16 jun, 2023 - 00:00 • Diogo Camilo
Pelo quarto ano consecutivo não há nenhuma escola pública no “Top 30” do secundário, indica o Ranking das Escolas de 2022, divulgado esta sexta-feira, que tem em conta as notas dos exames nacionais.
Depois de ter sido o líder no ano anterior, o Colégio Nova Encosta, em Paços de Ferreira, sai da tabela principal da Renascença por ter menos de 100 provas. O Grande Colégio Universal, no Porto, ocupa agora a 1.ª posição, subindo 10 lugares em comparação com o ano anterior, depois de ter sido 3.º em 2020 e 2018.
Em mais um ano em que a realização de exames não era obrigatória para a conclusão do ensino secundário, as médias subiram ligeiramente em relação a 2021.
Nos Rankings das Escolas de 2022 voltam as provas do 9.º ano, que não se realizavam desde o ano letivo de 2018/19. E da pior forma: depois de dois anos sem exames, as médias a Português caíram 5 pontos, enquanto as de Matemática caíram 10 pontos.
Olhando para a tabela das melhores escolas do ensino secundário, três colégios saltam à vista por serem os únicos com média acima dos 16 valores.
O Grande Colégio Universal, no Porto, consegue o 1.º lugar com uma média de 16,34, mais 24 centésimas que o líder do ano anterior, seguido do Colégio Efanor, de Matosinhos, e do Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga.
Uma das curiosidades do ranking deste ano é que a única alteração no Top 5 em relação ao ano anterior é mesmo no topo da tabela, já que os colégios entre o 2.º e o 5.º são os mesmos - e pela mesma ordem - do Ranking das Escolas de 2021.
O Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, ocupa o 4.º lugar pelo segundo ano consecutivo, depois de ter liderado os rankings durante cinco anos, enquanto a primeira escola de Lisboa, o Colégio Manuel Bernardes, surge apenas no 6.º lugar.
O ex-número 1, o Colégio Nova Encosta de Paços de Ferreira, não figura na tabela este ano, por ter realizado menos de 100 provas nos oito exames mais realizados (Matemática, Português, Física e Química, Biologia e Geologia, Economia A, Filosofia, Geografia e Inglês).
Com a sua média de 14,9 a estas oito disciplinas, desceria até ao 13.º lugar do ranking principal.
A média de exames subiu uma décima em relação ao ano passado - era de 11,39 em 2021 e é agora de 11,49 -, mantendo a trajetória pré-pandemia e provando que os resultados dos Ranking das Escolas de 2020 não podem ser comparados com os restantes.
Depois de apenas três escolas terem conseguido melhorar a sua média em 2021, em relação ao ano anterior, as variações nos rankings de 2022 foram mais naturais: das 461 escolas que realizaram mais de uma centena de provas (o critério usado pela Renascença), 233 subiram a sua média, enquanto 208 desceram; três escolas conseguiram a proeza de repetir a média que tinham conseguido no ano anterior até à casa das centésimas.
Ao todo, 13 escolas viram a sua média subir mais de um valor em relação ao ano anterior, enquanto 10 baixaram os resultados em mais de um valor.
Com relação causa-efeito ou não, a escola que mais viu subir a sua média é a líder dos Rankings das Escolas deste ano: o Grande Colégio Universal melhorou 1,77 valores em relação ao ano anterior, a maior diferença de todas as escolas, o suficiente para subir 10 lugares até ao cimo da tabela.
A segunda instituição que melhorou mais a média foi a Escola Secundária da Lixa, em Felgueiras: uma subida de 1,35 valores fez com que a escola escalasse 190 lugares, para se tornar uma das 20 melhores escolas públicas do país.
Em termos de posições, a maior subida coube ao Colégio do Castanheiro, nos Açores: na média, o aumento foi “apenas” de pouco mais de um valor, mas a escola privada subiu uns impressionantes 203 lugares.
Do lado contrário está a Escola Secundária António Granjo, em Chaves. Ao baixar a sua média em 1,8 valores de um ano para o outro, caiu 291 posições no ranking geral e está agora fora das 400 melhores secundárias do país: foi a maior queda, tanto em resultado dos exames, quanto na tabela do Ranking das Escolas.
Só como exemplo, olhando para os lugares cimeiros da tabela, seis colégios privados conseguiram ter mais de 15 valores, quando em 2020 foram 35 as instituições de ensino a alcançá-lo e apenas uma em 2019.
Neste Ranking das Escolas 2022, uma coisa uniu as dez melhores escolas nos exames do ensino secundário: o Top 10 é composto pelas únicas instituições que conseguiram média acima de 15 valores.
