número relevante de pessoas sem formação adequada que fornecem apoio aos estudantes.

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A insuficiência de recursos humanos e a ausência de financiamento são a principais dificuldades sentidas pelos serviços de saúde mental nas universidades, conclui um estudo levado a cabo pela comissão técnica nomeada pelo Governo para a criação de um plano de saúde mental no Ensino Superior.

Das 95 instituições contactadas, 81, com 88 serviços, responderam ao pedido da comissão e concluiu-se que 74% das universidades tem um ou mais serviços de saúde mental e bem-estar formalmente criados, mas 15% não tem qualquer resposta nesta área, seja por razões económicas (50%), seja pela falta de espaço adequado (14%).

Segundo o estudo, “o contexto socioeconómico desfavorável, bem como as implicações da pandemia COVID-19 podem ter impulsionado a criação de serviços/estruturas dedicadas a saúde mental e ao bem-estar, em particular o pico que se verifica em 2022".

O primeiro serviço foi criado em 1972, mas 50% das estruturas surgiram a partir de 2017.

No dia em que é apresentado o Programa para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, são revelados os resultados de um levantamento de todos os serviços atualmente em funcionamento nas instituições de Ensino Superior públicas e privadas.

Em declarações à Renascença, Olga Cunha, psicóloga e presidente da direção da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior (RESAPES), diz que estes dados são o resultado “da importância que atualmente é dada às questões de saúde mental no ensino superior”.

“Nota-se que as instituições de ensino superior estão preocupadas com estas questões e, portanto, acho que a taxa de respostas também veio de acordo com isso”, refere.

“O apoio psicológico não pode ser feito por não psicólogos”

Outra das conclusões do estudo é que dos 505 profissionais de trabalham nos serviços de saúde mental, um número significativo não tem formação adequada para fornecer apoio aos estudantes.

Embora mais de metade (67%) tenha formação em Psicologia, 6,2% tem formação em Medicina (não Psiquiatria), como Medicina veterinária, Medicina geral e Ginecologia e Obstetrícia e 3,6% não tem formação superior. Também 8,2% tem formações fora do ramo da medicina, como Ciências Sociais, Direito, Filosofia, Bioquímica e ainda Engenharia Multimédia, Turismo ou Geografia e Urbanismo.

Para Olga Cunha, representante da RESAPES, esta é uma preocupação. “Preocupa-me bastante que ainda haja um conjunto grande de pessoas que não têm esse conhecimento ou essa formação a fazerem esse serviço. Até o próprio código ético e deontológico refere a necessidade de se ter formação na área”, alerta.

“Há todo um conjunto de coisas que são feitas na intervenção destes serviços de apoio psicológico aos estudantes de ensino superior que tem de ser necessariamente feito por psicólogos, psiquiatras, ou pessoas que tenham a formação de saúde mental deste tipo de apoio”.

No entanto, a psicóloga destaca a importância de “não apontar o dedo e tirar ilações”, dando o caso do apoio não direto, de “pessoas que dão apoio administrativo no contacto e na gestão dos atendimentos”, que “são importantes como ponto de ligação nas instituições de ensino superior”.

Alunos são quem mais procuram para aconselhamento psicológico individual

“No que diz respeito ao tipo de pessoas que recorrem aos Serviços de Saúde Mental e Bem-Estar, verificou-se que são na sua maioria estudantes (92%), com especial destaque para os alunos de primeiro ciclo (27%)”, pode ler-se no programa. Há, no entanto, pelo menos 3% de funcionários não docentes e 4% de pessoas fora do âmbito académico que procura ajuda nestes serviços.

Sobre o tempo despendido pelas estruturas nas diferentes áreas de intervenção, quase metade do tempo (41%) é dedicado a intervenções em perturbações mentais comuns e 32% para dedicado a atividades de prevenção da doença mental, promoção da saúde e bem-estar.

Já a psicoterapia e o aconselhamento psicológico individual (15%) são as principais atividades desenvolvidas nos gabinetes de apoio, estando as intervenções psicoterapêuticas em grupo com uma percentagem inferior (4%).

Olga Cunha aponta que são dados positivos. “Há serviços que já existem há bastantes anos e que têm uma diversidade de oferta de boas práticas, de programas de não só na área da prevenção e promoção, como na área do acompanhamento individualizado, grupos terapêuticos”.

“Acho que é positiva a necessidade que as instituições referem da articulação que é necessária com outros serviços, nomeadamente o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, diz.

Ao mesmo tempo que os alunos fazem queixas da falta de psicólogos no ensino superior, justificados pela muita procura que acentua as filas de espera, os resultados mostram uma tendência diferente: mais de metade dos serviços de saúde mental não tem ninguém a aguardar atendimento, embora 16% tenham mais de 30 pessoas em espera. Só em maio deste ano, 763 pessoas estiveram a aguardar apoio psicológico.

Para a presidente da RESAPES, os números podem refletir a altura do ano em que o levantamento foi feito. “Houve uma determinada altura do ano em que houve um aumento da lista de espera e que depois os próprios serviços procuraram colmatar e tentar reduzir”, revela.

“A questão das listas de espera também acaba por ser um número muito dinâmico” e o que “pode acontecer é que na altura em que é foi feito este levantamento, uma boa parte das listas de espera que eram referenciadas, por exemplo, em fevereiro ou março” tenham sido reduzidas pelos serviços que “tenham conseguido dar resposta”.

Esta terça-feira é apresentado o Programa para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, que conta com várias recomendações no âmbito da saúde mental a implementar, “no ínicio de 2024”, avançou à Renascença o Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira.

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