Em 2019, apenas um colégio o tinha conseguido e em 2021 foram apenas seis as escolas a conseguir este marco. A somar a isto, os três primeiros (Grande Colégio Universal, Colégio Efanor e Colégio D. Diogo de Sousa) conseguiram uma média acima dos 16 valores.
Nestes dez primeiros lugares, outro ponto salta à vista: sete destes colégios estão situados a norte do rio Mondego, com os outros três localizados na cidade de Lisboa.
Nos primeiros 50 lugares do Ranking das Escolas, mais de metade (27) são ocupados por escolas do Norte ou de Coimbra.
A nível de distritos, os três com melhores médias nos exames nacionais do ensino secundário também estão mais a Norte: Porto, Viana do Castelo e Braga lideram com melhores resultados.
No Centro e Alentejo situam-se os três distritos com pior média (Beja, Setúbal e Portalegre), enquanto Lisboa fica a meio da tabela, no 7.º lugar entre os 20 distritos e regiões autónomas.
Entre as 50 melhores escolas do país nos exames nacionais, 38 são privadas e apenas 12 são públicas. Este é um número acima do registado no ano passado: foram 11 as escolas públicas entre as melhores cinquenta em 2021.
As raparigas superam os rapazes em quase todas as disciplinas, com as únicas exceções da Economia A, Geografia e História. Em Matemática, a diferença entre as médias de uns e outros é superior a um valor.
Destaque ainda para uma escola privada que está na cauda do ranking, contrastando com as restantes privadas: o Real Colégio de Portugal é a quarta pior escola do país, com uma média negativa de 8,4.
Pelo quarto ano consecutivo não há nenhuma escola pública entre as primeiras 30 da tabela, mas a melhor de todas conseguiu recuperar dois lugares em relação à líder do ano passado e conquistar o melhor resultado de um liceu nos últimos cinco anos.
A Escola Secundária de Vouzela, no distrito de Viseu, colocou-se em 33.º lugar, com uma média de 13,5 valores nos 126 exames realizados, fazendo do concelho o município com melhores resultados no país.
Até então, o melhor resultado desta escola tinha sido um 40.º lugar em 2018, altura em que foi a quinta melhor escola pública. No ano passado tinha ficado na posição 73.ª, o que implica uma subida de 40 lugares e de 1,23 valores (o 4.º maior aumento de média do país).
Na Escola Secundária de Vouzela, um terço dos alunos beneficia de Ação Social Escolar (ASE), acima da média nacional, um em cada quatro professores não está nos quadros e os pais têm um nível de escolaridade abaixo da média nacional.
A luta para ser a melhor escola pública foi renhida: seguindo os critérios da Renascença, as cinco melhores ficaram separadas por apenas duas décimas e a Escola Secundária Vouzela foi a melhor por apenas sete centésimas de valor.
Atrás ficou a Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, que foi líder das escolas públicas sete vezes desde 2010, mas que pelo terceiro ano consecutivo não alcança esse estatuto. A escola teve 13,42 de média nas 558 provas realizadas, mais de meio valor acima do ano anterior, mas apenas o suficiente para ser a 35.ª melhor no geral.
Abaixo, mas ainda no Top 40, estão duas escolas de Lisboa, separadas uma da outra por apenas seis centésimas: a Escola Secundária do Restelo, com 13,34 valores, é a terceira melhor pública, seguida da Escola Secundária D. Filipa de Lencastre, com 13,28 valores.
A fechar a lista de cinco melhores escolas públicas, outra escola pública habitual nestas lides: a Eça de Queirós, de Póvoa de Varzim, conseguiu 13,21 valores de média, que seria suficiente para ser a melhor no ano de 2021, mas que apenas lhe dá o 41.º lugar geral e o quinto entre públicas no mais recente ranking.
Para a elaboração desta tabela, a Renascença considerou apenas as 461 escolas onde se realizaram mais de 100 exames no conjunto dos oito mais concorridos (Matemática A, Economia A, Português, Biologia e Geologia, Física e Química, Inglês, Filosofia e Geografia), tendo por base dados divulgados pelo Ministério da Educação.
Na tabela dos exames do 9.º ano, que não se realizavam desde o ano letivo de 2018/19, há uma curiosidade. A escola que liderou o ranking do secundário, o Grande Colégio Universal no Porto, preparava-se para ser também a primeira escola no ensino básico, com uma média de 88,2 pontos (ou 4,42 numa escala de 0 a 5), mas fica de fora do Ranking das Escolas da Renascença, que só considera as escolas com 100 ou mais provas realizadas - a escola fez apenas 96.
Se este critério fosse deixado de lado, o colégio conseguiria mesmo arrecadar as melhores notas, quer no exame de Português (com média de 4,26), quer no de Matemática, com média de 4,58.
Assim, outra escola privada do Porto lidera: o Externato das Escravas Sagrado Coração de Jesus conseguiu uma média de 4,33 e superou-se a dois colégios que também marcam presença no ranking do secundário, o D. Diogo de Sousa e o Nossa Senhora do Rosário, de Braga e do Porto, respetivamente.
A primeira presença não-nortenha no ranking do 9.º ano é do Colégio dos Plátanos, em 5.º lugar. A instituição conseguiu uma média de 4,08, num ranking em que apenas os oitos primeiros conseguiram média acima dos 4 valores.
Entre as escolas com mais de 100 provas realizadas, o Externato das Escravas Sagrado Coração de Jesus tem a melhor média a Português e a segunda melhor a Matemática, apenas superado pelo Colégio de Nossa Senhora da Bonança, de Vila Nova de Gaia, que ocupa o 3.º lugar geral.
A melhor escola pública é, no entanto, de Lisboa: a Escola Básica Vasco da Gama, com média de 3,63, ocupa o 27.º lugar no ranking, pior que o melhor lugar de 2019, quando a mesma escola tinha sido 24.ª.
Ao todo, sete das primeiras dez escolas do ensino básico são colégios do distrito do Porto, a que se somam um de Braga e dois de Lisboa. Entre escolas públicas, há maior distribuição: quatro estão em Lisboa, duas em Coimbra e depois uma no Porto, outra em Viseu, outra em Aveiro e ainda uma em Braga.
O número de escolas em que mais de metade dos alunos do 12.º ano recebe o apoio do Estado através da ASE voltou a cair este ano: depois de serem 33 escolas em 2020 e 17 em 2021, são agora quatro as secundárias em que a maioria dos alunos são carenciados.
Em comum entre estas escolas está, curiosamente, o baixo nível de retenção dos alunos (igual ou abaixo dos 7,5%), assim como o baixo nível de escolaridade dos pais, aquém da média nacional.
No Ranking das Escolas, estas quatro escolas de Resende, Paços de Ferreira, Castelo de Paiva e Paredes, ocupam lugares medianos, resultado de médias entre os 10,4 e os 11,7 valores.
Por contraste, 14 escolas que não têm qualquer aluno a beneficiar do subsídio. Duas delas, a Escola Secundária do Monte da Caparica, em Almada, e a Escola Básica e Secundária Joaquim Inácio da Cruz Sobral, em Sobral de Monte Agraço, são as duas que registam maior percentagem de chumbos no país, acima dos 40%.
E se a primeira foi das piores nos exames da secundário, a segunda até se portou relativamente bem, com uma média de 11,5 e o 193.º lugar geral.
O ano de 2022 é, portanto, um ano de consolidação das escolas, provando que o ano letivo de pandemia foi um “ponto fora da curva”.
Este é também um ranking de números redondos: as três melhores escolas destacam-se das demais por terem tido médias acima dos 16 valores; as dez melhores foram as únicas a registarem resultados acima dos 15 valores; e as cinco melhores escolas públicas tiveram médias acima dos 13 valores.
Por comparação com o pré-pandemia, em 2019, os dez melhores colégios ficaram no patamar dos 14 valores.
As escolas públicas também voltaram a superar-se este ano. Foram 63 a ultrapassar a barreira dos 12 valores, números muito acima do que tinha sido conseguido noutros anos: no último ranking foram 58 as escolas a superar esta fasquia, em 2019 tinham sido 14, em 2018 foram oito e em 2017 tinham sido só quatro.
Outro dos marcos é que são cada vez menos as escolas com média negativa nos exames. Entre as 647 escolas portuguesas que realizaram exames do secundário, apenas 51 registaram média abaixo dos 9,5 valores (7,9% das escolas), uma melhoria em relação ao ano passado (quando a percentagem foi superior a 10%).
Em 2021, voltaram a ser mais de 300 as escolas com taxas de conclusão do 12.º ano igual ou superior a 80%. E dez delas tiveram todos os seus alunos do secundário a passar de ano.
Duas destas, a Escola Básica e Secundária Pedro da Fonseca, em Proença-a-Nova, e a Escola Secundária de Alpendurada, em Marco de Canaveses, são das que apresentam maior percentagem de alunos carenciados: aqui, mais de 40% recebe apoio do Estado.